Montagem
sobre foto: Gerson Nascimento; fotos: Gabriel Reis; Waldemir
Barreto/AG. Senado; AFP PHOTO/Jefferson BERNARDES; AFP PHOTO/NELSON
ALMEIDA; Adriano Machado/AG. ISTOé; Jefferson Rudy; Vanessa
Carvalho/Brazil Photo Press; ED FERREIRA/ESTADãO CONTEúDO/AE; Roberto
Stuckert Filho/PR.
O exército oculto
A
sequência de personagens ocultos começa pelo próprio Lula. O primeiro
ato de Haddad no segundo turno foi ir à Curitiba receber do
ex-presidente a ordem para que parasse de visitá-lo. Assim, a retirada
de Lula da campanha já começou não sendo uma decisão de Haddad, mas uma
determinação do próprio Lula. Na prática, porém, só o que mudou foi a
ausência do contato pessoal entre o criador e a criatura. Emissários do
PT têm ido a Curitiba e, na cela na sede da PF, colhem as orientações do
ex-presidente para a campanha. Um desses emissários é o advogado Emídio
Pereira de Souza, ex-prefeito de Osasco.
Velada
ou explícita, a presença de Lula em um eventual governo Fernando Haddad
é uma expectativa óbvia. Até porque Haddad foi colocado como candidato
para exatamente ser um avatar de Lula. De forma ainda mais explícita do
que aconteceu quando da escolha de Dilma Rousseff como sua substituta.
Caso siga preso, será um conselheiro evidente, participando
especialmente das articulações políticas e das negociações com aliados,
sua especialidade. Se deixar a cadeia, Lula poderia vir a ter uma
posição de destaque no Ministério de Haddad. A posição mais provável
seria ministro das Relações Exteriores.
Dentro
da linha inicialmente imaginada de transformar a eleição em plebiscito,
o PT imaginava eleger Dilma Rousseff senadora por Minas Gerais. O plano
de Dilma era obter um palanque no qual viesse a defender as realizações
de seu governo e seguir reforçando ali a narrativa de que seu
impeachment foi um golpe. Os votos mineiros lhe dariam a legitimidade
para contar tal história. Dilma já era cotada no PT como provável
presidente do Senado. Novamente, o plano fracassou. Dilma não foi eleita
senadora. Mas segue no leque de opções de Haddad para algum posto
técnico no governo. Como o Ministério das Minas e Energia, que ocupou no
início do primeiro governo Lula.
Minas
e Energia é a área que abriga a Petrobras, berço dos escândalos
revelados pela Operação Lava Jato. E é da Petrobras que vem outro
exemplo de quem se esconde na barriga do Cavalo de Tróia. O
ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli é hoje um dos
coordenadores da campanha de Haddad. Gabrielli responde a duas ações de
improbidade por mal feitos cometidos no período em que comandava a
estatal. No Tribunal de Contas da União (TCU), Gabrielli foi
responsabilizado por danos cometidos à Petrobras e condenado a pagar,
junto com o ex-diretor Internacional e ex-diretor da BR Distribuidora
Nestor Cerveró, R$ 320 milhões, frutos de prejuízos ocorridos nas
negociações com a refinaria de Pasadena.
O
núcleo mais radical do partido pode estar agora mais escanteado do
comando central da campanha de Haddad. Mas segue no PT e segue
influente. Caso do ex-senador Lindbergh Farias (PT-RJ), de Fernando
Pimentel, ex-governador de Minas Gerais, de Guilherme Boulos (PSOL),
derrotado no primeiro turno, mas sempre um soldado de primeira hora de
Lula e, por óbvio, do onipresente ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
No primeiro turno, em um momento que parecia mais favorável à vitória
de Haddad, Dirceu declarou que o projeto do PT não era ganhar a eleição,
era “tomar o poder”. A frase infeliz – numa democracia, o poder é
sempre do povo, ninguém deve se arvorar o direito de tomá-lo – foi
desautorizada por Haddad e, desde então, Dirceu submergiu. Mas segue
distribuindo as cartas nos bastidores da campanha. Outra que mantém
ascendência, mas foi aconselhada, nos últimos dias, a ficar na muda foi a
presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), seguidora também da
linha mais radical. “Quem vai acreditar que José Dirceu, Gleisi Hoffmann
e outros não terão influência em um eventual novo governo do PT com
Haddad?”, questiona o analista político André Pereira César, da Hold
Assessoria Legislativa. “A certeza da volta de diversos desses
personagens é um problema para Haddad. O antipetismo tornou-se a marca
mais importante desta eleição”, emenda Leonardo Barreto.
Nos
bastidores, alguns partidos do chamado grupo progressista que o PT
tenta trazer para junto de si no segundo turno, como o PDT e o PSB,
admitem que a existência das figuras que ficaram marcadas pelos
escândalos de corrupção e pelos erros de condução da era petista
complicaram as composições no segundo turno. Ao aliar-se publicamente
com o PT e, de quebra, com integrantes do partido que já foram
condenados ou estão respondendo a ações judiciais, existe um receio de
que as outras siglas acabem sendo contaminadas pelo sentimento
antipetista que tem dificultado a vida de Haddad no segundo turno.
Leonardo Barreto simplifica o sentimento: “Ninguém aposta em cavalo
perdedor”. Principalmente, se for de Tróia.
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