Termina hoje à noite o prazo dado pela Justiça para que um grupo de 50 a 100 pessoas, entre ditos estudantes e funcionários, deixem um prédio da Reitoria da USP. Escrevo “ditos estudantes e funcionários” porque os que são, oficialmente ao menos, alunos não estão lá com a finalidade de aprender, se graduar, pesquisar, essas coisas que indivíduos que pertencem a essa categoria fazem mundo afora. Também os servidores invasores não se contentam em receber o seu salário (poderiam até estar infelizes com os vencimentos e reivindicar mais, isso é do jogo) e, como determina a etimologia, servir à universidade. Uns e outros entendem que a USP é só o lugar que vai dar início à…, Deus do Céu!!!, “revolução socialista”.
Aqui e ali, alguns doutos articulistas tentam entender a “utopia” desses caras e inscrevê-los numa certo movimento de inconformismo que toma conta do planeta. Bobagem! Assim seria se assim fosse. Ocorre que não é. A USP tem quase 90 mil alunos, 15 mil funcionários e mais de 5 mil professores. Uma comunidade de 110 mil pessoas, como se nota, é tiranizada por um bando de 100 meliantes — 0,1% do total! Qualquer grupo humano deve contar com uma taxa parecida de delinqüência. A única seiva que alimenta essa gente é a impunidade. Estão acostumados a promover, ano após ano, a baderna, jogando as leis no lixo e agravando os direitos de mais de 100 mil pessoas, sem que nada lhes aconteça na USP ou fora dela — vale dizer: nem a universidade usa seu Regimento Interno para puni-los nem a lei democrática os alcança para reparar os direitos ofendidos de terceiros. Formam, então, uma casta acima da lei, à qual tudo é permitido.
O mesmo vale para alguns professores, que tentam emprestar sotaque acadêmico superior ao crime, à anomia, à desordem, como se o próprio conhecimento não fosse expressão de uma hierarquia. Entendem a universidade como o lugar da “resistência”. Mas “resistência” exatamente a quê? A resposta só pode ser uma, e ela denuncia a natureza dessa militância: RESISTÊNCIA À DEMOCRACIA. De fato, é isso que não suportam. Como não podem expressar com clareza esse ponto de vista, procuram no seu embornal de idéias mortas palavras que servem para mobilizar essas extremas minorias: a luta contra o “mercado”, o “neoliberalismo”, os “reacionários”, os “fascistas”… Não está entre as garantias de um professor nem encontra abrigo na autonomia universitária ou na liberdade de expressão o incitamento ao crime, à baderna, à desordem e ao descumprimento do Regimento Interno, do Código Penal e da Constituição. No que concerne à corporação, é uma falha funcional; no que diz respeito à sociedade como um todo, trata-se de um crime. Também esses professores precisam começar a arcar com o peso de suas escolhas.
O que estou dizendo é que a ocorrência, e já é assim há muitos anos, não é sintoma de algum mal-estar da democracia, da universidade, da cultura, do capitalismo. É só expressão do banditismo de meia-dúzia de extremistas estúpidos. Já era assim em 2007 ou 2009, quando hordas — escolhi a palavra — de jornalistas da chamada grande imprensa iam lá puxar o saco de invasores, exaltar os seus valores, entender a sua rotina, fazer o dia-a-dia da invasão. A coisa chegou a tal extremo, lembro de novo, que, em 2007, Laura Capriglione, da Folha, chamou uma manifestação de estudantes contra a ocupação da reitoria de a “primeira passeata REACIONÁRIA da USP”. Mais: ela inventou também que se tratava de um movimento apolítico, sem influência das correntes de extrema esquerda…
Sim, havia uma pequena diferença entre 2007 e 2011. Naquele ano, o PT estava apoiando os invasores, tanto é que algumas cabeças coroadas do professorado petista assinaram até manifesto. Na ponta, como sempre, iam Marilena Chaui e Antonio Candido. Vocês sabem: um movimento, para ser considerado “sério”, tem de ter o apoio da MC Marilena Quebra Barraco do Spinoza. Desta vez, PT, PSOL e até o PSTU são, vamos dizer, os “moderados”. Quem assumiu o comando da revolução foi o PCO, a tal Liga Estratégia Revolucionária - Quarta Internacional (LER-QI) e o Movimento Negação da Negação (!!!). A Laura, a minha musa, foi lá. Ela, que tanto incensou os feios, sujos e malvados em jornadas passadas, foi tratada como agente da “imprensa burguesa”. Abaixo, um trecho do seu texto, bem-escrito, diga-se, na Folha de ontem:
Ninguém vai falar com você. É proibido passar qualquer informação para a imprensa burguesa”, troveja a estudante por detrás da máscara branca comprada na rua 25 de março.
