Operação Boca de Lobo cumpre mandados expedidos pelo Superior Tribunal de Justiça. Delator afirma que Pezão recebia mesada de R$ 150 mil quando era vice de Cabral.
Por Arthur Guimarães, Leslie Leitão, Paulo Renato Soares e Cristina Boeckel, TV Globo e G1 Rio
A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (29) Luiz Fernando Pezão
(MDB), governador do Rio de Janeiro. A força-tarefa da Lava Jato deu voz
de prisão contra o político por volta das 6h no Palácio Laranjeiras,
residência oficial do chefe do estado.
Batizada de Boca de Lobo, a operação é baseada na delação premiada de
Carlos Miranda, operador financeiro de Sérgio Cabral. O ex-governador,
de quem Pezão foi vice, também está preso.
Comboio da Polícia Federal deixou o palácio com o governador preso às
7h35. Ele chegou à Superintendência da PF, na Praça Mauá, às 7h52.
Segundo o Ministério Público Federal, Pezão opera esquema de corrupção
próprio, com seus próprios operadores financeiros. Há provas documentais
do pagamento em espécie a Pezão de quase R$ 40 milhões, em valores de
hoje, entre 2007 e 2015.
Na avaliação da força-tarefa da Lava Jato, solto, o governador poderia
dificultar ainda mais a recuperação dos valores, além de dissipar o
patrimônio adquirido em decorrência da prática criminosa. Segundo o MPF,
o esquema de corrupção ainda estava ativo.
A assessoria do governo do estado afirmou que não vai se pronunciar.
Com a prisão de Pezão, assume automaticamente Francisco Dornelles, seu
vice.
Resumo
- A prisão preventiva foi determinada pelo STJ;
- São nove mandados de prisão, incluindo a de Pezão, e 30 de busca e apreensão;
- A decisão foi baseada em delação de Carlos Miranda, operador financeiro de Cabral;
- A Justiça determinou o bloqueio de R$ 39 milhões em bens;
- São investigados os crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa e corrupção ativa e passiva.
- Pezão é o quarto governador do Rio a ser preso.
Os nove presos
- Luiz Fernando Pezão, governador do Estado do Rio de Janeiro
- José Iran Peixoto Júnior, secretário de Obras de Pezão
- Affonso Henriques Monnerat Alves da Cruz, secretário de Governo de Pezão
- Luiz Carlos Vidal Barroso, servidor da Casa Civil e Desenvolvimento Econômico
- Marcelo Santos Amorim, sobrinho do governador
- Cláudio Fernandes Vidal, sócio da JRO Pavimentação
- Luiz Alberto Gomes Gonçalves, sócio da JRO Pavimentação
- Luis Fernando Craveiro de Amorim, sócio da High Control Luis
- César Augusto Craveiro de Amorim, sócio da High Control Luis
A Polícia Federal cumpre ainda 30 mandados de busca e apreensão. Um
deles é na casa de Pezão em Piraí, no Sul do estado, base do governador.
Há equipes também no Palácio Guanabara, sede do governo, em
Laranjeiras. Motoristas que passavam em frente, na Rua Pinheiro Machado,
buzinavam, em sinal de comemoração.
A ordem de prisão preventiva foi expedida pelo ministro Felix Fischer,
do Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde governadores têm foro.
Atualmente, dos três poderes do Estado do Rio, estão presos o
governador e o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge
Picciani.
Boca de Lobo
Carlos Miranda detalhou o pagamento de mesada de R$ 150 mil para Pezão
na época em que ele era vice do então governador Sérgio Cabral. Também
houve, segundo a delação, pagamento de 13º de propina e ainda dois bônus
de R$ 1 milhão como prêmio.
Segundo o depoimento à Justiça, o "homem da mala" do ex-governador
Sérgio Cabral disse que o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando
Pezão, guardou R$ 1 milhão em propina com um empresário do Sul Fluminense.
O trecho da delação, homologada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo
Tribunal Federal, foi revelado pelo jornal O Globo em abril.
O dinheiro vinha de empreiteiras e fornecedoras que tinham contrato com
o governo do estado, afirmou o delator. Miranda acrescentou ainda que,
de 2007 a 2014, Pezão, na época vice-governador, também ganhou um 13º
salário, além de dois bônus, de R$ 1 milhão cada.
Com a prisão de Luiz Fernando Pezão nesta quarta-feira (29), quatro dos últimos cinco governadores eleitos do Rio de Janeiro estão ou já foram presos. Sérgio Cabral, Anthony Garotinho e Rosinha Matheus foram presos quando já não eram mais governadores do RJ. A exceção é Wilson Witzel, que toma posse em 1º de janeiro de 2019.
Nas duas ocasiões, o governador negou as acusações. Sobre a mesada, Pezão disse que "as afirmações eram absurdas e sem propósito". "O governaor afirma que jamais recebeu recursos ilícitos e já teve sua vida amplamente investigada pela Polícia Federal", disse a nota.
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