A coisa mais inútil com que se gastam papel e tinta (e tempo, no caso da Internet) é o suposto confronto entre a presidente Dilma e Luiz Inácio Apedeuta da Silva. Pode haver um desconforto aqui, outro acolá. É dado pela natureza da equação: Dilma tem a caneta, coisa com a qual Lula, subjetivamente, não se conforma até hoje. Deve passar noite e dia se perguntando: “Não fosse eu, ela seria o quê?” E o espelho lhe dá uma resposta correta: “Nada!” Mas é ela a presidente, não ele, o que o infelicita um tantinho. Que importância tem isso? Nenhuma! E já digo por quê. Antes, algumas outras considerações que me parecem relevantes.
Todos descontentes
Uma coisa é fato: ninguém está muito contente na chamada “base aliada”. Até os petistas vivem batendo cabeça, mais divididos em grupos no Congresso do que nunca. É claro que isso deriva também do tamanho inédito das bancadas. Mas esse fator não explica sozinho as atrapalhações. Divisões sempre houve — a questão é haver quem as una. Não há ninguém a fazê-lo de modo eficiente. Ademais, vê-se um governo acuado, de maneira que parece (e não é!) inédita, por denúncias de irregularidades. Qual é a origem desse mal-estar?
Uma coisa é fato: ninguém está muito contente na chamada “base aliada”. Até os petistas vivem batendo cabeça, mais divididos em grupos no Congresso do que nunca. É claro que isso deriva também do tamanho inédito das bancadas. Mas esse fator não explica sozinho as atrapalhações. Divisões sempre houve — a questão é haver quem as una. Não há ninguém a fazê-lo de modo eficiente. Ademais, vê-se um governo acuado, de maneira que parece (e não é!) inédita, por denúncias de irregularidades. Qual é a origem desse mal-estar?
O PT
Dilma não é Lula, e esse é o grande problema dos governistas. Muito especialmente depois do mensalão, o real coordenador político do governo Lula era… Lula! O “mito” — ninguém ousa contestá-lo na legenda, por mais graduado que seja, e quem já o fez se deu mal — resolvia todas as contendas, dirimia todas as dúvidas, dava a palavra final, e não se tocava mais no assunto. Isso acabou! Dilma não tem essa autoridade no partido, e todo mundo, a começar da própria, sabe disso. Mas não era só na sua legenda que sua palavra era lei.; também entre os aliados — e aí é a história de Lula que conta. Explico-me.
Dilma não é Lula, e esse é o grande problema dos governistas. Muito especialmente depois do mensalão, o real coordenador político do governo Lula era… Lula! O “mito” — ninguém ousa contestá-lo na legenda, por mais graduado que seja, e quem já o fez se deu mal — resolvia todas as contendas, dirimia todas as dúvidas, dava a palavra final, e não se tocava mais no assunto. Isso acabou! Dilma não tem essa autoridade no partido, e todo mundo, a começar da própria, sabe disso. Mas não era só na sua legenda que sua palavra era lei.; também entre os aliados — e aí é a história de Lula que conta. Explico-me.
Os aliados
O Lula sindicalista e o Lula político nunca tiveram o menor pudor em fazer acordos com adversários ou rifar aliados se a ação servisse para, nesta ordem: a) fortalecê-lo individualmente; b) fortalecer o seu grupo; c) fortalecer seu partido. Nesse sentido, o Apedeuta é o político mais despudorado do Brasil. Conheço empresários que já negociaram com o antigo líder sindical e conheço políticos que negociaram com o chefe máximo do petismo. Todos são unânimes em dizer que ele é de um, como dizer?, pragmatismo desconcertante. NINGUÉM PRECISA TER RECEIO DE SER O QUE É NA FRENTE DE LULA. Atendidas aquelas premissas, tudo é possível.
O Lula sindicalista e o Lula político nunca tiveram o menor pudor em fazer acordos com adversários ou rifar aliados se a ação servisse para, nesta ordem: a) fortalecê-lo individualmente; b) fortalecer o seu grupo; c) fortalecer seu partido. Nesse sentido, o Apedeuta é o político mais despudorado do Brasil. Conheço empresários que já negociaram com o antigo líder sindical e conheço políticos que negociaram com o chefe máximo do petismo. Todos são unânimes em dizer que ele é de um, como dizer?, pragmatismo desconcertante. NINGUÉM PRECISA TER RECEIO DE SER O QUE É NA FRENTE DE LULA. Atendidas aquelas premissas, tudo é possível.
