terça-feira, 27 de setembro de 2011

Das duas uma: ou há auxiliares de Alckmin na educação tentando ferrar o seu governo ou se fez a escolha consciente pelo desastre

Alô, governador Geraldo Alckmin! Há auxiliares seus tentando ferrar o governo. Não permita! Eles estão organizados para que, nos próximos exames de proficiência do ensino médio, o estado caia em vez de subir. Gente assim, governador, tem de ser demitida. Ainda que a medida estúpida, cretina e obscurantista não tenha sido tomada, a simples intenção de tomá-la indica um caminho errado. Isso quer dizer que o senhor pode evitar uma besteira agora, mas talvez não consiga evitar outras, que tenham menos visibilidade. A menos, claro, que as escolhas sejam suas.
Vamos lá. A Secretaria de Educação do estado, comandada por Herman Voorwald, tem pronto um projeto que, atenção!, reduz a carga horária de português e matemática do ensino médio. No lugar, entrariam aulas de espanhol, sociologia e física. A secretaria quer também que os estudantes do terceiro ano escolham um de três currículos: “linguagem”,  ”matemática e ciências da natureza” ou “ciências humanas”. É tanta estupidez somada que a gente mal sabe por onde começar. Há nisso, vou demonstrar, um flerte com o pior sindicalismo, e não é a primeira vez que o sr. Voorwald dá piscadelas para os obscurantistas de esquerda. Parece estar empenhado em fazer as pazes com a ala heavy metal da Apeoesp e afins, ainda que sejam os estudantes de São Paulo a pagar a conta. É um mau caminho. Se tucanos puderem imitar petistas nas qualidades, havendo alguma, bem; se não puderem, que não o façam nos defeitos. Vamos ver por onde começar.

Redação, espanhol e sociologia
A prova de redação vale 50% do Enem, um peso excessivo — direi em outro texto por quê. De todo modo, é o que temos. Também costuma ter peso enorme nos vestibulares das universidades públicas e das boas universidades privadas. Para as instituições que vendem diplomas em suaves prestações, com aporte do ProUni, tanto faz; mesmo os analfabetos são admitidos. Diminuir a carga horária de português corresponde a tornar os alunos potencialmente menos aptos para a prova principal.
Atenção! O desempenho dos alunos brasileiros na língua pátria já é desastroso hoje. Mas Voorwald, o sabichão, acha que eles podem saber ainda menos em benefício do espanhol que nunca aprenderão — não na escola regular ao menos (vale também para as privadas), como evidencia o quase inútil ensino de inglês: quem quer aprender mesmo tem de fazer um curso particular.

Também seria aumentada a carga de “sociologia”. A Secretaria de Educação de São Paulo ou está infiltrada pela esquerdopatia obscurantista ou está tentando fazer embaixadinha para os esquerdopatas. As aulas de sociologia, e sei o que estou dizendo, transformaram-se em mero pretexto para o proselitismo mixuruca das esquerdas. Isso quando há professores. Não há sociólogos formados o bastante para atender à demanda das escolas hoje. A introdução dessa disciplina no segundo grau atende à má consciência daqueles que acreditam que a escola tem de “conscientizar” o aluno em vez de ensinar… português, matemática e ciências.
Matemática e física
Digam-me cá: que sentido faz diminuir a carga horária de matemática e ampliar a de física, disciplinas que estão imbricadas? A primeira é ferramenta para a segunda. Voorwald escolheu a trilha errada — e, confesso, eu já andava desconfiado de que isso tivesse acontecido. Já havia notado a sua pouca disposição para dar curso ao programa de promoção por mérito, de eficiência comprovada, introduzido pelo governo de São Paulo. EU TENHO UMA PERGUNTA AO SECRETÁRIO: A QUEM O SENHOR ESTÁ DISPOSTO A SERVIR: AOS ALUNOS, CUJOS PAIS SUSTENTAM A MÁQUINA DO ESTADO, OU À CORPORAÇÃO SINDICAL, QUE MAL ESPERA AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES PARA FAZER CAMPANHA EM FAVOR DO PT, JÁ QUE É MERO BRAÇO DO PARTIDO? QUEM SÃO SEUS INTERLOCUTORES PRIVILEGIADOS: OS JOÕES E AS MARIAS OU A BEBEL DO SINDICATO?
O que disse Alckmin
Quero lembrar aqui uma fala do governador Geraldo Alckmin. Na inauguração de uma ETEC em Barueri,  no dia 10 de maio:

” (…) O foco do Governo é educação. Então é aluno mais tempo na escola. Nós vamos ampliar as escolas de tempo integral. É investir no professor, na valorização do professor (…) Nós vamos fazer um grande esforço em todas as áreas, em especial em Português e Matemática.”
Estaria o secretário sabotando uma disposição declarada do seu chefe?

Faço, aliás, uma nota à margem: sugiro ao governador que converse com profissionais especializados em educação — e livres das influências nefastas do corporativismo — para avaliar o tal ensino em tempo integral. Mal ele não faz quando funciona direito, mas há uma grande mistificação a respeito do assunto. Oito horas numa escola desorganizada, sem critérios para avaliar eficiência, valem muito menos do que quatro num escola que tenha método, rigor e disciplina. Mais: já hoje há carência de mão-de-obra qualificada. É preciso ver se a prioridade é investir na generalização do ensino integral ou adotar medidas que garantam a eficiência das escolas que temos. Mas volto ao ponto.
Ouvido a respeito, o professor Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP, não vê problema na redução da carga de português e matemática porque ela seria “alta” mesmo. O que é uma “carga alta”? Estariam os estudantes paulistas com sintomas, sei lá, de hipercorreção gramatical e de excesso de cálculo?

As escolhas
A redução da carga também está ligada a escolhas que alunos fariam no terceiro ano do ensino médio, que seria dividido em três áreas: “linguagem”, “matemática e ciências da natureza” e “ciências humanas”. É a divisão proposta pelo Enem, que tem muito de arbitrária. Para que essa tripartição fizesse algum sentido, na hipótese de que pudesse ser virtuosa — eu não acho! —, precisaríamos ter um ensino muito mais organizado do que o temos hoje. Mal se consegue aplicar, com mecanismos para avaliar a eficácia, um só currículo. O aluno que optasse por “matemática e ciências da natureza” teria reduzida a carga de língua portuguesa das atuais 560 aulas para 400 — 28,5% a menos. Insisto: um exímio estudante de matemática que fizesse uma redação desastrosa quebraria a cara no Enem e na maioria dos vestibulares importantes.
Vamos ver se o governador Ackmin compactua com essa besteirada. A crer nas suas próprias palavras, não! E que fique esperto: é evidente que existe uma “pedagorréia” para justificar o injustificável. Trata-se de uma proposta criminosa no que diz respeito à educação. E, é inescapável dizer, se há gente que flerta com isso na Secretaria da Educação, estamos diante da evidência de que se escolheu o caminho errado.
Não só: algo nessa importância não pode ser vazado para a imprensa como se fosse mera decisão burocrática. Trata-se de uma política de governo que duvido que tenha sido adotada. Se foi, então o encontro com os desastres — o educacional e o eleitoral — é fatal.
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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