A greve de
professores no campus de Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp) e as ações de um grupo radicalizado de estudantes trouxeram à
luz (e aos ouvidos) um espetáculo de hipocrisias. Na quinta-feira, pela
segunda vez em nove dias, a Polícia Militar teve de entrar na
universidade. Na primeira, para cumprir uma ordem judicial de
reintegração de posse, em companhia da Polícia Federal; depois, para
conter a violência. Nota: há greve de professores em 55 instituições
federais. O campus de Guarulhos, de fato, não oferece condições
adequadas à vida acadêmica. E não é de hoje.
Mas que
fique claro: não mudei de ideia, não! Repudio manifestações violentas,
ocupações e depredação de patrimônio público. Não sou Marilena Chaui.
Não sei voar de vassoura. Reivindicar melhores condições de ensino é até
uma obrigação; fazer da instituição uma praça de guerra é coisa de
vândalos. Se estudante se comporta como bandido, pouco importa se é ou
não. O banditismo não é uma imanência. É bandido quem age como tal.
Estudantes podem e devem lutar para corrigir a herança maldita deixada
por Fernando Haddad nas universidades federais, mas têm de fazê-lo
respeitando os direitos fundamentais de outros estudantes, dos
professores e dos funcionários. Dito isso, adiante.
Na
quinta-feira, a PM interveio na universidade, houve confronto, e alguns
estudantes acabaram detidos na Polícia Federal. Muito bem! Na sexta, a
diretoria da Unifesp informou ao programa “Bom Dia Brasil”, da Globo,
que os policiais agiram por conta própria. Reproduzo o texto:
“A UNIFESP informou que a direção da universidade não chamou a polícia. De acordo com a UNIFESP, um carro passava pela região e foi até lá.”
Ora, quem ouviu ou leu isso ficou com a óbvia impressão de que a PM exorbitou. É mesmo, é? Este blog conseguiu as gravações do Copom (Centro de Operações da Polícia Militar). Ouçam esta primeira. Volto em seguida.
“A UNIFESP informou que a direção da universidade não chamou a polícia. De acordo com a UNIFESP, um carro passava pela região e foi até lá.”
Ora, quem ouviu ou leu isso ficou com a óbvia impressão de que a PM exorbitou. É mesmo, é? Este blog conseguiu as gravações do Copom (Centro de Operações da Polícia Militar). Ouçam esta primeira. Volto em seguida.
Voltei
Muito bem! Quem primeiro faz a solicitação é Lílian, funcionária da Direção Acadêmica do campus. Em seguida, o próprio diretor da área, professor Marcos Cezar Fortes, reforça o pedido. Notem que Lílian informa que a Superintendência da Polícia Federal — subordinada ao Ministério da Justiça, fez um “acordo” com o comandante da PM em Guarulhos para intervir caso os manifestantes optassem pela violência. Como é que essa mesma direção tem, depois, a cara de pau de afirmar que a PM agiu por conta própria?
Muito bem! Quem primeiro faz a solicitação é Lílian, funcionária da Direção Acadêmica do campus. Em seguida, o próprio diretor da área, professor Marcos Cezar Fortes, reforça o pedido. Notem que Lílian informa que a Superintendência da Polícia Federal — subordinada ao Ministério da Justiça, fez um “acordo” com o comandante da PM em Guarulhos para intervir caso os manifestantes optassem pela violência. Como é que essa mesma direção tem, depois, a cara de pau de afirmar que a PM agiu por conta própria?
Entenderam
o busílis? Quando necessário, essa gente faz o certo — que é mesmo
chamar a polícia em casos assim. Com receio, no entanto, da patrulha
esquerdista e doida para jogar o problema no colo de terceiros, nega o
pedido. Ouçam agora uma segunda ligação, com a mesma funcionária (mais
ou menos a partir de metade do arquivo). Retomo depois.
Como vocês ouviram, muito nervosa, ela
acusa a violência dos manifestantes — o que é verdade, dados os atos de
vandalismo — e o que chama de “cárcere privado”. Diz ainda que não basta
uma viatura, mas várias. No terceiro áudio, o Copom reitera aos
policiais, com base nas informações que recebeu, a gravidade da
situação.
Retomando
Vocês entenderam a lógica? A direção da Unifesp chama a Polícia Militar — e fez muito bem! —, mas pretende esconder a autoria do ato porque, afinal, esse negócio de polícia é coisa da direita — daí ter tentado tirar o corpo fora num jornal de TV de âmbito nacional. Mas a hipocrisia não acaba aí, não!
Vocês entenderam a lógica? A direção da Unifesp chama a Polícia Militar — e fez muito bem! —, mas pretende esconder a autoria do ato porque, afinal, esse negócio de polícia é coisa da direita — daí ter tentado tirar o corpo fora num jornal de TV de âmbito nacional. Mas a hipocrisia não acaba aí, não!
Há mais.
