segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Quem elegeu Bolsonaro


segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Quem elegeu Bolsonaro foi quem radicalizou o discurso, quem aparelhou o Estado e o STF, quem dividiu o povo entre nós e eles, quem colocou um “poste” na Presidência, gritou “é golpe!” e tentou pôr outro “poste”. Artigo dos professores Adriano Gianturco e Lucas Azambuja, do Ibmec-MG, publicado pela Gazeta do Povo:

Bolsonaro não foi eleito porque metade dos eleitores brasileiros seria racista, machista e homofóbica. Não foi porque os homens e mulheres comuns seriam marionetes de fake news e grupos de WhatsApp. Ele não foi eleito por uma conspiração das elites contra a justiça social e os “pobres andando de avião”. Bolsonaro não foi eleito porque milhões de brasileiros se tornaram fascistas do dia para a noite, ou porque eleição sem Lula é golpe.
Quem elegeu Bolsonaro foram os que xingaram pessoas comuns de fascistas porque votaram no Bolsonaro e não acreditavam mais no PT. Foi a cuspida de Jean Wyllys em Bolsonaro, pois ela representou a maneira como a esquerda quis “dialogar” com quem pensa diferente. Quem o elegeu foram o #Elenão e outras manifestações em que militantes, em via pública, destruíram, urinaram e queimaram símbolos pátrios ou imagens de Bolsonaro. Foram os protestos do MST, MTST e black blocs, que depredaram patrimônio público e privado ou queimaram pneus, fechando avenidas e deixando o trabalhador preso no trânsito dentro do transporte coletivo abarrotado. Quem elegeu Bolsonaro foi a facada do Adélio, a “boa cova” do Mauro Iasi e o “sem derramamento de sangue, não há redenção” de Benedita da Silva.
Quem elegeu Bolsonaro foram aqueles que, diante de quase 70 mil assassinatos por ano, importam-se mais em proibir armas de brinquedos para crianças, em desmilitarizar a polícia e colocar lâmpadas de LED nas ruas. Quem elegeu Bolsonaro foi Maria do Rosário, que preferiu xingar de estuprador o deputado em vez de debater sobre a redução da maioridade penal no mérito da questão. Foi a insistência dos grandes veículos de comunicação em perguntar sobre a ditadura militar em lugar de fazer perguntas sobre propostas concretas. Foram os ataques no Roda Viva, foram os jornalistas que preferiram “lacrar” a fazer perguntas, foi a comparação entre Jesus e refugiados. Quem elegeu Bolsonaro foram os grupos que fizeram manifestos em “defesa da democracia” ao mesmo tempo que silenciavam com relação a Venezuela, Cuba e Angola.

Quem elegeu Bolsonaro foi o politicamente correto, que preferiu discutir banheiros transgêneros, enquanto quase 25% das crianças e adolescentes sofrem com privações de saneamento básico. Que preferiu implementar ideologia de gênero e transformar adolescentes em militantes, enquanto sete em cada dez estudantes do ensino médio têm nível insuficiente em Português e Matemática, segundo o MEC. Bolsonaro foi eleito por causa das tentativas de controle das redes sociais e de censurar comediantes em nome do combate ao preconceito. Quem elegeu Bolsonaro foram os artistas-militantes subsidiados pela Lei Rouanet. Foram os que pensam ser uma boa ideia enfiar crucifixos no ânus, quebrar imagens de santos e vilipendiar outros símbolos religiosos para protestar contra o machismo e conservadorismo dos evangélicos e católicos. Quem elegeu Bolsonaro foram artistas, jornalistas e intelectuais que trataram como fanáticos de extrema-direita pessoas comuns, como a Dona Regina, que expressou em um programa de televisão sua preocupação e desaprovação em expor crianças a um homem nu em nome da “arte” e do “combate à homofobia”.
Quem elegeu Bolsonaro foram os que se recusaram em assumir a responsabilidade pela maior recessão econômica da história brasileira. Foram os que gritavam contra a reforma trabalhista e a favor do imposto sindical, enquanto mais de 12 milhões de pessoas estão desempregadas. Quem elegeu Bolsonaro foram os defensores de mais regulação, enquanto o pequeno empreendedor é soterrado por burocracia e alvarás e o trabalhador perde seu emprego porque a empresa se mudou para o Paraguai. Foram os investimentos bilionários em infraestrutura em ditaduras no exterior, enquanto a nossa infraestrutura se deteriorava. Foram as pedaladas fiscais e foi a redução de IPI para os amigos do rei.
Quem elegeu Bolsonaro foram os que disseram que Lula foi preso sem provas. Foram os que ignoraram as cuecas e malas cheias de dinheiro. Bolsonaro foi eleito por quem disse que a compra de dossiê do adversário político foi uma coisa de “aloprados”. Foram os que acreditaram e repetiam que o Lula não sabia de nada no mensalão. Foram os que gritaram que Sergio Moro é agente da CIA ou dos tucanos. Quem elegeu Bolsonaro foram aqueles que, diante da corrupção generalizada do PT, insistiam com “e o Cunha? ”, “e o Aécio? ”. Foi quem chamou o Bessias para tentar tornar o Lula ministro para ter foro privilegiado. Quem elegeu Bolsonaro foram os que, diante das várias delações e provas, repetiam que tudo era um golpe das elites. Foi o “estocar vento” e a “saudação à mandioca” em meio à corrupção e à crise econômica que elegeu Bolsonaro. Ele foi eleito por quem achava que roubar para o partido não era tão grave quanto roubar para si. Quem elegeu Bolsonaro foi quem radicalizou o discurso, quem aparelhou o Estado e o STF, quem dividiu o povo entre nós e eles, quem colocou um “poste” na Presidência, gritou “é golpe!” e tentou pôr outro “poste”. DO O.TAMBOSI
Adriano Gianturco é coordenador do Curso de Relações Internacionais no IBMEC-MG. Lucas Azambuja é sociólogo e professor titular no IBMEC-MG.

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