Minha fala hoje no Encontro do Instituto Teotônio Vilela do PSDB, no Rio de Janeiro
Desperdiçam-se muita energia e muito tempo no debate sobre como fazer oposição, mas a receita é algo simples: dizer o que está errado no governo e propor outras maneiras, diferentes, de fazer o que precisa ser feito.
Toda oposição precisa beber do conhecimento, de fontes intelectuais para poder avançar. E não só a oposição. Aliás, um traço marcante dos governos do PT é a absoluta impotência para produzir ideias novas, capazes de oferecer soluções originais e eficazes aos velhos impasses.
O caminho da oposição se alimenta nessa esfera, precisa dela, mas se constrói na esfera política e na social.
Não esqueçamos nunca que a alternativa de poder é produzida no dia-a-dia. Claro que precisa haver um norte, uma bússola. Mas ninguém vai a lugar nenhum só com ela. É preciso fazer o barco navegar com determinação até o objetivo desejado.
POR JOSE SERRA
Ao longo das últimas décadas, o Brasil produziu um razoável consenso sobre as linhas gerais do país que queremos. Uma democracia, com justiça social, desenvolvimento, respeito à natureza e aos direitos humanos.
De uma ponta a outra do espectro político todas as correntes ponderáveis declaram sua identidade com essas linhas gerais. É, aliás, um produto da História. As alternativas escasseiam.
Um sintoma é que mesmo em plena crise do capitalismo global não se ouvem vozes significativas a propor a substituição do sistema, e sim sua humanização com o propósito de produzir sociedades mais justas. Uma convergência impensável no século XX.
Assim, a disputa política acaba traduzindo-se no oferecimento das diversas opções para promover, na prática, aquelas linhas gerais. Em vez de “que sociedade queremos?”, a tensão está principalmente em “como alcançá-la”.
E aqui o desafio é identificar os obstáculos, os pontos de estrangulamento, as barreiras mais significativas.
Nos anos noventa, o Brasil enquadrou, graças ao Fernando Henrique e ao Itamar, e gente que participa deste seminário, um importante obstáculo ao seu desenvolvimento: a inflação.
Mas infelizmente, desde então, não se conseguiu embicar o avião no único rumo capaz de produzir o ambiente para enfrentar os outros grandes problemas nacionais: o desenvolvimento. Infelizmente, “desenvolvimentismo” no Brasil virou palavrão.
Mas sem desenvolvimento firme e de taxas elevadas não haverá como construir um país capaz de dar civilização, no sentido amplo, aos seus 200 milhões de habitantes.
Esse é o ponto de estrangulamento, o nó, como um dia foram a transição democrática, a abertura da economia, o combate à inflação e a montagem da rede de proteção social.
Toda trajetória tem percalços, dificuldades, acidentes, mas pergunto: qual é o caminho? Como não consegue embicar o avião no rumo do desenvolvimento o governo que aí está transmite sensação de impotência, de envelhecimento precoce. Vive do passado, sem uma única iniciativa que indique que se fez a escolha certa. Trata-se de um governo que vive a reboque dos acontecimentos, inclusive da explosão de escândalos no seu interior. Um governo de factóides e salamaleques, especialmente nos fóruns internacionais.
Acredito haver grandes oportunidades, grandes caminhos abertos para a oposição. Na luta concreta, no ataque aos problemas práticos, oferecer a crítica e também as soluções que levem o Brasil a retomar o desenvolvimento.
Um bom exemplo vem sendo o debate sobre o novo Código Florestal, tema em que nosso partido tem sabido situar-se combativamente na defesa da produção rural com sustentabilidade. E do meio ambiente, sem comprometer a agricultura.
Precisamos da mesma combatividade para defender a indústria nacional e as exportações, vítimas do populismo cambial e da conveniência política de quem prefere o Brasil anestesiado pelo real forte e resumido ao papel de exportador de commodities. Condenado a perpetuar a mediocridade.
Precisamos da mesma combatividade para defender uma escola pública com a qualidade da escola privada, para que o filho do pobre venha a ter oportunidades parecidas com o do rico ou do cidadão de classe média.
Precisamos de coragem para enfrentar as corporações encistadas na máquina educacional, que se servem do Estado, que sacrificam o futuro das nossas crianças e jovens para manter privilégios.
Gente a quem não interessa se o menino ou a menina não aprenderam nada, gente que se recusa a colocar os interesses da sociedade acima do seu próprio egoísmo, dos seus preconceitos ideológicos, de suas idiossincrasias, de sua luta mesquinha pelo poder.
