segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A turma de sempre comemora “crescimento” dos homicídios em SP, mas eles caíram em vez de subir

Os adoradores de defuntos e aqueles que não se conformam com o fato de que o estado de São Paulo tem uma das mais baixas taxas de homicídio do país — das 27 unidades da federação, ora está em último, ora em penúltimo, em mortos por 100 mil habitantes — estão exultantes e anunciam com estardalhaço: “Homicídios voltam a crescer em São Paulo”. Não é a primeira vez que eles tentam comemorar e tirar conclusões apressadas de números parciais.
Anuncia-se com estardalhaço: “Número de homicídios cresceu 10,48%. Ohhh!!! Estaria a situação fora de controle? É que, em agosto deste ano, ocorreram no estado 369 homicídios; em agosto do ano passado, 334. Assim, agosto contra agosto, houve o tal aumento de 10,48%. Alerto o leitor para o fato de que conta com porcentagem é sempre perigosa. Se, um dia, São Paulo conseguisse chegar a um homicídio por mês, assistiria a um crescimento de 100% quando houvesse dois. Se conseguíssemos ter “homicídio zero”, acontecido o primeiro, seria um deus-nos-acuda: os assassinatos teriam se multiplicado ao infinito.
A conta internacionalmente consagrada é a de mortos por 100 mil habitantes no ano. É o critério usado pela Organização Mundial da Saúde, que considera que uma região está fora da zona epidêmica de violência quando esse número é inferior a 10. Então vamos ver. Comparados os primeiros oito meses de 2011 com os primeiros oito meses de 2010, o número de homicídios dolosos caiu de 2920 para 2.739 — menos 6,2% para quem gosta de porcentagem. Mas isso interessa menos. O que importa é que isso representa 9,86 mortos por 100 mil habitantes. Só São Paulo e Santa Catarina apresentam um número inferior a 10. Em 12 anos, os homicídios no Estado caíram quase 80%.
É importante deixar certas coisas claras porque poucas áreas se prestam tanto à politicagem quanto a segurança pública. Em 2009, houve um pequeno, discretíssimo , aumento, no número de homicídios em São Paulo — na casa decimal. Bastou para que, no dia 10 de abril de 2010, ano eleitoral, com Serra candidato, Gilberto Dimenstein escrevesse esta maravilha:
“O slogan “Pode Mais” de José Serra é, do ponto de vista de marketing, ótimo. Um fato, porém, é capaz de arranhar a força dessa mensagem: os assassinos de São Paulo. Tenho comentado aqui por várias vezes que a pior notícia da gestão Serra foi o aumento da violência, especialmente o roubo, que, no passado, bateu recorde. Na semana seguinte em que Serra oficializa sua candidatura presencial, sabemos que a taxa de homicídio aumentou 12% nos três primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período de 2009.”
Era pura campanha eleitoral. E feita da pior maneira, com algo caro à população brasileira. Dimenstein pegava números sazonais, que não indicavam uma tendência, e via um desastre na segurança pública. Marina Silva não teve dúvida: chegou a afirmar em debates que a violência estava fora do controle no estado! Dilma também tentou tirar uma casquinha.
Pois bem: no dia 1º de fevereiro de 2011, com a petista já sentada na cadeira presidencial, noticiava a Folha — em cujo site Dimenstein tinha escrito a sua diatribe eleitoreira:
“Os principais índices de criminalidade caíram em praticamente todo o Estado de São Paulo no ano passado em comparação a 2009.
O número de homicídios dolosos (intencionais) é o menor desde 1999. Também houve queda no número de roubos (5%), latrocínios (roubos seguido de mortes, 16%) e seqüestros (13%).”
É claro que o colunista não se desculpou…
E uma observação final: à diferença da esmagadora maioria das secretarias estaduais de segurança, São Paulo divulga mensalmente seus dados, o que permite essa comparação. Porque opta pela transparência, acaba se dando mal em razão das interpretações apressadas. “Espertos”, então, no caso são os estados que não divulgam número nenhum. Ninguém enche o saco deles.
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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