Ele prestava depoimento quando teve prisão decretada. Segundo advogado dele, o político recebeu o mandado quando estava iniciando o seu depoimento.
Por Paula Resende, e Vanessa Martins, G1 GO
O ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB) foi preso nesta quarta-feira (10) enquanto prestava depoimento à Polícia Federal em operação que investiga pagamento de propinas em campanhas eleitorais, em Goiânia. O advogado dele, Antônio Carlos Almeida, conhecido como Kakay, confirmou a informação ao G1 e declarou estar "perplexo".
O ex-governador tinha depoimento marcado para as 15h, mas teria chegado
duas horas mais cedo e entrado pelos fundos para evitar os jornalistas.
Segundo a defesa de Perillo, ele "recebeu o decreto de prisão quando
estava iniciando o seu depoimento [...] e optou por manter o depoimento
por ser o principal interessado no esclarecimento dos fatos".
A assessoria de comunicação da PF informou ao G1 que Perillo continuava em oitiva às 16h30. A corporação não disse se o mandado é de prisão preventiva ou temporária.
O político é considerado suspeito de receber R$ 12 milhões em propina
de empreiteiras para os pleitos eleitorais em 2010 e 2014. A operação
ocorreu em decorrência de delações da Odebrecht na Operação Lava Jato.
Kakay afirmou que "não há absolutamente nenhum fato novo que justifique
o decreto do ex-governador Marconi Perillo, principalmente pelas
mencionadas decisões anteriores que já afastaram a necessidade de prisão
neste momento". Veja a nota na íntegra ao fim da reportagem.
A data do depoimento foi marcada após a defesa de Marconi pedir à
Polícia Federal que o político fosse ouvido após as eleições. Perillo
disputava o cargo de senador, mas recebeu apenas 416.613 votos e não foi
eleito.
Investigação
Cinco pessoas foram presas quando a Operação Cash Delivery foi
deflagrada, no dia 28 de setembro, e cumpriu mandados em endereços
ligados a Marconi Perillo. Foram presos Jayme Rincón, o filho dele,
Rodrigo Godoi Rincón, Márcio Garcia de Moura – policial militar e
motorista de Rincón –, o empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior e o
advogado Pablo Rogério de Oliveira.
Até a manhã de sábado (6), apenas Márcio Garcia seguia preso. O G1 tenta contato com a Polícia Militar para verificar se ele segue preso.
Jayme Rincón, que é ex-presidente da Agência Goiana de Transportes e
Obras (Agetop) e foi coordenador financeiro de campanha eleitoral em
2010, disse em depoimento à PF que “recursos” para campanhas eleitorais
de candidatos aliados foram entregues pela Odebrecht a seus motoristas
no apartamento que tem em São Paulo.
Na ocasião ele também disse que esses valores eram “destinados, em sua
maioria, para campanhas de candidatos aliados” e que “parte dos valores
era oficializado com ajuda de empresas parceiras” – o que pode
configurar lavagem de dinheiro, de acordo com a PF. Jayme disse ainda
que “todo o montante destino à campanha de Marconi Perilllo foi
legalizado”.
Ele foi solto dias depois de prestar depoimento.
Escutas da Polícia Federal presentes no inquérito que culminou na
Operação Cash Delivery, obtidos pela TV anhanguera, mostram um diálogo
que, segundo a corporação, revela a entrega de R$ 1,2 milhão em propina
da Odebrecht para campanhas de Perillo em 2010 e 2014.
Outro documento, também obtido pela TV Anhanguera, mostra que o
empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior, preso na mesma operação,
confirmou à Polícia Federal que prestou serviços a uma empresa onde,
segundo as investigações, foram entregues R$ 1,8 milhão da Odebrecht. Na
ocasião, ele também disse nunca ter recebido nenhuma quantia ilícita da
empreiteira.
No inquérito consta que Marconi, ao solicitar os valores para suas
campanhas, se mostrava favorável às demandas da Odebrecht em Goiás,
como, por exemplo, na construção do VLT, que não saiu do papel, além de
obras de esgoto no Entorno do Distrito Federal.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), Perillo, quando ainda
era senador e depois como governador, pediu e recebeu propina para
favorecer a Odebrecht em contratos e obras. Os valores, segundo as
investigações, foram de R$ 2 milhões em 2010 e R$ 10 milhões em 2014.
Operação Cash Delivery
Na denúncia, Marconi Perillo é citado como líder do esquema. Jayme
Rincón é apontado como braço-direito do ex-governador, responsável pela
entrega do dinheiro solicitado pelo político. O filho de Jayme, Rodrigo
Rincón, teria colaborado diretamente com o recebimento do dinheiro,
tendo sido beneficiário de parte dos pagamentos.
