domingo, 22 de maio de 2011

ARTIGO: O caseiro e o ministro

Por Nilson Borges Filho (*)
Francenildo dos Santos é um retirante do nordeste brasileiro. Pobre e sem estudo, veio para Brasília em busca de alguma oportunidade profissional. Sem muitas opções aceitou o emprego de caseiro de uma mansão na capital Federal, que servia de cafofo para a realização  de obscenidades com o dinheiro público e com os vícios da carne. 
O excelente perfil traçado pela revista Piauí tornava público o patrimônio de Francenildo:  , cinco cuecas, três pares de meia, dois  pares de tênis, um sapato, quatro bermudas, três calças jeans, cinco camisetas e três camisas. Esse era todo o patrimônio de Francenildo que, com mais 370 reais de salário, levava uma vida dura, porém decente ao lado da mulher.  
Um dia comum, no ano de 2006, um senhor com ar bonachão, barba rala, figura do alto escalão da República, que tinha o poder de acalmar o mercado e tranquilizar o patronato brasileiro, com ótimo poder aquisitivo e com um patrimônio político que poderia fazê-lo sucessor do presidente Lula, foi desmascarado, publicamente, por um “ilustre” desconhecido, um simples e franzino nordestino. 
Antônio Palocci tem diversos ternos bem-cortados, inúmeras gravatas de grifes famosas, camisas sociais em escala, sapatos comprados no exterior e muitos agasalhos. Palocci também incorporou, recentemente,  ao seu patrimônio um apartamento de 6,6 milhões de reais e uma sala de 800 mil, na cidade de São Paulo. 
Soube-se depois, pela fala do caseiro, que Antônio Palocci, o poderoso ministro da Fazenda do governo petista, que respondia a processos por malfeitorias praticadas na prefeitura de Ribeirão Preto era frequentador assíduo da tal mansão, onde rolavam festinhas privadas como moças de fino trato e repartia-se o butim, resultado das negociatas com o erário público. 
Naquela oportunidade descobriu-se um depósito de trinta mil reais na conta do caseiro, na Caixa Econômica Federal. Palocci e sua turma quebraram, de forma criminosa,  o sigilo bancário de Francenildo e plantaram matéria na revista Época, onde o acusavam de receber dinheiro da oposição para, em troca, denegrir a imagem do ministro. Não deu certo, o caseiro conseguiu provar que a quantia tinha sido depositada por seu pai biológico, um empresário do nordeste. 
Já Palocci não consegue provar a origem dos 20 milhões que sua empresa arrecadou em “consultorias”. Quando Época publicou a matéria acusando o caseiro de receber dinheiro da oposição, desconfiava-se que o autor do vazamento do depósito tinha sido o jornalista Marcelo Neto, assessor de Palocci no ministério da Fazenda. Injustiça, que somente agora foi esclarecida pelo jornalista Paulo Nogueira. Segundo o ex-diretor das organizações Globo,  foi o próprio Palocci que levou, pessoalmente, à família Marinho o extrato da conta de Francenildo. 
Palocci não só agiu criminosamente quando mandou quebrar o sigilo bancário do caseiro, como levou a erro os editores de Época e a família Marinho, principal acionista do grupo Globo. O atual ministro da Casa Civil da presidente Dilma Rousseff, quando deputado, não deixou por menos: azeitou com verba do orçamento da União uma instituição dirigida por sua cunhada. 
Dilma que se refaz de uma grave pneumonia nos dois pulmões, curada com medicação introduzida através de cateter, está num constrangimento só, pois a desenvoltura do auxiliar em arrecadar fundos para a campanha presidencial está se aproximando do seu próprio enriquecimento. 
Um prócere petista com quem almocei recentemente afirmou, sem pedir sigilo, que a permanência de Palocci no ministério de Dilma interessa mais ao mercado do que ao próprio PT. O ex-ministro de Lula, jornalista Franklin Martins, conhecido pelo jogo duro como trata a mídia, saiu a campo para visitar algumas redações. O bruto está fazendo aquilo que mais gosta:  enquadrar os meios de comunicação em troca de verbas publicitárias.
 (*) Nilson Borges Filho é professor, Doutor em Direito e articulista colaborador deste blog.

Nenhum comentário:

Postar um comentário