sábado, 12 de maio de 2012

Venda da Delta não condiz com histórico de dignidade do BNDES

Jornal do Brasil estranha e repudia a notícia da venda da Delta, em um momento em que a empreiteira é alvo de investigação por malversação do dinheiro público e envolvimento com a máfia comandada pelo contraventor Carlinhos Cachoeira em Goiás. A opinião pública não pode aceitar este tipo de transação, que arrisca a segurança nacional uma vez que governadores, parlamentares, e também funcionários das áreas de Segurança e Saúde foram flagrados colaborando com um esquema criminoso de proporções nunca antes vistas no país. A transação é ainda mais espantosa na medida em que o último balanço do grupo frigorífico JBS aponta que os seus ganhos com a venda de carne são totalmente desproporcionais ao elevado faturamento verificado no mercado financeiro. Tal negócio mais parece uma queima de arquivo, que não condiz com o histórico de uma instituição exemplar como o BNDES. O banco estatal detém 30% das ações da empresa.
JB fará o que for preciso para tentar impedir esta afronta à população. Prova da legitimidade de nossos atos foi a decisão do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro de abrir inquérito para apurar irregularidades no processo. Conforme afirmou o procurador Nívio de Freitas, "caso se concretize esse negócio, por força de sua participação acionária no grupo JBS, o BNDES, em evidente afronta aos princípios de legalidade e moralidade, irá inexoravelmente participar de empresa sobre a qual recaem notícias de prática de graves ilicitudes e que se sujeita a ser declarada inidônea para contratar com o poder público".
O tema já havia sido abordado pelo Jornal do Brasil, na última quinta quarta-feira (9). Na ocasião, o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Sérgio Lazzarini, autor de  diversos artigos e do livro "Capitalismo de Laços", destacou as relações políticas entre o poder público e o frigorífico. Ele também diz que a insatisfação demonstrada pelo Planalto é apenas uma tentativa de mostrar que Brasília não interferiu na fusão. Atualmente, a presidência do conselho de administração da J&F -  holding que controla a companhia - é ocupada pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.
"É estranho que a JBS, que tem por exemplo, o Henrique Meirelles, e excelente conexão com o planalto, vá fazer algo que desagrade o governo", ponderou.
OAB-RJ: Quem comprou deve conhecer os riscos
O procurador-geral da OAB do Rio de Janeiro, Ronaldo Cramer, acredita que a transação é uma estratégia para tentar desvincular a Delta de seu ex-acionista controlador, Fernando Cavendish, flagrado em várias conversas com Carlinhos Cachoeira. Ele, no entanto, afirma que a troca de poder não basta para a empresa escapar da declaração de inidoneidade.
"Esses processos foram abertos contra a Delta e visam apurar a conduta da empresa, e não apenas de seus acionistas. Quem comprou o controle da Delta deve, decerto, conhecer os riscos dessa operacão e ter concluído que ainda vale a pena investir nessa empresa", avalia. "Nao é demais lembrar que a Delta tem em curso diversos contratos com o Poder Público e, por conseguinte, vários pagamentos ainda serão feitos a ela", acrescenta.
Deputados da CPMI são contra
O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) apresentou – e a Procuradoria-Geral da República endossou – o requerimento para que o Ministério Público de Goiás impeça a venda da Delta para a J&F Participações, holding que controla diversas empresas.
Miro disse que a venda poderá dificultar a recuperação de recursos públicos desviados pelo esquema de corrupção chefiado pelo empresário Carlos Cachoeira. “Ainda há inquéritos em aberto, e não sabemos onde isso pode chegar. É melhor que a Delta responda pelos desvios”, defendeu.
Já o relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG), afirmou que a venda é um negócio privado, que foge ao escopo da CPMI. “Quem comprar a empresa vai ter de responder por esse passivo, não podemos deixar que a operação esconda provas”, disse.
Para o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP), a venda da Delta pode ser uma forma de ocultar pistas. “Nem sequer houve a quebra de sigilo da Delta, pela CPMI ou pela polícia. Ainda não sabemos até onde alcança a corrupção”, disse.
Depósitos suspeitos
No depoimento desta quinta-feira (10) na CPMI, o delegado da Polícia Federal Matheus Mella Rodrigues, responsável pela Operação Monte Carlo, disse que encontrou depósitos da Delta para as empresas de fachada que lavavam o dinheiro obtido pela organização de Carlos Cachoeira.
Para Odair Cunha, não há dúvidas quanto ao envolvimento do braço goiano da empresa com o esquema de Cachoeira. Cunha disse que ficou claro, por exemplo, o envolvimento do ex-diretor da Delta no Centro-Oeste Cláudio Abreu com o esquema.
Convocação 
O líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), apresentou requerimento na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara para convocar o atual presidente da Delta, Carlos Alberto Verdini; um dos controladores da holding J&F, Henrique Meirelles (ex-presidente do Banco Central no Governo Lula); e o atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho, para que eles deem esclarecimentos sobre a possível transação.
O grupo J&F controla a JBS/Friboi, que, de acordo com Rubens Bueno, fez um empréstimo de R$ 10 bilhões junto ao BNDES, dinheiro que pode estar sendo usado na compra da Delta. “A Delta está sub judice, e essa compra pode apagar as digitais dos crimes que possam ter acontecido na empresa, inclusive caixa dois”, destacou.
O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) afirmou que o presidente do BNDES deve ser convocado para dar explicações, já que cerca de 30% do capital da holding J&F é de propriedade do banco.

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