A educação, aliás, há de merecer da nossa parte especial atenção porque ela é um dos pilares para que se construa o Brasil necessário. O PSDB tem de ter a coragem de denunciar alguns mitos que certa militância obscurantista pretende vender como verdades universais.
Todos nós queremos professores mais bem remunerados e cada vez melhor qualificados. Lutamos por isso como parlamentares, como chefes do executivo, como militantes do partido. Mas temos de ter coragem e clareza para denunciar e combater a subordinação da educação de nossas crianças e jovens à agenda de partidos, de sindicatos, de corporações. A educação de ter parar de ser o teatro privilegiado da simples disputa pelo poder.
Precisamos mostrar como colocar mais dinheiro na saúde e as medidas para melhorar a gestão do sistema. O SUS é uma conquista do povo brasileiro e é preciso fazê-lo avançar. Precisamos ser firmes na defesa de políticas de segurança que enfrentem a criminalidade, em vez de maquiar a realidade. Em São Paulo, prendemos mais bandidos e, agora, morre menos gente assassinada. Uma equação que precisa ser nacionalizada.
É preciso deixar claro, em benefício da verdade e em respeito aos pobres, que pobreza não é sinônimo de violência, mas a impunidade é um dos nomes que tem a falta de segurança pública. Infelizmente, nossos adversários se recusam enxergar o óbvio, viciados que estão na mesquinharia política, e o Brasil segue sendo um dos países em que mais se mata no mundo, com baixíssimo índice de punição dos culpados.
O caminho da oposição não tem muito mistério. A cada tema, defender os direitos ameaçados, mostrar os erros e denunciar a incapacidade do governo – na Educação, na Saúde, na Previdência, na Infraestrutura, na Economia, oferecer soluções e apontar a possibilidade de um futuro diferente.
É um trabalho que vai exigir ouvidos bem abertos, ouvir mais do que falar, tentar catar o que vai pela alma das pessoas. Pela alma da maioria. Uma maioria de brasileiros trabalhadores, que não tem outro ponto de apoio a não ser seu próprio trabalho, que precisa educar os filhos e sustentar a família com ele.
Essa maioria está pronta a ouvir quem lhe ofereça, com credibilidade, a visão de um futuro melhor. E nós devemos, cada vez mais, assumir com dedicação, competência e coragem, esse papel.
Desperdiçam-se muita energia e muito tempo no debate sobre como fazer oposição, mas a receita é algo simples: dizer o que está errado no governo e propor outras maneiras, diferentes, de fazer o que precisa ser feito.
Toda oposição precisa beber do conhecimento, de fontes intelectuais para poder avançar. E não só a oposição. Aliás, um traço marcante dos governos do PT é a absoluta impotência para produzir ideias novas, capazes de oferecer soluções originais e eficazes aos velhos impasses.
O caminho da oposição se alimenta nessa esfera, precisa dela, mas se constrói na esfera política e na social.
Não esqueçamos nunca que a alternativa de poder é produzida no dia-a-dia. Claro que precisa haver um norte, uma bússola. Mas ninguém vai a lugar nenhum só com ela. É preciso fazer o barco navegar com determinação até o objetivo desejado.
POR JOSE SERRA
Ao longo das últimas décadas, o Brasil produziu um razoável consenso sobre as linhas gerais do país que queremos. Uma democracia, com justiça social, desenvolvimento, respeito à natureza e aos direitos humanos.
De uma ponta a outra do espectro político todas as correntes ponderáveis declaram sua identidade com essas linhas gerais. É, aliás, um produto da História. As alternativas escasseiam.
Um sintoma é que mesmo em plena crise do capitalismo global não se ouvem vozes significativas a propor a substituição do sistema, e sim sua humanização com o propósito de produzir sociedades mais justas. Uma convergência impensável no século XX.
Assim, a disputa política acaba traduzindo-se no oferecimento das diversas opções para promover, na prática, aquelas linhas gerais. Em vez de “que sociedade queremos?”, a tensão está principalmente em “como alcançá-la”.
E aqui o desafio é identificar os obstáculos, os pontos de estrangulamento, as barreiras mais significativas.
Nos anos noventa, o Brasil enquadrou, graças ao Fernando Henrique e ao Itamar, e gente que participa deste seminário, um importante obstáculo ao seu desenvolvimento: a inflação.
Mas infelizmente, desde então, não se conseguiu embicar o avião no único rumo capaz de produzir o ambiente para enfrentar os outros grandes problemas nacionais: o desenvolvimento. Infelizmente, “desenvolvimentismo” no Brasil virou palavrão.
