A CNI (Confederação Nacional da Indústria) é hoje uma organização sindical pelega como outra qualquer — CUT, Força Sindical etc. Também ela goza de algumas mamatas típicas das associações de caráter corporativo — do capital ou do trabalho, tanto faz — e está agarrada ao governo, sendo mera correia de transmissão dos seus propósitos. Nota à margem: favor não confundir a “luta” das centrais por um mínimo maior com independência, sim?
A entrevista de Robson Braga de Andrade, presidente da CNI, à Folha de hoje dá conta desse vergonhoso atrelamento (ver post da manhã). Comentando o papel das oposições no país e convidado a avaliar se elas são ou não irresponsáveis, afirmou o valente:
“Não vou dizer irresponsável. Vou classificar assim: essa postura da oposição não é benéfica para o país. Eu acho que o papel de uma oposição é a de apoiar os bons projetos e de criticar de maneira positiva aqueles que não são bons para o país, mas apresentar propostas que sejam adequadas. Vou dar um exemplo. O governo FHC fez força e aprovou o fator previdenciário. No governo Lula, o PSDB foi contra o fator previdenciário. Ora, o fator previdenciário é bom ou não? É bom no governo FHC e não é bom no governo Lula?”
“Não vou dizer irresponsável. Vou classificar assim: essa postura da oposição não é benéfica para o país. Eu acho que o papel de uma oposição é a de apoiar os bons projetos e de criticar de maneira positiva aqueles que não são bons para o país, mas apresentar propostas que sejam adequadas. Vou dar um exemplo. O governo FHC fez força e aprovou o fator previdenciário. No governo Lula, o PSDB foi contra o fator previdenciário. Ora, o fator previdenciário é bom ou não? É bom no governo FHC e não é bom no governo Lula?”
Vênia máxima, a afirmação tem um tanto de mentira e outro tanto de ou ignorância ou má fé. Quem está na linha da frente para acabar com o fator previdenciário são parlamentares do PT e de legendas da base aliada, como o PTB, por exemplo. O PTB é o partido do senador Armando Monteiro (PE), antecessor de Braga na presidência da CNI. Essa gente não é mesmo engraçada? Aliás, o ministro Garibaldi Alves (Previdência), do PMDB, que já confessou não ter a menor idéia do que faz lá, flerta com a idéia e encomendou “um estudo” sobre o fim do fator.
O que quer o tal Braga? Que os partidos que apóiam Dilma ataquem o fator para que os de oposição possam defendê-lo, enquanto ministros de estado, como Carlos Lupi (Trabalho) e o próprio Garibaldi, ficam de bico calado? Pode-se acusar o PSDB de muita coisa, menos de defender uma posição quando governo e outra como oposição. Esse partido, se não me engano, é o PT. O PSDB, mais de uma vez, votou com o governo Lula com mais “fidelidade” do que a base aliada.
Braga está bravo porque as oposições querem um salário mínimo maior do que R$ 545. Ele não considera isso responsável. E, de novo, pretende que elas ajudem o governo a… governar. Os partidos que apóiam Dilma continuariam a acenar com generosidades para a “classe trabalhadora”. É uma piada!
O “líder empresarial” (juro que nunca tinha ouvido falar dele) também foi convidado a comentar a equação inflação-câmbio-juros — esta, sim, pode ser mortal para o setor que ele representa. Aí a língua do homem travou. Nas palavras engraçadíssimas de Agnaldo Brito, o repórter que o entrevistou, ele, atenção!!!, “aceitou fugir de temas como câmbio, juros e tributos ao ver o embate no Congresso Nacional em relação ao novo salário mínimo.”
Como é que é? Ele “aceitou fugir” daquilo que poderia deixá-lo embaraçado com o governo da Soberana — caso realmente falasse em nome da indústria — e preferiu atacar a oposição? O que quer dizer “aceitar fugir”?
Não ficaria melhor assim: “Braga preferiu fugir de temas espinhosos que indispõem a indústria com o governo Dilma e preferiu atacar a oposição?” Uma das misérias intelectuais e políticas do Brasil é o que o maior partido do Brasil é sempre o “Partido do Governo”.
Vejam esse Braga aí. O que ele quer? Uma política macroeconômica consistente, por exemplo? Ora, claro que não! Vai ficar puxando os saco do poder, como fazem os representantes da CUT ou da Força, para tentar arrancar alguns caraminguás de concessão. Ora um setor da indústria leva uma renunciazinha fiscal aqui, ora leva outra ali… No melhor dos mundos, criam-se algumas reservas de mercado para o “capital nacional”.
Por que brigar com o governo quando se pode ficar de joelhos diante dele?
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