Enviam-me uma carta que circula por aí de uma professora de história da
Unifesp chamada Ana Nemi, a que se seguem 11 assinaturas, todas de
docentes. Ela explica por que a polícia foi chamada. Atenção! Os métodos
empregados pelos violentos da Unifesp não são distintos daqueles postos
em prática na USP. Os blogs oficialistas estão reproduzindo a carta da
professora, que apoia, sim, a ação da polícia. São os mesmos blogs que
censuraram severamente a ação da PM na USP. Entenderam o lixo moral do
JEG? Violência contra uma universidade dirigida por petistas é coisa
feia e tem de ser reprimida. Violência contra “tucanos” é coisa boa e
deve ser incentivada. Leiam a carta da professora. Voltarei para
arrematar.
*
Gostaria de me manifestar sobre os episódios recentes no campus Guarulhos, onde funciona a Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da UNIFESP.
Ao contrário do que vem sendo veiculado, o que os alunos faziam ali não era ato político pacífico, eles estavam cassando o direito de ir e vir dos professores e funcionários que eles acuaram na Diretoria Acadêmica gritando “invasão”, “invasão”.
O que a polícia fez foi retirar os alunos de lá para que os professores e funcionários ali acuados pudessem retornar do trabalho para suas casas. Quando a polícia chegou eles já haviam vandalizado o prédio quebrando vidros e pichando as paredes que estavam sendo recuperadas dos atos de vandalismos cometidos por eles durante os dias em que ocuparam o campus na semana anterior.
Sendo assim, gostaria de afirmar que também fiz movimento estudantil, também defendi a democracia no exato início dos anos 80 quando, em meio ao apagar das luzes da ditadura e o retorno dos exilados, lembrávamos que Edson Luís morreu para que pudéssemos falar e não para que estudantes das décadas seguintes impedissem colegas, professores e funcionários de uma instituição pública de se manifestarem e de darem aulas.
A polícia não foi chamada para impedir movimento político pacífico, ela foi chamada porque alguns alunos acuaram pessoas da comunidade acadêmica e optaram por tratar questões universitárias, por mais complexas e controversas que sejam, por meio da violência. Exatamente ao contrário do que vem sendo divulgado. A polícia foi chamada, repito, porque esses alunos não respeitam a democracia, a diversidade intelectual, cultural, social e política.
E que não se afirme que o que ocorreu na EFLCH/UNIFESP é precedente para que a polícia ocupe espaços universitários ou que estaríamos importando tecnologia da USP, conforme poucos colegas apressados e desinformados disseram. Estamos lidando com a exceção e, em nome dos princípios democráticos que a exceção pretende suspender, não permitiremos que se torne regra. Assim, não estou advogando a presença da polícia no campus e nem considero aceitável ver alunos feridos ou enfrentando policiais armados.
Mas é bom lembrar que foram os alunos que precisaram chamar a polícia há algumas semanas para que um colega deles que defendia outras ideias saísse escoltado do campus em função das agressões que sofria, exatamente do mesmo grupo de grevistas que acuou parte da comunidade acadêmica na quinta-feira, 14 de junho. O recurso à exceção, portanto, tem partido dos alunos devido às atitudes autoritárias do grupo de alunos minoritário que vem sequestrando o espaço público de debates que vínhamos construindo na EFLCH, infelizmente…
Quero, no entanto, e para finalizar, resistir ao uso político e partidário que vem sendo feito dos problemas decorrentes da construção de um campus de universidade pública. Evidentemente não somos favoráveis ao uso da força como argumento político, por isso repudiamos o grupo de alunos que vem nos acuando violentamente e tentando sequestrar o espaço do campus em favor das pautas eleitorais dos seus pequenos partidos, assim como repudiamos a imprensa que os acolhe sem ouvir aos professores que eles perseguem e caluniam.
*
Gostaria de me manifestar sobre os episódios recentes no campus Guarulhos, onde funciona a Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da UNIFESP.
Ao contrário do que vem sendo veiculado, o que os alunos faziam ali não era ato político pacífico, eles estavam cassando o direito de ir e vir dos professores e funcionários que eles acuaram na Diretoria Acadêmica gritando “invasão”, “invasão”.
O que a polícia fez foi retirar os alunos de lá para que os professores e funcionários ali acuados pudessem retornar do trabalho para suas casas. Quando a polícia chegou eles já haviam vandalizado o prédio quebrando vidros e pichando as paredes que estavam sendo recuperadas dos atos de vandalismos cometidos por eles durante os dias em que ocuparam o campus na semana anterior.
Sendo assim, gostaria de afirmar que também fiz movimento estudantil, também defendi a democracia no exato início dos anos 80 quando, em meio ao apagar das luzes da ditadura e o retorno dos exilados, lembrávamos que Edson Luís morreu para que pudéssemos falar e não para que estudantes das décadas seguintes impedissem colegas, professores e funcionários de uma instituição pública de se manifestarem e de darem aulas.
