sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A monumental covardia de Vaccarezza. Ou: Se Blatter tivesse pedido 200 virgens, o comunista sem multidão teria ficado de pensar…

A covardia num homem adulto é uma coisa feia. Não me refiro, naturalmente, àquela coisa do brigão, que sai descendo o braço em todo mundo. Isso deve ser evitado ao máximo — às vezes, admito, não há saída, mas é raro. Falo da covardia moral. Cândido Vaccarezza (PT-SP), o líder do governo na Câmara mais desastrado de que se tem notícia, agora admite que errou ao “deixar passar” a meia-entrada em eventos culturais e esportivos para estudantes dos 15 anos à terceira idade: 29! Imaginem vocês: um sujeito já com alguns fios de cabelo branco, meio careca, quiçá com uma barriguinha já conferida por algum conforto, exibindo a sua “caitelinha gugu-dadá” de estudante! Dêem uma chupeta para esse “estudante” desavergonhado!
O Estatuto da Juventude, relatado pela deputada Manuela d’Ávila (PCdoB- RS), torna esse direito uma lei federal. Hoje, os estados é que regulamentam a questão. A Fifa, que é quem vai decidir o preço dos ingressos da Copa — se Joseph Blatter tivesse pedido 200 virgens, Orlando Silva, o comunista sem multidão, teria ficado de pensar —, é contra o benefício. E se trava, então, no Brasil o debate surrealista: os estudantes idosos teriam esse direito, sim, menos na Copa! ATENÇÃO, QUERIDOS! De Gaulle nunca disse que o Brasil não é um país sério. É uma lenda. Mas o Brasil não é um país sério.
Escrevi ontem a respeito. Brinquei que os brasileiros, segundo o Estatuto da Juventude, poderão fazer cocô na fralda até os 29! Homens e mulheres aos 60, perfeitamente saudáveis, têm regalias que, vá lá, talvez se pudessem dispensar a pessoas com mais de 80! Vejam o que os idiotas estão fazendo com o país: joga-se nas costas das pessoas entre 30 e 59 a responsabilidade de sustentar a máquina de benefícios e privilégios. Alguém dirá: “Mas já foram jovens um dia e ficarão velhas um dia”. Eu sei. Mas que tal alargar um pouco a faixa dos beneficiadores e estreitar um tanto a dos beneficiários? Dêem-me um único país do mundo em que se é “jovem” até tão tarde e se começa a ser velho tão cedo.
Volto a Vaccarezza. Por causa da Copa do Mundo, embora não diga isso, ele admite ter errado. Mas atenção! Ele faz questão de deixar claro — agarrado à demagogia — que é, sim, favorável à proposta. Ele só acha que não tem de ser uma lei federal; que isso deve continuar a ser uma decisão dos Estados. Vale dizer: quer jogar a responsabilidade nas costas dos governadores. Eles que se virem, então, com a Fifa.
E o mais escandaloso vem agora. Segundo o líder do governo na Câmara, ainda que se venha a aprovar uma lei federal garantindo a meia-entrada, a Lei Geral da Copa poderá ignorá-la. E ele reflete: “O Estatuto é perene, a Lei Geral da Copa, em 2015, já não terá mais importância nenhuma, não é algo pra sempre.” Ou seja: a Lei Geral da Copa seria uma espécie de AI-5 na legislação regular do Brasil.
É claro que ele está errado! Se as coisas se derem assim, bastará ao Ministério Público entrar em ação. E não haverá juiz neste país com um mínimo de vergonha na cara que não vá dizer a coisa certa: A LEI GERAL DA COPA NÃO PODE SUSPENDER AS LEIS VIGENTES NO PAÍS. 
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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