quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Wagner Rossi, o atual protegido de Dilma, fala ao Senado. Assistiu-se à exposição de um método

Atenção, caros leitores, Wagner Rossi não é rompante, é método. Wagner Rossi não é, assim, um “novo governista” deslumbrado, como é deslumbrado um “novo rico”. Ele pertence à “elite tradicional” no que concerne à forma de lidar com o dinheiro público. É o homem de confiança do vice-presidente Michel Temer — voltarei a falar do grande ausente de toda essa barafunda. Comparem a diferença de tratamento dispensado pelo governo a um Alfredo Nascimento e a um Rossi. Aquele foi chutado como um agregado de quem a Casa Grande se cansa. O ministro da Agricultura não! Aí é preciso tomar cuidado.  Leiam este relato de Luciana Marques, na VEJA Online. Volto em seguida:
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O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, deu sinais nesta quarta-feira de que a faxina ordenada pela presidente Dilma Rousseff na pasta já começou. Em depoimento à Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, Rossi afirmou que mudará a estrutura da área jurídica da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), foco de um esquema de corrupção revelado por VEJA.
Questionado pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO) sobre a necessidade de trocar a diretoria do órgão, Rossi respondeu: “A presidente Dilma tem todo o interesse que imperfeições sejam corrigidas e nos deu força total para fazê-lo. Ela quer que tome atitudes muito fortes, independentemente de qualquer limitação política, focando grandemente na competência pessoal. Vamos mudar a estrutura jurídica da Conab, que hoje infelizmente é feita por escritórios terceirizados. Haverá mudanças também da diretoria do órgão.”
Durante os quarenta minutos em que prestou as declarações iniciais na Comissão de Agricultura do Senado, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, foi evasivo e tentou se desvincular das irregularidades na pasta. Escoltado pelos senadores peemedebistas Renan Calheiros (AL), Valdir Raupp (RO) e Romero Jucá (RR), o ministro chegou à comissão aparentando estar à vontade. Antes do depoimento, trancou-se em uma sala com a cúpula do PMDB por alguns minutos, para acertar os últimos detalhes do discurso. É a segunda vez que o ministro vai ao Congresso para prestar esclarecimentos sobre escândalos na pasta.
Rossi voltou a afirmar que as acusações contra a Conab envolvem advogados da autarquia que teriam atuado contra o órgão. “Detectamos ato imoral de um procurador que fez conluio com a parte contrária para dar golpe de 150 milhões ao Erário. Impedimos que isso se concretizasse. Não há nenhuma acusação contra mim. A Spam, através de um conluio de um procurador da Conab e seus advogados, estava tentando dar um golpe, que tentamos anular judicialmente. Eles pretendiam roubar o dinheiro público”, disse o ministro.
A Sociedade Produtora de Alimentos Manhuaçu (Spam) tinha um processo de cobrança judicial contra a Conab que se arrastava há meses. O órgão colocou-se à disposição para fazer o pagamento - mediante pagamento de propina de 15% do valor do contrato de 150 milhões de reais.
Lobista
O ministro não citou em sua fala inicial a atuação do lobista Júlio Fróes na pasta. Só comentou o assunto depois de ser questionado pela oposição. “Nenhum lobista tinha sala privativa”, disse o ministro. Reportagem de VEJA mostra em fotos e relatos a atuação de Fróes dentro da sede do ministério. Ele tinha sala dentro do prédio, mesmo não sendo funcionário público, e liberava processos de licitações de forma irregular e por meio de pagamento de propinas. “Nunca vi esse lobista na minha vida. Certa vez o cumprimentei com professores da PUC em uma circunstância. Eu cumprimento muita gente por ser ministro.”
Fróes se apresenta como representante do Ministério da Agricultura. Funcionários disseram a VEJA que, em certa ocasião, ele lhes contou como pediu uma “gratificação” de 10% aos donos de uma gráfica - a Gráfica Brasil - em troca da renovação de um contrato com o ministério. Ele assegurou ter agido assim por instrução do então secretário-executivo, Milton Ortolan. “A Gráfica Brasil tinha contrato no valor de 8 milhões de reais e sofreu oito aditamentos, todos anteriores a minha entrada no ministério. A gráfica é uma empresa que tinha problemas, detectamos, paralisamos e contratamos outra empresa”, justificou nesta quarta-feira Rossi.
Ingenuidade e ódio
O ministro lamentou ainda a demissão de Ortolan no sábado. “Lamento o que ocorreu com meu secretário-executivo, ele se sentiu tão profundamente ofendido… eu não queria que ele fosse demitido, queria que ele fosse afastado. Ele é de minha confiança, mas tinha ingenuidade absoluta”, disse Rossi. O líder do PSDB, senador Alvaro Dias (PR), rebateu: “Não é possível Ortolan não saber da presença de um lobista com atividade intensa no Ministério da Agricultura.”
Rossi colocou-se no papel de vítima ao falar da demissão de Oscar Jucá Neto da diretoria financeira da Conab. “Não sei sentir ódio. Não vou processar Oscar Jucá e não quero causar constrangimentos às pessoas ao lado dele”, disse o ministro. Oscar aprovou pagamentos na Conab de forma ilegal, conforme mostrou VEJA. “A perfeição é um objetivo que temos que perseguir sempre, mas é difícil de conseguir. Não houve ilegalidade ou má-fé”.
(…)
Comento
Vamos lá. Júlio Fróes, ex-lobista e ex-presidiário — cumpriu pena por tráfico de drogas —, tinha, sim, sala no Ministério da Agricultura, mais propriamente na Comissão de Licitação. Rossi, pessoalmente, mandou assinar um contrato sem licitação redigido pelo outro, contra parecer técnico. E quem o levou a tanto? Segundo ele, o seu então secretário executivo e amigo, Milton Ortolan. E por que alguém de sua confiança agiu assim? Ele explica: por “ingenuidade absoluta”. Ou por outra: um capa-preta do PMDB como Rossi, homem de confiança do chefão do partido, Michel Temer, é uma “ingênuo absoluto”.
O ministro tem uma explicação até para o fato de o espancador de jornalista usar a entrada e o elevador privativos do ministério, reservado só a autoridades. Leiam que coisa singela:
“Nunca me preocupei com isso [com a triagem no acesso]. Tenho uma equipe maravilhosa de pessoas que trabalham lá. Não são pessoas voltadas para a atitude de evitar a entrada de pessoas. Eles são muito acolhedores, talvez tenha tido esse descuido. Mas eu não posso assumir a responsabilidade de controlar a portaria”.
Tenho aqui de conter uma furtiva lágrima. Isso quer dizer, leitor, que você, mesmo não tendo traficado drogas, não roubando dinheiro público e não espancando jornalistas, pode ter acesso ao Ministério da Agricultura pela ala reservada às autoridades. Aqueles critérios não são excludentes. Há o risco de os decentes também serem admitidos.
E quanto a Oscar Jucá? O homem acusou Rossi de uma coisinha simples, pequena, irrelevante: ter-lhe oferecido propina para se calar. Não! O ministro não vai processá-lo porque não quer constranger e expor seus familiares — no caso, Romero Jucá, líder do governo no Senado. Rossi é do tipo que respeita as famílias. Tanto é assim que a Conab é um cabidaço de emprego de familiares — o que ele promete corrigir agora.
Assim é conduzida a República. E que se registre: a base aliada ameaça retaliar o governo. Ninguém prometeu moralidade quando entrou no condomínio — ou no cortiço — do lulo-petismo (ver post desta manha). Nunca ninguém lhes fez essa exigência. Até porque não seria um petista a fazê-lo.
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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