Não adianta a oposição insistir! Ela não vai conseguir me matar de tédio. Assunto é o que não falta — os temas estão aí, dados pela sociedade. E lamento não haver tempo para cuidar de todos eles.
Assim, a oposição pode continuar nesse seu eloquente mutismo que nós vamos cuidar de outras coisas, certo? Onde anda Sérgio Guerra? Cadê Aécio Neves, que é agora “o homem”?
Eu nunca vi — e ninguém nunca viu porque isso não existe — uma política que se caracteriza pela… negação da política! Naquela que foi, sem dúvida, a pior semana vivida pelo governo Dilma — superando em muito as Tensões Pré-Demissão (TPDs) dos ministros acusados de corrupção —, ficamos todos com a impressão de que este é um país onde só há governo. O outro lado sumiu do noticiário. E não venham dizer que é só má vontade da imprensa. Um partido de oposição tem de render ao menos um lead.
Que nada! Se você quiser encontrar descontentes com o governo, procure-os na base aliada. Há ali peemedebistas em penca que são “um pote até aqui de mágoa”. Mais surpreendente: não são raros os magoados também entre os petistas. O nome de Ideli Slavatti foi parar na boca do sapo. Ontem, num ato de quase desespero, o novo líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), correu para tirar uma foto ao lado de Lula. Afrouxem os cintos, o governo sumiu (às vezes, acho que é melhor sem ele…). Essa algaravia toda, esse ritmo buliçoso no Congresso, esse ranger de dentes nos bastidores… Tudo coisa da base aliada!
Há tempos não se via em Brasília uma patetice como a da Lei Geral da Copa! Quer dizer que o governo não havia definido ainda uma linha de ação em algo tão simples: liberar ou não bebida nos estádios? Isso dá uma medida de como anda o resto. A cúpula do Planalto se mobilizou para passar uma orientação e teve de recuar menos de 24 horas depois! E se ouvem muitos resmungos e até ameaças de resistência vindos da… base aliada! “São todos chantagistas!”, gritará alguém. São? Fazer o quê? Eis os parceiros de caminhada de Lula e da Soberana.
Não estou aqui afirmando que a oposição deveria necessariamente fechar questão contra esta ou aquela propostas só para “pegar no pé” do governo. Mas é evidente que há nisso tudo uma questão que é de natureza institucional. O país tem leis. Não pode ficar fabricando outras, ah hoc, a cada vez que decidir sediar um evento. Se a base aliada não vai dar bola pra isso porque entende que seu papel é dizer “sim” ao Planalto, que as oposicionistas se encarreguem, então, dessa defesa institucional.
Não há nada de surpreendente nisso que digo! É assim em todo o mundo. As forças que estão no governo tendem a fazer do pragmatismo seu único Deus. Se seus adversários não reagem, elas caminham para o despotismo até na Dinamarca! É por isso que lembro sempre que é a existência da oposição a prova da democracia — afinal, também existe governo nas tiranias. Mas os nossos oposicionistas — como voz institucional, reitero, não como vozes isoladas deste ou daquele — não querem saber de nada. Ausentam-se do debate.
Na semana passada, Dilma Rousseff mandou para o lixo, por exemplo, uma de suas principais promessas de campanha: a criação de UPPs Brasil afora! No 15º mês de governo, ela descobriu que não bastaria construir prédios (não que o governo seja bom nisso ao menos; não é!). Seria preciso também treinar milhares de homens para a tarefa. Para que o serviço funcionasse, teria de ser operado em conjunto com os estados. Seria um trabalho gigantesco. Tratar a violência como questão federal é uma obrigação, sim. Afinal, há mais de 50 mil homicídios por ano no país. Acreditar, no entanto, que o governo federal pudesse tocar esse megaprograma de instalação de unidades de polícia era uma tolice formidável. Mas parecia divertido prometer que o modelo do Rio se espalharia — como se ele tivesse sido massificado lá, o que é mentira. Indiretamente, fazia-se um ataque a São Paulo. Não tem mais UPPs financiadas pelo governo federal, não! Também não saíram do papel as creches, as quadras, as UPA… E sabem o que disse a oposição? Se souberem, me contem!
Hoje, como se vê, a principal fonte de críticas ao governo é o próprio governismo. Faltassem os temas administrativo-institucionais — e não faltam! —, há os outros, que mobilizam e dividem a sociedade, alguns ligados ao governo, outros nem tanto. Fico com a impressão de que os candidatos a líderes da oposição — e, por enquanto, não passam disso! — vivem a ilusão de que, caso não opinem sobre nada, caso jamais entrem numa bola dividida, conseguirão angariar a simpatia de todos. Engraçado… A minha impressão é outra: por omissos, acho que acontece o contrário: granjeiam é a antipatia de todos. Eleonora Menicucci voltou a disparar barbaridades sobre o aborto; valores importantes da sociedade brasileira — sim, os religiosos também — estão sofrendo o assédio do laicismo ignorante; pipocam manifestações de desrespeito ao estado de direito…
Não estou dizendo que as oposições deveriam, necessariamente, abraçar esses temas todos. Não faço agenda pra ninguém. Não me cabe. Só estou lembrando que a sociedade brasileira está muito mais viva do que essa oposição cartorial e burocrática. Sei que muita gente torce o nariz para a bancada evangélica, por exemplo, porque há mesmo aqui e ali manipuladores da fé, que criam dificuldades para vender facilidades. Mas há aqueles que levam a sério seus princípios. Cito o grupo só para lembrar que sua mobilização obrigou o governo a vir a público para se explicar sobre alguns temas.
Parlamentares que fazem um trabalho esforçado e decente — e existem! — não devem se zangar com a minha crítica. Reitero que estou aqui a cobrar o que chamei de “voz institucional” da oposição, que tenha a coragem de vir a público para afrontar, quando necessário, um governo popular, sim. Popular e ruim!
Chegou a hora de a oposição “se donner un coup de pied aux fesses”!
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