A OAB ajuizou ação no Supremo Tribunal Federal para proibir as doações de pessoas jurídicas para as campanhas eleitorais. O ministro Dias Toffoli escreveu recentemente um artigo contra a participação de empresas nas eleições. Como empresas não fazem filantropia eleitoral, mas investimentos que esperam dividendos, esta seria a mãe de todas as faxinas no processo eleitoral e a sua real democratização.
Enquanto isso, no escurinho das comissões, sob o pretexto de moralizar as eleições e diminuir a influência do poder econômico, um grupo de deputados de vários partidos paria uma proposta indecorosa. Além do que já recebem em valioso tempo de rádio e televisão, que negociam entre eles como mercadoria eleitoral, e dos fundos partidários milionários que usam sem qualquer controle, eles ainda querem o "financiamento público" das campanhas, dizem, para evitar o inevitável caixa 2. E pior: assim como o tempo de TV, a bolada sairá do nosso bolso para ser distribuída proporcionalmente ao tamanho das bancadas que vão votar o projeto no Congresso, institucionalizando a permanência no poder dos que lá estão. Mas o relator, deputado Henrique Fontana (espero que seus eleitores saibam disso) ainda manteve as doações de pessoas físicas e jurídicas. Só faltou pedir um beijinho.
A proposta obscena consegue piorar o já péssimo sistema atual e ofende a inteligência de um jumento. Quem seria tão burro para engolir isso? Mas não duvido que venha a ser aprovada, porque a maioria dos congressistas perdeu qualquer pudor em explorar o contribuinte e o Estado. Alguém acredita que não haveria o mensalão se na época houvesse financiamento público das campanhas? Nem o Zé Dirceu.
Na democracia representativa é cada cidadão um voto. Os melhores e os piores, os bons e os maus, os poderosos e os oprimidos, todos são iguais diante da urna. Como os eleitores são cidadãos que escolhem os seus representantes, são as suas doações individuais, com limites controlados, que devem financiar as campanhas. Assim, o voto do dono da empresa e do seu mais humilde trabalhador vale o mesmo. Democracia é isso aí, bebê.
07 de outubro de 2011 | 3h 05
NELSON MOTTA - O Estado de S.Paulo
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