quarta-feira, 14 de março de 2012

“POR UM MUNDO + DESCENTE” – Haddad cantarola: “Só me falta ficar nu pra chamar sua atenção”. Ou: Vamos disciplinar os “verba dicendi”!!!

É… O pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo concedeu ontem uma entrevista à rádio Jovem Pam e foi ao ponto: conta com a “força da palavra” de Lula. Sem isso, entende-se, ele não tem vida própria. Dá para entender os motivos.
Um trecho de reportagem de hoje do Estadão sobre a entrevista é das coisas mais intrigantes que li nos últimos tempos. Prestem atenção:
“Ele também rechaçou a possibilidade de a senadora Marta Suplicy voltar a ser lançada candidata do partido. Haddad disse que não vê um cenário de retorno de Marta à disputa municipal e que, diferentemente do PSDB, que caminha para abrir mão da prévia em favor do pré-candidato José Serra, o PT levará adiante seu nome como candidato. ‘Não procedemos da mesma forma que o PSDB’, provocou.”
Voltei
Começo com um pedido encarecido aos editores e repórteres. Estudem os “verba dicendi” — os verbos que se referem a atos de comunicação: dizer, falar, anunciar, retrucar etc… Na Internet, acho, não adianta. Se a memória não falha, há um bom capítulo a respeito no livro “Comunicação em Prosa Moderna”, de Otto M. Garcia.
Noto cada vez mais a tentativa de ser criativo no emprego desses verbos. Vejam o caso acima. Haddad não fala, mas “provoca”. Dia desses, quando ele atacou José Serra, alguém usou: “cutuca”. Basta que o sujeito diga uma obviedade qualquer contra o adversário, lá vem um “dispara”. Quando a gente vai ver o que o bruto de fato afirmou, ele não “provocou, cutucou ou disparou”. Só disse uma besteira.
Pronto! Voltemos. Dado que as palavras ainda fazem sentido — apesar do “mundo descente” —, não entendi o que vai em vermelho. O PT já tinha decidido que faria prévias. Havia, além de Marta Suplicy, franca favorita, três outros candidatos. Lula decidiu no dedaço: “É Haddad!” Entrou em ação e roubou toda a base de apoio da senadora, deixando-a sozinha. No PSDB, caso Ricardo Trípoli e José Aníbal não desistam — e eles dizem que não o farão —, haverá prévias. Não existe nenhum coronel na legenda com a força de Lula. O que Haddad terá querido dizer?
Pode pedir que o Haddad promete
Na Folha Online, o petista tenta demonstrar que também tem ideias — além de “provocar” e “cutucar”  Serra. Leiam trecho:
Pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad prometeu nesta quarta-feira (14) acabar com a taxa da inspeção veicular, se eleito. “Vou manter a inspeção, mas sem a taxa, e aumentar a fiscalização aos veículos”, disse em entrevista à radio Bandeirantes. Na entrevista, Haddad destacou ainda os problemas enfrentados no transporte público da cidade. “Sem investimento, a frota de ônibus vai sucateando. E com isso os espaços vão sendo ocupados pelo transporte individual. Depois de oito anos de administração municipal e 20 de governo estadual, com o mesmo grupo, não há um projeto pronto para fazer licitação.”
(…)
Voltei
Podem ir reclamando de qualquer imposto ou taxa, e Haddad prometerá acabar com eles. Vejam que ele é a favor de coisas boas e contra as coisas ruins — o que é, sem dúvida, uma boa plataforma. É claro que, caso a aliança com Gilberto Kassab tivesse dado certo, ele estaria elogiando a atual gestão — ou, ao menos, silenciando a respeito. Como deu errado, ele ataca. No PT, essa coerência é um norte moral!
É o desespero nessa fase sem Lula. Mais um pouco, ele sai de bicicleta por aí cantarolando o rei: “Só me falta ficar nu pra chamar sua atenção”. Por um mundo “+ descente”…
Mas gostei mesmo é do que vai ali em negrito. Notem que o petista deixa claro que a Prefeitura de São Paulo é só um pretexto, só uma etapa de um projeto, que tem como alvo real o Palácio dos Bandeirantes. Essa deveria ser uma acusação a cargo dos adversários de Haddad. Mas ele é, a seu modo sincero…
Exercitando a variedade dos “verba dicendi”, a gente poderia escrever algo mais ou menos assim:
Fernando Haddad deixa claro que a Prefeitura de São Paulo não é o alvo principal do PT, mas apenas uma etapa ou instrumento: “A gente quer mesmo é a cadeira de Alckmin”, confessa.
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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