A pesquisa Datafolha mostra que mais de 64% apóia um Lula ajudando Dilma a governar. E que mais ou menos o mesmo número acha que ele está, efetivamente, mandando nela. Fica a sensação, quase a certeza, de que o eleitor queria isso mesmo, alguém esquentando a cadeira para o ex-presidente voltar, com toda a pompa e circunstância em 2014. O que ainda não está claro é se esta situação interessa Dilma ou se ela, passada a primeira grande crise, vai assumir de fato a presidência perante o eleitor.
Na última semana, ficou claro que houve um choque de opiniões entre criador e criatura. Palocci saiu, como Lula não queria. Ideli e Gleisi desceram goela abaixo do barbudo. Diante do fato consumado, Lula apoiou as duas novas ministras. Espertamente. Pela reação dos politicos, da imprensa e dos analistas, as decisões de Dilma foram completamente inesperadas. E se foi imprevisível, o desfecho pode ser uma prova concreta de que o novo governo começou a se descolar do anterior, suscitando uma questão de fundo:
Se houvesse um racha entre Lula e Dilma, quem seria o maior prejudicado?
Não há dúvida alguma que o grande perdedor seria Lula, por uma série de razões. Dilma tem a mídia na mão, na medida em que Lula somente aparece, politicamente, quando se aproxima dela. Ou quando se distancia. É ele que insiste em fazer visitas e a informar que os dois vivem se ligando. Dilma tem a máquina pública na mão e pode varrer todos os aliados do Lula dos principais postos. Outro grande ponto a favor de Dilma é que ela poderia apostar no PT rachado e dividido, governando em coalizão com os outros partidos. O PT, sempre é bom lembrar, não tem nem 20% das bancadas na Câmara e no Senado. Dividido, vira um PTB da vida. O que Lula tem, além da popularidade? E popularidade sem caneta vale quanto? Nada, absolutamente nada.Distante de Dilma, Lula seria transformado em inimigo na trincheira, em traidor, em machista que não aceita que uma mulher seja mais do que ele, sujeito a todas estas construções que vitimizariam Dilma, com uma boa estratégia de marketing.
Se a presidente olhar a pesquisa publicada pelo Datafolha, vai ver que perdeu pontos justamente nos seus atributos pessoais, com desgaste direto nos pontos mais fortes da sua imagem. Dilma ficou mais indecisa, menos inteligente e menos líder para o eleitor. Não é difícil saber por quê. Lula fez questão de posar como um estadista durante a crise, marcando presença em encontros midiáticos com senadores, instalando uma espécie de governo paralelo na sua andança por Brasília. A sua demonstração de força enfraqueceu Dilma e houve, sim, esta intenção de ocupação de espaço. Da mesma forma, uma parte do PT conspirou o tempo inteiro para impor nomes ao governo. Ou seja: Dilma foi traída por quem deveria dar a ela uma sustentabilidade que só foi dada por quem? Pelo PMDB, justamente o partido que, se entrasse na "pilha" de Lula e do PT, poderia criar uma crise sem precedentes para Dilma.
Paradoxalmente, Dilma sai do episódio com escolhas a fazer. Pode optar por um PT que trai e por um Lula que atua para sabotar qualquer possibilidade de sucesso da pupila. Ou pode montar alianças pontuais com os demais partidos da sua larga base de apoio. Pode escolher entre protagonismo e subserviência. Pode optar por buscar dois mandatos ou por entrar na história como uma sombra de Lula. Pode deixar a gerência e assumir a presidência. Só vai conseguir isso se sair debaixo da influência de Lula e do PT. Não precisa deles. Tem o mandato. Tem o PMDB. Se tiver um pingo de auto-estima, esta será a sua atitude.
Obviamente, como oposição, estamos aqui a pregar a divisão, mas com seriedade e visão política. Só ela pode nos salvar. Ou alguém acha que o Aécio ganha de um poste?No entanto, pode ser um bom vice para o Temer.
Obviamente, como oposição, estamos aqui a pregar a divisão, mas com seriedade e visão política. Só ela pode nos salvar. Ou alguém acha que o Aécio ganha de um poste?No entanto, pode ser um bom vice para o Temer.
DO COTURNO NOTURNO
Nenhum comentário:
Postar um comentário