Além disso, os policiais militares Sergio Rodrigues de Souza (falecido)
e Márcio Garcia de Moura teriam transportado o dinheiro conforme
pedidos de Marconi, assim como Pablo Rogério de Oliveira e Carlos
Alberto Pacheco Junior.
Ao todo, foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão. A ação
ocorreu em cinco cidades – Goiânia (GO), Pirenópolis (GO), Aruanã (GO),
Campinas (SP) e São Paulo (SP). Foram apreendidos R$ 80 mil na casa de
Jayme Rincón. Outros R$ 940.260, na casa do motorista dele.
De acordo com as investigações, a propina era entregue em dinheiro em
espécie e transportada em malas e mochilas. O MPF apontou que houve ao
menos 21 entregas do dinheiro irregular em 2014 feitas a mando da
Odebrecht para favorecer Perillo.
Veja o que dizem os citados
- Marconi Perillo
A
Defesa de Marconi Perillo, perplexa, vem registrar a completa
indignação com o decreto de prisão na data de hoje. O Tribunal Regional
da Primeira Região ja concedeu 2 liminares para determinar a liberdade
de duas outras pessoas presas nessa mesma operação, através de decisões
de 2 ilustres Desembargadores. O novo decreto de prisão é praticamente
um “copia e cola” de outra decisão de prisão já revogada por
determinação do TRF 1. Não há absolutamente nenhum fato novo que
justifique o decreto do ex Governador Marconi Perillo, principalmente
pelas mencionadas decisões anteriores que já afastaram a necessidade de
prisão neste momento. Na visão da defesa, esta nova prisão constitui uma
forma de descumprimento indireto dos fundamentos das decisões de
liberdade concedidas a outros investigados. A Defesa acredita no Poder
Judiciário e reitera que uma prisão por fatos supostamente ocorridos em
2010 e 2014, na palavra isolada dos delatores, afronta pacífica
jurisprudência do Supremo, que não admite prisão por fatos que não
tenham comtemporaneidade. Marconi Perillo recebeu o decreto de prisão
quando estava iniciando o seu depoimento no departamento de Polícia
Federal e optou por manter o depoimento por ser o principal interessado
no esclarecimento dos fatos.
Kakay
- Odebrecht
A empresa informou, por meio de nota, que “continua colaborando com a
Justiça e reafirma o seu compromisso de atuar com ética, integridade e
transparência”.
- Jayme Rincón
A
Defesa do Jayme Rincón, constituída especialmente para o HC, desde o
início da deflagração da Operação Cash Delivery, sustenta que a operação
tem cunho eleitoreiro. A prova disto é que uma delação já há muito
conhecida, a da Odebrecht, que aponta pagamentos de caixa dois nas
campanhas de 2010 e 2014, foi o fundamento das prisões. É evidente a
falta de contemporaneidade que possa justificar uma medida tão grave
como a supressão da Liberdade. Ninguém está acima da lei e a Defesa não
tem nenhuma preocupação com a investigação. Mas o uso abusivo da prisão
em um momento pré-eleitoral é extremamente grave e tende a
desestabilizar o necessário equilíbrio nas eleições. A decisão do TRF
começa a resgatar a verdade e a devolver ao eleitor de Goiás a autonomia
para decidir o seu destino. Desde o início a Defesa afirmou que a
prisão era injusta, extemporânea e ilegal. A espetacularização do
processo penal não serve para o estado democrático de direito.
Kakay
- Márcio Garcia de Moura
Nem o policial militar Márcio Garcia de Moura nem o advogado dele quiseram comentar o assunto durante a audiência de custódia.
Em nota, a assessoria de comunicação social da Polícia Militar informou
que "todas as providências legais serão adotadas em decorrência da
operação desencadeada pela Polícia Federal no tocante ao possível
envolvimento e prisão de um integrante da Polícia Militar".
- Pablo Rogério de Oliveira
A defesa do ex-policial militar e advogado Pablo Rogério de Oliveira
disse que também não tem conhecimento dos autos, mas pedirá a liberdade
provisória do investigado. “Ele tem todos os requisitos para responder
em liberdade, não causa prejuízo ao processo. Tem também a questão da
lei eleitoral, que protege eleitores e candidatos”, afirmou o advogado
José Coelho de Oliveira.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Goiás disse que foi informada da prisão.
"A Ordem tem por regra acompanhar toda ocorrência envolvendo seus
inscritos por meio de sua Comissão de Direitos e Prerrogativas. Antes de
tudo, para assegurar o respeito às suas prerrogativas profissionais.
Depois, para certificar-se de que será punido em caso de comprovação de
culpa, observando sempre o devido processo legal, contraditório e amplo
direito de defesa, garantias que assistem a todo cidadão, não apenas aos
advogados".
- Carlos Alberto Pacheco Júnior
O empresário negou, durante audiência de custódia, envolvimento com o esquema.
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