Josias de Souza
Michel Temer equipou-se durante várias semanas para levar aos brasileiros uma boa notícia: o reajuste dos benefícios do Bolsa Família. Para demonstrar que tudo está dando certo, o presidente programara um reajuste generoso. Coisa de 10%. Alertado para a ausência de caixa, teve de se contentar com alguma coisa acima da inflação do ano passado, de 2,95%. Imaginou que, adicionando esse percentual à percepção de que o pior da crise econômica já passou, ninguém no Brasil deixaria de ficar otimista.
O problema é que, além das crises econômica e moral, há no Brasil uma crise semântica. Falta um consenso quanto ao significado de “dar certo”. O noticiário inspira algumas dúvidas. Por exemplo: o “certo” se mede pelo número de denúncias criminais contra o presidente —há duas na prateleira e uma terceira no forno— ou pelo número de desempregados?
Segundo o IBGE, 13,7 milhões de brasileiros frequentaram o olho da rua no primeiro trimestre de 2018. Isso equivale a 1,4 milhão a mais do que nos últimos três meses 2017. É o suficiente para restaurar o pessimismo ou convém esperar pela demissão de mais uns 500 mil?
Antes de celebrar a notícia de que Temer decidiu parar de apertar o nariz da clientela do Bolsa Família é preciso certificar-se de que todos —governo e sociedade— estão falando a mesma língua. Do contrário, qualquer boa notícia será sempre diluída no melado de perversão que escorre do governo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário