O deputado federal Rubens Otoni (PT-PR) é aquele patriota que aparece num vídeo junto com Carlinhos Cachoeira. O bicheiro promete doar mais R$ 100 mil à sua campanha — deixa claro que outro tanto já foi repassado —, mas diz que tem de ser tudo por fora, com o que o interlocutor concorda de pronto. Tão logo o vídeo veio a público, como vocês verão abaixo, Otoni afirmou que se trata de uma armação, embora reconheça sua autenticidade. Entenderam? Vejam ou revejam:
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O mais encantador é ver o deputado a afirmar que era Cachoeira quem precisava de ajuda… A gente vê bem quem está ali numa posição de subserviência. Sigamos.
O mais encantador é ver o deputado a afirmar que era Cachoeira quem precisava de ajuda… A gente vê bem quem está ali numa posição de subserviência. Sigamos.
Petistas e oposicionistas falam agora da necessidade de se fazer uma CPI do Cachoeira. Em tese ao menos, é mesmo necessário. Ocorre que o PT desmoralizou esse instrumento. Transformou as Comissões Parlamentares de Inquérito em picadeiro de defesa de seus criminosos. Ninguém foi mais notável exercendo esse papel do que Ideli Salvatti, a Rainha das Lanchas, na CPI do Mensalão.
Muito bem! Jilmar Tatto é líder do PT na Câmara. No dia 22 do mês passado, escrevi aqui um post sobre suas delicadezas de caráter. No Estadão de hoje, no pé de uma reportagem, eis que o homem comenta o caso do deputado Otoni. E os fez nestes termos:
“Trata-se de filmes de 2004 (quando o petista buscava recursos para a campanha de prefeito de Anápolis). Desde então, ele vem sendo chantageado pelo Cachoeira. E aquilo é um caso de caixa 2, que já prescreveu”.
“Trata-se de filmes de 2004 (quando o petista buscava recursos para a campanha de prefeito de Anápolis). Desde então, ele vem sendo chantageado pelo Cachoeira. E aquilo é um caso de caixa 2, que já prescreveu”.
Entenderam?
Segundo Tatto, como o vídeo é de 2004, então é menos importante. Mais: o petista seria, na verdade, uma pobre vítima. De resto, assegura o líder, é só caixa dois — Otoni, diga-se, contra as evidências do vídeo, nega ter recebido o dinheiro. Afinal, não há registro!
É a mesma alegação que o partido apresenta no caso do mensalão. Ora, ainda que fosse caixa dois, não seria “apenas”. O expediente é usado justamente para usar dinheiro sujo — do jogo, por exemplo — em campanhas eleitorais. É por meio dessa prática que políticos acabam se comportando como meros despachantes de alguns bandidos.
Mas eu entendo a alma desse poeta. Afinal de contas, descobriu-se, em 2005, que nada menos do que o marqueteiro de Lula em 2002, Duda Mendonça, tinha sido pago com… caixa dois! No petismo, esse é o ar que se respira.
O mais curioso — e este é assunto que diz respeito à imprensa — é que uma declaração com esse conteúdo, feita por ninguém menos do que o líder na Câmara do principal partido no governo, seja tratada como questão menor. Imaginem se algum democrata tivesse tentado justificar o comportamento de Demótenes Torres… Teria sido triturado junto com o senador.
Demóstenes está fora do DEM, mas o partido ainda arca com as consequência do que se sabe agora. Otoni continua no PT, e Jilmar Tatto o trata quase como um herói.
Eis um sinal claro de que, caso se instale uma CPI, dada a folgadíssima maioria de que dispõe o governo, ela pode funcionar apenas como mais um instrumento do PT para massacrar a oposição. Já está mais do que evidente que eles decidiram se organizar para defender os seus próprios criminosos. Criminosos? Sim! Do modo como Tatto se expressa, fica parecendo que caixa dois, ainda que fosse só isso, não é crime. E é!
Por Reinaldo AzevedoREV VEJA
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