O Apedeuta acredita que seu partido tem a moral da história e que, por isso, ele pode fazer política na mais absoluta amoralidade, que tudo está plenamente justificado. Nesse estrito sentido, ele é o melhor herdeiro da esquerda: o que importa é o feito, e não se faz omelete sem quebrar ovos. Isso explica o fato de que tudo o que havia de mais atrasado, de mais reacionário, de mais detestável e de mais venal na política se juntou ao petismo. Isso explica, também, o fato de que Lula e o PT não tiveram a menor dificuldade de se adequar àquilo que certos patriotas do patrimonialismo entendem por capitalismo no Brasil. Com Dilma, essas forças não conseguem ter a mesma desenvoltura. Não que ela seja de outra cepa necessariamente — afinal, é a criatura; isso é inegável. Ocorre que é preciso ter certo “talento” para negociar os pleitos “republicanos” da base aliada. E ela não é exatamente do ramo.
Cara-de-pau
Há também a formidável cara-de-pau de Lula, que Dilma nunca terá porque é outra a sua origem. Não goza da inimputabilidade que o Brasil, infelizmente, conferiu ao Apedeuta. Diante dos escândalos mais cabeludos, ele aparecia para afrontar a oposição, para chutar canelas, para acusar conspirações da “mídia”, o que animava a torcida, num grande movimento dos ruminantes a justificar a lambança, especialmente a rataiada que se espalha na Internet. Por mais que faça, ela não tem essa disponibilidade de caráter, esse “talento” específico. Essas coisas acabam fazendo diferença.
Há também a formidável cara-de-pau de Lula, que Dilma nunca terá porque é outra a sua origem. Não goza da inimputabilidade que o Brasil, infelizmente, conferiu ao Apedeuta. Diante dos escândalos mais cabeludos, ele aparecia para afrontar a oposição, para chutar canelas, para acusar conspirações da “mídia”, o que animava a torcida, num grande movimento dos ruminantes a justificar a lambança, especialmente a rataiada que se espalha na Internet. Por mais que faça, ela não tem essa disponibilidade de caráter, esse “talento” específico. Essas coisas acabam fazendo diferença.
É bem possível que, com Lula presidente, a sem-vergonhice do Ministério dos Transportes merecesse outra abordagem. Aliás, não há nada que se tenha feito lá nos últimos seis meses que não viesse sendo feito nos oito anos imediatamente anteriores. Isso explica, por exemplo, a situação miserável das estradas federais brasileira, que pioraram de modo formidável na gestão petista.
Dilma conseguiu herdar milhões de votos de Lula, herdou uma boa parcela de seus ministros, herdou uma penca de maldições que estão caindo no seu colo, mas ele não conseguiu lhe transmitir a habilidade no trato com a amoralidade. Muito bem! Dito isso, voltemos ao primeiro parágrafo.
Dissensões irrelevantes
Caracterizar, como fiz, o mal-estar e apontar as suas razões dizem-nos das inabilidades de Dilma, não de sua moral distinta; falam-nos da falta de uma aptidão específica, não de um outro norte. Esse é o governo do PT, e Dilma inexiste sem o partido — e o partido pertence a Lula. Ponto final! Imaginar uma “deslulização” do governo é dessas perdas de tempo que seduzem muita gente, mas que não darão em nada. Até porque o governo que Dilma herdou é aquele que ela ajudou a construir. Algumas farsas — como a dimensão e a velocidade do PAC ou do “Minha Casa, Minha Vida” — foram construídas com a ajuda da agora presidente.
Caracterizar, como fiz, o mal-estar e apontar as suas razões dizem-nos das inabilidades de Dilma, não de sua moral distinta; falam-nos da falta de uma aptidão específica, não de um outro norte. Esse é o governo do PT, e Dilma inexiste sem o partido — e o partido pertence a Lula. Ponto final! Imaginar uma “deslulização” do governo é dessas perdas de tempo que seduzem muita gente, mas que não darão em nada. Até porque o governo que Dilma herdou é aquele que ela ajudou a construir. Algumas farsas — como a dimensão e a velocidade do PAC ou do “Minha Casa, Minha Vida” — foram construídas com a ajuda da agora presidente.
Daqui a pouco chega 2012. Lula já se movimenta de modo frenético e é quem está organizando o partido para as disputas do ano que vem. Esses breves flertes de Dilma com a racionalidade — reconhecendo o trabalho de FHC ou admitindo que os programas sociais do país antecedem a chega do PT ao poder — perderão força, e o PT, unido, liderado por Lula, subirá no palanque para o discurso de sempre, de satanização das oposições (coisa que é diferente de confronto) e do passado. Dilma não é exatamente um cabo eleitoral eficiente e, se quiserem saber, não terá nem mesmo saúde para enfrentar maratonas eleitorais.
Isso quer dizer que Lula voltará, já voltou, com tudo, reassumindo seu papel de líder inequívoco das forças que estão atualmente no governo. As supostas divergências entre ambos que hoje embalam alguns sonhos e que encantam colunistas vão virar pó; perderão qualquer importância. Fechada as urnas, já se estará em ano pré-eleitoral. E Lula terá aberto a avenida para voltar a ser indicado como o homem capaz de “re-unir” o PT.
A “deslulização” do governo é só uma fantasia tola.
REV VEJA
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