Mas sem desenvolvimento firme e de taxas elevadas não haverá como construir um país capaz de dar civilização, no sentido amplo, aos seus 200 milhões de habitantes.
Esse é o ponto de estrangulamento, o nó, como um dia foram a transição democrática, a abertura da economia, o combate à inflação e a montagem da rede de proteção social.
Toda trajetória tem percalços, dificuldades, acidentes, mas pergunto: qual é o caminho? Como não consegue embicar o avião no rumo do desenvolvimento o governo que aí está transmite sensação de impotência, de envelhecimento precoce. Vive do passado, sem uma única iniciativa que indique que se fez a escolha certa. Trata-se de um governo que vive a reboque dos acontecimentos, inclusive da explosão de escândalos no seu interior. Um governo de factóides e salamaleques, especialmente nos fóruns internacionais.
Acredito haver grandes oportunidades, grandes caminhos abertos para a oposição. Na luta concreta, no ataque aos problemas práticos, oferecer a crítica e também as soluções que levem o Brasil a retomar o desenvolvimento.
Um bom exemplo vem sendo o debate sobre o novo Código Florestal, tema em que nosso partido tem sabido situar-se combativamente na defesa da produção rural com sustentabilidade. E do meio ambiente, sem comprometer a agricultura.
Precisamos da mesma combatividade para defender a indústria nacional e as exportações, vítimas do populismo cambial e da conveniência política de quem prefere o Brasil anestesiado pelo real forte e resumido ao papel de exportador de commodities. Condenado a perpetuar a mediocridade.
Precisamos da mesma combatividade para defender uma escola pública com a qualidade da escola privada, para que o filho do pobre venha a ter oportunidades parecidas com o do rico ou do cidadão de classe média.
Precisamos de coragem para enfrentar as corporações encistadas na máquina educacional, que se servem do Estado, que sacrificam o futuro das nossas crianças e jovens para manter privilégios.
Gente a quem não interessa se o menino ou a menina não aprenderam nada, gente que se recusa a colocar os interesses da sociedade acima do seu próprio egoísmo, dos seus preconceitos ideológicos, de suas idiossincrasias, de sua luta mesquinha pelo poder.
A educação, aliás, há de merecer da nossa parte especial atenção porque ela é um dos pilares para que se construa o Brasil necessário. O PSDB tem de ter a coragem de denunciar alguns mitos que certa militância obscurantista pretende vender como verdades universais.
Todos nós queremos professores mais bem remunerados e cada vez melhor qualificados. Lutamos por isso como parlamentares, como chefes do executivo, como militantes do partido. Mas temos de ter coragem e clareza para denunciar e combater a subordinação da educação de nossas crianças e jovens à agenda de partidos, de sindicatos, de corporações. A educação de ter parar de ser o teatro privilegiado da simples disputa pelo poder.
Precisamos mostrar como colocar mais dinheiro na saúde e as medidas para melhorar a gestão do sistema. O SUS é uma conquista do povo brasileiro e é preciso fazê-lo avançar. Precisamos ser firmes na defesa de políticas de segurança que enfrentem a criminalidade, em vez de maquiar a realidade. Em São Paulo, prendemos mais bandidos e, agora, morre menos gente assassinada. Uma equação que precisa ser nacionalizada.
É preciso deixar claro, em benefício da verdade e em respeito aos pobres, que pobreza não é sinônimo de violência, mas a impunidade é um dos nomes que tem a falta de segurança pública. Infelizmente, nossos adversários se recusam enxergar o óbvio, viciados que estão na mesquinharia política, e o Brasil segue sendo um dos países em que mais se mata no mundo, com baixíssimo índice de punição dos culpados.
O caminho da oposição não tem muito mistério. A cada tema, defender os direitos ameaçados, mostrar os erros e denunciar a incapacidade do governo – na Educação, na Saúde, na Previdência, na Infraestrutura, na Economia, oferecer soluções e apontar a possibilidade de um futuro diferente.
É um trabalho que vai exigir ouvidos bem abertos, ouvir mais do que falar, tentar catar o que vai pela alma das pessoas. Pela alma da maioria. Uma maioria de brasileiros trabalhadores, que não tem outro ponto de apoio a não ser seu próprio trabalho, que precisa educar os filhos e sustentar a família com ele.
Essa maioria está pronta a ouvir quem lhe ofereça, com credibilidade, a visão de um futuro melhor. E nós devemos, cada vez mais, assumir com dedicação, competência e coragem, esse papel.
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