Estudo publicado na revista 'Science' aponta reservatório oculto sob a superfície da região polar sul do 'Planeta Vermelho'. Descoberta foi realizada por pesquisadores italianos.
Por Carolina Dantas, G1
Pesquisadores italianos anunciaram nesta quarta-feira (25) que há indícios de presença de água líquida em Marte. Segundo dados coletados por um radar da Agência Especial Europeia (ESA), há um "reservatório" de água líquida repousando abaixo de camadas de gelo e poeira na região polar sul do planeta vermelho.
A descoberta levanta a possibilidade de que se encontre vida no
planeta, já que a água é essencial para a existência de organismos
vivos. Os cientistas tentam há muito tempo provar a existência de água
líquida em Marte. O estudo de pesquisadores, a maioria ligada ao
Instituto Nacional de Astrofísica da Itália, foi publicado nesta quarta na revista "Science".
A confirmação científica sobre como deve ser esse líquido – doce ou
salgado – deverá demorar, de acordo com o doutor em astronomia pela USP,
Douglas Galante. Ele diz que para conseguir isso, precisamos perfurar o
solo do planeta em uma profundidade que ainda não estamos preparados.
"A certeza vai existir só quando formos lá em Marte com uma sonda
perfurar e medir", disse Galante. O trabalho foi feito com a ajuda do
radar da sonda Mars Express, lançada em 2003, que mediu a quantidade de
água na geleira. Os dados foram coletados entre maio de 2012 e dezembro
de 2015.
Profundidade incerta
Outra questão é que o estudo não determina a profundidade exata do
reservatório. Isso significa que os cientistas não puderam especificar
se é uma piscina subterrânea, algo parecido com um aquífero ou apenas
uma camada de lodo.
"Em comparação com os lagos terrestres, é um lago pequeno com seus 20
quilômetros de diâmetro. Mas não conseguimos saber a profundidade porque
a água atenua o sinal do radar", disse o astrônomo autor do estudo,
Roberto Orosei, em entrevista para a BBC.
Água em salmoura
Antes dos pesquisadores italianos, a Nasa já tinha apontado outras evidências de água líquida em Marte. Em 2015, a agência anunciou que o robô Curiosity descobriu sinais da existência de 'salmouras' na superfície do planeta, formadas quando os sais no solo, chamados de percloratos, absorvem vapor de água da atmosfera.
"O que a gente descobriu primeiro é que existia água congelada em solo
marciano. Depois, foram encontradas evidências de água escorrendo pela
superfície de Marte, mas ela aparecia esporadicamente, só no verão, e
era salobra. E o que esse novo trabalho mostrou? É a primeira vez que
foi encontrada uma grande quantidade de água na superfície marciana em
estado líquido", explicou Galante.
Esse lago, ou reservatório, é muito parecido com um outro encontrado na
Antártica, o Vostok. Ele é estudado há anos por cientistas para ser uma
referência – eles querem entender se é possível a proliferação de vida
no local.
Além disso, ainda em 2015, a Nasa apontou que o "Planeta Vermelho", por
sua distância do Sol, seria muito gelado para conseguir manter água na
forma líquida na superfície, mas os sais no solo poderiam diminuir seu
ponto de congelamento, permitindo a formação de camadas de água bem
salgada – como uma salmoura.
O que é importante entender é que esses sais na água de Marte, os
percloratos, podem não ser os melhores para proliferação de organismos
vivos e são tóxicos. Pesquisadores mostram, no entanto, que há alguns
tipos de vida que poderiam viver nessa salmoura do planeta vermelho.
"Há muito tempo já dizia que a superfície de Marte seria inabitável por
causa desse sal. Mas desde 2017 estão saindo trabalhos mostrando
micro-organismos na Terra que são resistentes. Quem sabe eles também
estão em Marte?", completou.
Material orgânico
Neste ano, a Nasa publicou também na revista "Science" que descobriu material orgânico preservado entre rochas
(argilitos) com cerca de três bilhões de anos em cratera do planeta
Marte. Os cientistas acreditam que pode ser uma evidência de vida no
passado.
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