A Superintendência da Polícia Federal no Piauí deflagrou ontem a Operação Mercadores e prendeu dez pessoas acusadas de integrar grupo criminoso especializado em grilagem, falsidade documental, estelionato, venda de liminares e sentenças, tráfico de influência, corrupção ativa e passiva.
O desembargador do Tribunal de Justiça do Piauí Luiz Gonzaga Brandão de Carvalho disse que um dos presos na Operação Mercadores é o juiz de Parnaguá (823 km de Teresina), Carlos Henrique Teixeira, que se apresentou durante a tarde no Tribunal de Justiça e ficará preso no Quartel do Comando da Polícia Militar do Piauí, na capital.
O advogado de Carlos Henrique Teixeira, Lúcio Tadeu, informou que a prisão é temporária por cinco dias e causada pela acusação de venda de liminares e sentença.
“O juiz está sendo acusado de comercializar liminares e decisões judiciais. Há indício de que isso teria acontecido. Vamos chegar ao fundo da questão para saber se esse magistrado vendia sentença para beneficiar agropecuaristas não só do Piauí, mas fora do Estado”, disse o desembargador Luiz Gonzaga Brandão de Carvalho.
A Polícia Federal efetuou as prisões do juiz, empresários, advogado e lobistas acusados de crime de grilagem de terras nas cidades de Corrente, Parnaguá, no Piauí, Governador Valadares (MG) e Distrito Federal.
O superintendente da Polícia Federal, delegado Marco Antonio Farias, todos os presos são acusados de envolvimento de venda irregular de terras de propriedade do governo do Piauí para empresários das regiões sul, sudeste e centro-oeste.
"A investigação teve início há sete meses quando durante uma operação de combate ao tráfico de entorpecentes descobrimos o envolvimento de magistrados com grilagem e acionamos o Ministério Público", falou o delegado Marco Antonio Farias.
Entre os presos está um assessor parlamentar de deputado federal no Piauí que a Polícia Federal do Piauí e o ex-policial civil Cecílio Alves, que chegou a exercer o cargo de delegado de Polícia Civil no Piauí temporariamente e foi expulso da corporação por irregularidades no exercício da função.
"A operação foi um sucesso. Se for preciso, vamos cortar na própria carne", declarou o desembargador Luiz Gonzaga Brandão. Ele classificou a participação do juiz como "um manto negro", mas garantiu que isso não vai atingir a honra do Poder judiciário.
Segundo o desembargador Luiz Gonzaga Brandão, a prisão de Carlos Henrique Teixeira causou transtorno, mas é uma resposta à sociedade. "Operação que não teve pirotecnia, justamente para que a individualidade de cada um seja respeitada. Está sendo feita uma cirurgia moral no Piauí. Os envolvidos responderão por crime de falsidade ideológica, venda de liminares e formação de quadrilha. Há indícios de que ele teria usado de seu poder para a venda de sentenças e decisão, beneficiando outros integrantes do esquema", disse Brandão.
Luiz Gonzaga Brandão disse que como não há tipificação de grilagem, o magistrado do Piauí vai ser acusado por comercialização de liminares e decisões judiciais.
A promotora Ana Isabel Mota Dias e o procurador Alípio Santana, do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado da Procuradoria de Justiça do Piauí, afirmaram que não é possível ainda saber a extensão das terras griladas, mas há indícios de venda de lotes para outros estados.
O delegado regional da Polícia Federal no Piauí, Janderliê Gomes Lima, disse que o juiz está sendo a investigado por tráfico de influência e exploração de prestígio e que ex-policial civil preso é um ex-agente formado em Direto. Ele acrescenta ainda que a quadrilha é toda de fora do Piauí.
“O grupo migrou de outros estados e nenhum deles é piauiense. O juiz é de Goiânia e há um ano está na comarca de Parnaguá”, falou Janderliê.
O primeiro a ser preso foi o ex-policial civil Cecílio Alves, em um condomínio Vila Mediterrâneo, de alto padrão na zona leste de Teresina.
O presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil, Sebastião Alencar, informou que um dos presos da Operação Mercadores é Cecílio Alves, que é ex-agente da Polícia Civil, mas que foi expulso da polícia após inquérito administrativo. “Cecílio era policial, mas não chegou a ser delegado”, declarou Sebastião Alencar.
A Superintendência da Polícia Federal cumpriu dez mandados de prisão, quatro mandados de conduto coercitiva e 19 mandados de busca e apreensão. Todos os mandados foram expedidos pelo desembargador Luís Gonzaga Brandão de Carvalho.
Participaram diretamente da operação 63 policiais federais, um promotor de justiça e um juiz designado pelo Tribunal de Justiça do Piauí.
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