A polícia não foi chamada para impedir movimento político pacífico, ela foi chamada porque alguns alunos acuaram pessoas da comunidade acadêmica e optaram por tratar questões universitárias, por mais complexas e controversas que sejam, por meio da violência. Exatamente ao contrário do que vem sendo divulgado. A polícia foi chamada, repito, porque esses alunos não respeitam a democracia, a diversidade intelectual, cultural, social e política.
E que não se afirme que o que ocorreu na EFLCH/UNIFESP é precedente para que a polícia ocupe espaços universitários ou que estaríamos importando tecnologia da USP, conforme poucos colegas apressados e desinformados disseram. Estamos lidando com a exceção e, em nome dos princípios democráticos que a exceção pretende suspender, não permitiremos que se torne regra. Assim, não estou advogando a presença da polícia no campus e nem considero aceitável ver alunos feridos ou enfrentando policiais armados.
Mas é bom lembrar que foram os alunos que precisaram chamar a polícia há algumas semanas para que um colega deles que defendia outras ideias saísse escoltado do campus em função das agressões que sofria, exatamente do mesmo grupo de grevistas que acuou parte da comunidade acadêmica na quinta-feira, 14 de junho. O recurso à exceção, portanto, tem partido dos alunos devido às atitudes autoritárias do grupo de alunos minoritário que vem sequestrando o espaço público de debates que vínhamos construindo na EFLCH, infelizmente…
Quero, no entanto, e para finalizar, resistir ao uso político e partidário que vem sendo feito dos problemas decorrentes da construção de um campus de universidade pública. Evidentemente não somos favoráveis ao uso da força como argumento político, por isso repudiamos o grupo de alunos que vem nos acuando violentamente e tentando sequestrar o espaço do campus em favor das pautas eleitorais dos seus pequenos partidos, assim como repudiamos a imprensa que os acolhe sem ouvir aos professores que eles perseguem e caluniam.
Voltei
Endosso, obviamente, boa parte do texto da professora Nemi. Lembro que setores da comunidade uspiana foram submetidos a esse mesmo tratamento pela extrema esquerda que invadiu a Reitoria (no caso da Unifesp, não sei quem comanda as ações). Tudo igual, sem tirar nem pôr. A diferença é que os petistas, em seus fóruns de debate, vibravam com aqueles absurdos. Os blogs sujos babavam de satisfação e atacavam — atacam ainda — o reitor João Grandino Rodas!
Endosso, obviamente, boa parte do texto da professora Nemi. Lembro que setores da comunidade uspiana foram submetidos a esse mesmo tratamento pela extrema esquerda que invadiu a Reitoria (no caso da Unifesp, não sei quem comanda as ações). Tudo igual, sem tirar nem pôr. A diferença é que os petistas, em seus fóruns de debate, vibravam com aqueles absurdos. Os blogs sujos babavam de satisfação e atacavam — atacam ainda — o reitor João Grandino Rodas!
Solidarizo-me
com a professora, mas estranho parte do seu texto. Sua síntese do que
se deu na USP é insuficiente. Diria mesmo que é errada. Existirá, por
acaso, alguém favorável a policiais em campi universitários
para reprimir alunos? Acho que não! Na USP, não acontece. O
patrulhamento da PM nas áreas externas das faculdades visa só à
segurança dos estudantes e conta com o apoio da maioria da comunidade
universitária. A polícia é boa quando a gente precisa de… polícia, seja
para combater traficantes e ladrões que invadem o campus, seja para
coibir “sequestradores do espaço público”. É uma gente que não costuma
se deixar convencer por Schopenhauer, sabem? Ademais, fiquei curioso:
quem estaria fazendo “uso político e partidário” da greve? Até agora,
não vi deputados tucanos no campus cantando “Blowin’ in the Wind”…
Aliás, eu sinto é falta dos petistas se solidarizando com os alunos,
como costumam fazer nas, como é mesmo Marilena Chaui?, “universidades
neoliberais” paulistas. Também aguardo ansioso um texto daquele tal
Vladimir Safatle, o Lênin de Catalão. O que está esperando para liderar
um “occupy Unifesp”?
Eu não tenho
um peso e duas medidas. Sou contra esses métodos em qualquer lugar. Mas
e “eles”? Haddad censurou a PM quando, obedecendo a uma determinação
judicial, ela retirou os invasores da USP. Esse mesmo Haddad nomeou a
direção da Unifesp que, está provado, chamou a PM!!! Mais: pertence ao
partido do governo que fez um acordo com o Comando da Polícia Militar de
Guarulhos para, se necessário, intervir no campus da Unifesp.
Em suma, meu
principal problema com os petistas não é achar que seus princípios são
errados, mas repudiar a sua absoluta ausência de princípios. É uma
espécie de banditismo moral a que polícia nenhuma pode dar jeito.
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA
Nenhum comentário:
Postar um comentário