sábado, 6 de abril de 2019
O governo Bolsonaro pode se queixar de tudo, menos de surpresa. O que
lhe ocorre – e a recepção selvagem a Paulo Guedes, na CCJ da Câmara,
esta semana, resume a ópera – era previsível.
Ele foi eleito para faxinar o establishment político, um dos mais
corruptos e poluídos do planeta. E não se faz isso impunemente.
A reação se manifesta em todos os poderes, instituições e áreas de
influência: mídia, oligarquia cultural, OAB, CNBB, entre outros.
Há uma ameaça latente a todas as zonas de conforto da sociedade,
habituadas a conviver com a corrupção, desde que em dosagens que não
matassem o paciente – isto é, o país.
O PT levou-o à UTI, o que desagradou a alguns. Mas o combate empreendido
pela Lava Jato, a princípio saudado, passou a incomodar a mais gente
ainda, sobretudo quando excedeu o âmbito do PT e chegou a setores que
antes o criticavam, como PSDB e outros.
O ministro Gilmar Mendes é o rosto mais visível dessa mutação. Antes,
classificava o governo petista de “cleptocracia”; depois, achou
interessante que os petistas se tornassem habitués de seu gabinete e já o
chamassem de “pátio dos milagres”. O temor comum os uniu.
Bolsonaro capitalizou eleitoralmente o despertar da maioria silenciosa,
que começou a sair de sua retração já nas manifestações de 2013. O
crescimento da Lava Jato levou ao impeachment e à eleição do candidato
que personalizava a ruptura. Os derrotados estão unidos na tarefa comum
de providenciar um terceiro turno.
José Dirceu, condenado em segunda instância a 30 anos de prisão – e não
obstante solto e sem tornozeleira -, disse, em uma de suas entrevistas,
que o projeto liberal de Paulo Guedes tem tudo para dar certo, o que
tornaria o período Bolsonaro longo e próspero.
É preciso, portanto, dentro de sua visão estratégica, impedir que esse projeto seja posto em prática – e mãos à obra.
O ato primeiro, em pleno curso, é inviabilizar a reforma da Previdência,
o que imporá impacto negativo ao mercado, com o respectivo agravamento
dos índices sociais negativos (desemprego, violência, descrédito do
governo etc.). A rejeição ao pacote anticrime de Sérgio Moro faz parte
dessa estratégia, o que une establishment e facções criminosas, ambos
movidos pelo mesmo interesse.
Basta ver a ameaça que o relator do pacote de Moro, senador Marcos do
Val, recebeu por parte de criminosos contrariados com o seu conteúdo.
Teve sua família ameaçada e a ameaça descrita em detalhes sórdidos e
irreproduzíveis. A oposição radical (PT, PSol, PcdoB etc.) não chancela a
forma, mas subscreve o conteúdo.
O que até aqui o governo concebeu como estratégia de reação é a ocupação
das mídias sociais, de modo a falar direto à população. É um começo.
Mas as reformas não serão votadas pela internet. Algo mais precisa ser
feito para que o Congresso se sinta pressionado.
Se não haverá troca-troca – não ao menos na escala capaz de estabelecer
maiorias seguras -, a pressão terá de vir das ruas. Ulysses Guimarães,
que conhecia bem a Casa, dizia que só um poder reinava soberano sobre o
Congresso: o das ruas.
A história recente dá-lhe razão.
Ruy Fabiano é jornalista DO J.TOMAZ
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