terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Vejam, abaixo, vídeo em que Ideli Salvatti aparece como vivandeira, estimulando a mobilização de policiais militares. E aí, Dilma, não vai ficar “horrorizada”?

Todos sabemos, e já o provei com imagens e banda sonora, que Jaques Wagner (PT), governador da Bahia, era um notório insuflador de greves de policias militares no seu estado. Afinal,  um adversário seu estava no poder, certo?
Peço que vocês vejam este vídeo de janeiro de 2009. Embora eu não precisasse dizer o nome da estrela — não há diferença de voz nem de cabelo0 —, cumpro o dever jornalístico: trata-se da então senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que disputaria o governo de Santa Catarina no ano seguinte, sendo derrotada. Como prêmio, levou o Ministério da Piaba (também conhecido como “da Pesca”). Depois assumiu o das Relações Institucionais, em lugar de Luiz Sérgio, que ficou com a piaba… Vejam. Depois explico tudinho.
O busílis é o seguinte: em dezembro de 2008, um movimento de PMs e bombeiros tomou conta dos quartéis de Santa Catarina, acusando o governo de não cumprir uma lei que dizia respeito à organização da Segurança Pública — a 254. Nem vou entrar nesse mérito agora. O fato é que, à mobilização, seguiram-se processos administrativos, punições etc. Todo mundo acabou anistiado em 2011.
É disso que fala Ideli em 2009 a lideranças de policiais militares ligadas à Anaspra (Associação Nacional de Entidades Representativas de Praças Militares Estaduais). À esquerda do vídeo, vocês vêem ninguém menos do que Marco Prisco, o líder da greve na Bahia. Ora, em 2009, Ideli estava à vontade para se comportar como vivandeira porque o governador do Estado era Luiz Henrique (PMDB), hoje senador. Embora formalmente integre um partido da base, ele pertence ao grupo dos peemedebistas independentes.
Notem como a fabulosa promete que vai mobilizar o Ministério da Justiça — cujo titular era o ínclito Tarso Genro, que hoje enfrenta a mobilização da PM gaúcha. Chamo a atenção de vocês para a fala de Ideli a partir dos 42 segundos. Ela relata que o “Cel Eliésio” — refere-se ao então comandante-geral da PM em Santa Catarina, Eliésio Rodrigues — havia concedido uma entrevista à CBN. Transcrevo suas palavras:
“Estava o coronel Eliésio dando entrevista e falando, falando, falando… Eu até comentei, fiquei positivamente impressionada porque o Mário Motta [jornalista que fazia a entrevista] foi muito pra cima dele, cobrando: ‘Muito bem, tem hierarquia, tem disciplina, mas como é que reivindica sem afrontar… Como é que pede? Se não cumpre a lei, reclama como? Coloca como? Ele se espremeu bastante. Mas o ideal seria alguém de vocês estar lá falando, né? Não apenas o jornalista estar fazendo as cobranças (…).
Repararam, né? Ideli trata o coronel com certo menoscabo—- “falando, falando, falando” — e acha divertido ver o comandante da PM sendo apertado pelo jornalista. Mas Ideli quer é que os próprios militares cheguem à imprensa. Para ela, valores como disciplina  e hierarquia podem ficar em segundo plano diante de “reivindicações”. Ela avança.
“Eu acho muito importante a gente colocar, ter alguns eventos que possa (sic) permitir que a posição de vocês também venha a público, que eles não fiquem falando sozinhos. Acho que vocês estão corretíssimos de fazer movimentos buscando apoio popular, fazer abaixo-assinados”
Ideli não está contente, como se vê. Ela quer mobilização popular. E lembra a vantagem de que gozam profissionais da saúde, da educação e da segurança no que respeita a mobilizações:
“E nós, né?, temos esta vantagem. Quer dizer, estes três setores estão, segurança e educação ainda mais do que a saúde, a gente está muito espalhado. A gente tem como fazer isso em vários locais ao mesmo tempo, em vários municípios. Então eu acho muito importante vocês estarem dando conta mesmo desta coisa aí de puxar a opinião pública a favor de vocês.”
Encerro
Este é o PT. Dois anos depois, a presidente Dilma Rousseff, que fez Ideli sua ministra, viria a se dizer “horrorizada” com os eventos da Bahia. Diante da crise, a hoje ministra sumiu do mapa, não quis dar as caras, desapareceu. O negócio dela, agora, são as “relações institucionais”, né? Das não-institucionais, como insuflar os quartéis, ela cuidava quando senadora e pré-candidata do PT ao governo do Estado.
Aí dizem algumas almas simples: “Acho que você é muito severo com o PT”. Não! Sou apenas justo. Até porque a severidade supõe uma aposta na mudança de conduta daquele que é alvo da reprimenda. E tentar corrigir um petista não é uma tarefa fácil nem difícil. É apenas uma tarefa inútil.
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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