sexta-feira, 4 de maio de 2012

Reportagem põe na boca de Serra o que ele não disse. Ou: A agenda do PT

O meu querido “Estadão”, que me ajudou, JÁ FAZ TANTO TEMPO!!!, a ser um liberal parece que está começando a flertar com o fim da liberdade religiosa. Não nos editoriais, claro! No noticiário. Título de um texto e chamada de primeira página chegam a ser espantosos.
Na capa do jornal, lê-se: “Serra defende igrejas no debate eleitoral”. Errado, mas ainda não absurdo. Este ficou para o título do texto assinado por Bruno Boghossian: “Serra defende atuação de igrejas na campanha”.
Na campanha???
Pois bem. Vamos, então, ler o texto que levou a uma coisa e outra:
Em processo de aproximação com líderes religiosos de São Paulo, o ex-governador José Serra (PSDB) afirmou que a manifestação das igrejas na campanha eleitoral é “legítima”. O pré-candidato tucano à Prefeitura disse que padres e pastores podem defender seus princípios, mas sem praticar uma “militância” formal.
Em entrevista exibida na madrugada de ontem pelo Programa Amaury Jr., da RedeTV!, Serra não citou nenhum tema presente na pauta de grupos religiosos, como aborto e homofobia, mas se disse “inteiramente aberto” a expor e dizer o que pensa.
“(Se) a pessoa tem uma religião e quer discutir princípios, é legítimo que o faça. Não são os candidatos que fazem a agenda. Quem faz a agenda são as pessoas”, disse. “Nós devemos respeitar e dar a elas o direito de se manifestar. Do contrário, seria autoritarismo.”
A entrada de igrejas em campanhas políticas ganhou peso após a eleição presidencial de 2010, quando grupos religiosos passaram a apoiar ou criticar candidatos. O PT acusa a equipe de Serra na época de instigar entre os evangélicos um voto contra Dilma Rousseff, eleita no 2.º turno.
O tucano afirma que sua campanha não desenvolverá “nenhuma batalha específica em relação às igrejas”, mas já começou a se aproximar de grupos católicos, evangélicos e judaicos.
Em conversas recentes com representantes de diferentes religiões, a equipe de Serra confirmou a avaliação de que o tucano tem vantagem sobre seus principais adversários: Fernando Haddad (PT) e Gabriel Chalita (PMDB).
Eles afirmam que Haddad sofre uma “rejeição gigantesca” de pastores evangélicos, sob acusação de ter autorizado a elaboração de um kit didático contra a homofobia para as escolas quando era ministro da Educação.
O time do PSDB acredita ainda que Chalita só deve ter aceitação dentro da ala carismática da Igreja Católica - à qual pertence.
Argumento.
Aos aliados, Serra justifica a abertura à manifestação de líderes religiosos como uma defesa da liberdade de expressão. “É legítimo que diferentes setores da sociedade se manifestem em defesa dos seus valores”, afirmou o ex-governador na entrevista. “Não vejo como questão propriamente de militância eleitoral.”
Os petistas classificam a aproximação entre Serra e as igrejas como “conservadora”, mas também vêm dialogando com padres e pastores.
Um dos responsáveis pela interlocução entre tucanos e grupos religiosos, o deputado Walter Feldman (PSDB-SP) afirma que não tem o objetivo de repetir os temas da eleição de 2010.
“A pior eleição que o Brasil já teve foi a anterior. Os temas foram levados para o campo da emoção e não houve um debate progressista”, disse.
Voltei
1 - Serra disse que padres e pastores podem defender seus pontos de vista, “sem praticar militância formal”.
2 - O tucano disse que é preciso respeitar o ponto de vista dos religiosos —”do contrário, seria autoritarismo”.
3 - Cadê as palavras que autorizam o título do texto e da chamada de primeira página? Trata-se, lamento, de uma tentativa de requentar uma acusação petista, segundo a qual a campanha do tucano insuflou os cristãos contra Dilma em 2010. Isso é apenas falso. E sei que é porque esse é um tema que acompanho de perto. O jornalismo, hoje, só cobre religiões pelo viés negativo. Ter uma crença é considerada coisa pior do que traficar drogas. A mobilização dos cristãos foi espontânea. A acusação de que era tudo coisa de tucano foi feita pela turma da Internet da campanha petista, comandada por aquele cabeludo esquisito, cujo nome esqueci.
4 - Para não “ganhar” esse título e essa chamada, o que tucano deveria ter dito? Deveria ter se manifestado contra o direito de voto aos crentes? Deveria ter atacado a liberdade religiosa? Deveria ter afirmado que é preciso proibir os cristãos de votar e debate?
5 - No caso dos “kits gays”, o que faz lá, Boghossian, aquele “sob acusação”? Por quê? Há alguma dúvida de que Haddad tenha autorizado a confecção do material?
6 - A frase de Walter Feldman, se é aquela, me é incompreensível. Serra está certo: os temas também são dados pelos eleitores. Se eles quiserem, ainda que o PT e a imprensa que lhe dá suporte não queiram, temas relativos a costumes voltarão a ser debatidos.
Mas isso é o de menos. As minhas perguntas técnicas permanecem:
a) Que parte da fala de Serra autoriza os dois títulos?
b) O que ele deveria ter dito para não ser objeto de tamanha distorção?
As palavras fazem sentido. Título de reportagem e chamada de primeira página, até onde a vista alcança, não podem ser pura interpretação.
Como sempre, ouço contra-argumentos com a maior boa-vontade. Desde que centrados no sentido que as palavras têm.
Arremato lembrando que os únicos, até agora, que decidiram discutir religião foram Fernando Haddad, Gabriel Chalita, Rui Falcão… Serra, na referida entrevista, só defendeu a liberdade religiosa. Será que ele deveria ser contra?
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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