Falar para quê? É muito mais fácil para Luiz Antônio Pagot, o diretor-geral do DNIT, envolver ministros do PT, do PMDB e do próprio PCdoB para chafurdarem junto com o PR no mar de lama. Se ele tinha tanto poder para manusear licitações, deve ter servido a muito mais gente. Então é só chamar a Veja, a Época, o Estadão e entregar informações. E devolver na mesma moeda. O mais grave de tudo é a afirmação de que muitas obras foram superfaturadas para pagar a campanha de Dilma Rousseff à presidência e basta seguir o rastro das doações das empreiteiras. Hoje, Blairo Maggi, o todo-poderoso senador do Mato Grosso, ex-governador e o homem por trás de Pagot, dá uma entrevista ao Globo, enquadrando o governo federal. As suas respostas são didáticas e oferecem, para o bom entendedor, o mapa do esquema para superfaturar uma obra. Além disso, Blairo confirma que todos sabiam de tudo dentro do Palácio do Planalto, especialmente o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e Miriam Belchior, a sucessora de Dilma no comando do PAC. Ontem, Paulo Bernardo negou as acusações perempetoriamente. Vejam, abaixo:
Senador, é verdade que o seu afilhado político, Luiz Antonio Pagot, diretor-geral do Dnit, pretende, no depoimento que fará ao Senado, amanhã, denunciar alguns ministros do governo?
BLAIRO MAGGI: Em primeiro lugar, quero esclarecer que não falo pelo Pagot. O que posso dizer sobre isso é que, pela convivência que tenho com ele, ameaças não fazem parte do seu estilo. É uma pessoa muito tranquila, trabalhadora. Na conversa que teve comigo, não fez ameaças. E duvido que tenha feito. Tudo o que saiu nos jornais, inclusive no seu, não saiu da boca dele, mas de informações de terceiros.
Então, o que o Pagot vai dizer no Senado nesta terça-feira? Melhor, por que ele faz tanta questão de depor no Senado, se ele já está demitido?
BLAIRO: Não é só ao Senado que ele faz questão de ir. Irá à Câmara também. Ele vai ao Congresso tentar mostrar que essas questões de superfaturamento não são reais. Acontecem de forma totalmente diferente. É isso que ele vai tentar mostrar. E quando ele diz "cumpro ordem" é porque, realmente, ele é um executivo, não um formulador. Ele executa ordens.
Como funcionavam?
BLAIRO: Mais uma vez repito: não falo pelo Pagot. Mas sei que, em seu depoimento, ele fará uma exposição basicamente técnica, e não política, de como as coisas funcionavam. Ele vai mostrar a burocracia, como as coisas eram tecnicamente administradas.
E como eram administradas?
BLAIRO: Vou te dar um exemplo bem simples. Você vai numa concessionária e compra um carro stand, com base no preço anunciado. Aí, você resolve botar um som, um ar-condicionado, vidro elétrico etc. Quando você vai efetuar o pagamento, claro que o preço já não é mais o mesmo. Assim acontece com todas as obras, inclusive construções de estradas: iniciam de um jeito e terminam de outro jeito.
Então, Pagot tinha autonomia para esse upgrade no "carro". E daí não tem sentido argumentar que ele cumpria ordens, não é mesmo?
BLAIRO: Não, não! Pelo contrário. Tudo o que era colocado depois nas obras tinha sempre a concordância do grupo que coordenava o PAC, e era necessário o empenho do Ministério do Planejamento. Eles que autorizavam a execução dessas despesas.
Então, tudo era feito com a concordância do administrador do PAC e do ministro do Planejamento?
BLAIRO: Isso sempre foi assim e é um procedimento administrativo normal. Essa tecnicidade, essa burocracia é que será mostrada, sem a menor intenção de comprometer ou proteger ninguém. Essa é a realidade que Pagot tentará mostrar no seu depoimento.
É verdade que o governo o pressionou a mandar Pagot não acusar ninguém no depoimento?
BLAIRO: Essa especulação é leviana. Seria uma coisa indigna para o governo e maior ainda para mim, como representante de Mato Grosso no Senado Federal.
Pagot não teria sido procurado pelo Palácio do Planalto?
BLAIRO: Mais uma vez, sou obrigado a observar que não falo pelo Pagot. Mas tenho certeza de que, se ele tivesse sido procurado, teria me falado.
Por que o senhor saiu zangado da reunião com os ministros Gilberto Carvalho e Ideli Salvatti, na qual foi anunciada a demissão de Alfredo Nascimento e o afastamento definitivo do Pagot?
BLAIRO: Você se refere à reclamação que fiz a Ideli?
Exatamente.
BLAIRO: Realmente, o tratamento não foi correto. Eles deveriam ter sido chamados um dia antes para conversar. O resultado seria o mesmo, mas menos traumático. Precisava ter tido mais sensibilidade. É muito difícil ser governo. E a pergunta que deixei na reunião foi esta: o procedimento do governo daqui para frente vai ser este? Os ministros ficam reféns do noticiário de fim de semana. Basta um jornal, uma revista ou uma emissora de televisão botar uma denúncia sem provas para condenar uma pessoa? Ou muda o tratamento ou todo fim de semana tem gente do governo sendo demitido. Primeiro, divulga-se a denúncia, e só aí vão ouvir o acusado. Às vezes, é demitido antes mesmo de apresentar sua defesa.
Qual o seu estado de espírito neste momento? O senhor está magoado com a presidente Dilma?
BLAIRO: Tenho grande admiração pela presidente Dilma. Eu sempre torci, torço e continuarei torcendo muito para que o governo dela encontre um rumo para fazer o melhor pelo país. Infelizmente, temos percalços na vida. A vida é cheia de percalços. Temos sempre que estar acima desses percalços para poder, inclusive, superá-los. Temos que ser maiores do que eles. Não temos que ficar magoados.
DO COTURNO NOTURNO
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