Ela é um dos cerca de 50 jovens que, às 11h da sexta-feira, montam guarda no edifício da reitoria da Universidade de São Paulo (Butantã, zona oeste de São Paulo). A USP tem 89 mil alunos.
O prédio foi invadido na última terça-feira, como protesto contra a presença da PM no campus universitário.
O movimento começou no dia 27 de outubro, quando policiais detiveram três estudantes flagrados com maconha. Solidários, outros alunos tentaram soltar os colegas. Virou pancadaria.
“Acesso Livre. Seja Bien Venido”, assim, em portunhol, avisa a faixa afixada na reitoria. Não é para valer.
Ao se aproximar do portão do prédio, a reportagem depara-se com a barreira humana formada pela “Comissão de Segurança” -seis ou sete jovens nervosos, monossilábicos, mascarados.
Logo, um grandalhão levanta-se de uma das poltronas de couro da reitoria onde, há poucos minutos, se refestelava: “Proibido entrar. Afaste-se. Depois dos cavaletes”, adverte, ameaçador.
O “segurança” tem o rosto coberto por uma camiseta preta, à moda tuaregue.
A tensão se exacerba quando o iPhone da repórter, vibrando, emite aquele brrrrr característico de quando recebe um e-mail. “Desliga isso, desliga esse gravador, porra”, impõe o tuaregue do Butantã, olhando desconfiado para o aparelho. A cena se repetiria várias vezes -brrrrr, “desliga o gravador”; brrrrr, “desliga o gravador”.
“Acabou o amor”, informa outra faixa. Percebe-se.
(…)
Ela é um dos cerca de 50 jovens que, às 11h da sexta-feira, montam guarda no edifício da reitoria da Universidade de São Paulo (Butantã, zona oeste de São Paulo). A USP tem 89 mil alunos.
O prédio foi invadido na última terça-feira, como protesto contra a presença da PM no campus universitário.
O movimento começou no dia 27 de outubro, quando policiais detiveram três estudantes flagrados com maconha. Solidários, outros alunos tentaram soltar os colegas. Virou pancadaria.
“Acesso Livre. Seja Bien Venido”, assim, em portunhol, avisa a faixa afixada na reitoria. Não é para valer.
Ao se aproximar do portão do prédio, a reportagem depara-se com a barreira humana formada pela “Comissão de Segurança” -seis ou sete jovens nervosos, monossilábicos, mascarados.
Logo, um grandalhão levanta-se de uma das poltronas de couro da reitoria onde, há poucos minutos, se refestelava: “Proibido entrar. Afaste-se. Depois dos cavaletes”, adverte, ameaçador.
O “segurança” tem o rosto coberto por uma camiseta preta, à moda tuaregue.
A tensão se exacerba quando o iPhone da repórter, vibrando, emite aquele brrrrr característico de quando recebe um e-mail. “Desliga isso, desliga esse gravador, porra”, impõe o tuaregue do Butantã, olhando desconfiado para o aparelho. A cena se repetiria várias vezes -brrrrr, “desliga o gravador”; brrrrr, “desliga o gravador”.
“Acabou o amor”, informa outra faixa. Percebe-se.
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Voltei
Só há um caminho, e é aquele que conta com o apoio de 99,9% da comunidade uspiana: o triunfo da legalidade, segundo as regras da democracia. Aqueles 100 baderneiros têm de sair de lá. Se não for por bem, terão de ser retirados pela democracia de farda, a quem os brasileiros de São Paulo concedem o uso legítimo da força. Lugar de bandido mascarado é na cadeia. E sem máscara!
Só há um caminho, e é aquele que conta com o apoio de 99,9% da comunidade uspiana: o triunfo da legalidade, segundo as regras da democracia. Aqueles 100 baderneiros têm de sair de lá. Se não for por bem, terão de ser retirados pela democracia de farda, a quem os brasileiros de São Paulo concedem o uso legítimo da força. Lugar de bandido mascarado é na cadeia. E sem máscara!
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