Carlos Miranda sustenta que peemedebista recebia ainda "bônus" e décimo terceiro de propina; governador nega acusações
Por Chico Otavio / Daniel Biasetto
O Globo
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão
Domingos Peixoto
RIO
— Em delação homologada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal
Federal (STF), Carlos Miranda, operador do esquema de corrupção no Rio,
declarou que o grupo pagava uma mesada de R$ 150 mil ao governador do
Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB). E disse ainda que, de 2007 a 2014, a
propina ao peemedebista, na época vice-governador, incluía décimo
terceiro salário e dois bônus, cada qual no valor de R$ 1 milhão.
O
depoimento, contido no anexo 21 da colaboração, já encaminhado pelo STF
ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), corte competente para julgar o
governador, sustenta que, além da mesada de R$ 150 mil, uma propina
extra de R$ 300 mil pagou os serviços prestados por uma empreiteira na
casa de Pezão em Piraí, município do Vale do Paraíba fluminense.
PROPINA A CABRAL
A
delação de Miranda, apontado como o principal operador do esquema
Cabral, é considerada fundamental nas investigações contra o governador
do Rio. O operador disse que, no início do governo Cabral, em 2007, foi
encarregado pelo então governador a pagar R$ 150 mil mensais a Pezão.
Ele disse que, depois que Cabral deixou o Guanabara, os pagamentos se
inverteram, e Pezão passou a pagar propina ao ex-governador num valor
mensal de R$ 400 mil.
Outra
revelação de Miranda envolve Pezão com os empreiteiros responsáveis
pela instalação de placas de energia solar nos postes ao longo dos 72
quilômetros do Arco Metropolitano, que custaram ao governo do estado R$
96,7 milhões, mais de R$ 22 mil por unidade. Ele disse que recebeu ordem
Cabral para pagar R$ 300 mil à empresa High End, especializada em
painéis solares, como remuneração por serviços prestados na casa de
Pezão em Piraí.
Para efetuar o pagamento, acionou o doleiro Renato Chebar,
outro colaborador da Operação Calicute. O dinheiro foi entregue por uma
pessoa designada por Chebar nas mãos de Luiz Fernando Amorim, dono da
empresa. De acordo com a delação, Luiz Fernando é irmão de César Amorim,
empresário que instalou os painéis solares na obra do Arco
Metropolitano.
O
esquema de pagamento a Pezão, sustenta o delator, incluiu em 2013 dois
prêmios cada um no valor de R$ 1 milhão, que eram pagos a membros da
organização criminosa em algumas oportunidades.
O
primeiro bônus, segundo ele, foi repassado em quatro parcelas no
escritório do lobista Paulo Fernando de Magalhães Pinto, em Ipanema.
Magalhães chegou a ser preso com Cabral, mas hoje vive sob regime de
prisão domiciliar. O dinheiro foi providenciado por Chebar, que enviou o
assessor Vivaldo Filho. Já o segundo prêmio, ele detalha em outro anexo
da delação, referente a Construtora JRO.
OUTRO LADO
Por
meio da assessoria, o governador afirmou que "repudia com veemência
essas mentiras". "As afirmações são tão absurdas e sem propósito que
sequer há placas solares instaladas em sua casa em Piraí. Ele reafirma
que jamais recebeu recursos ilícitos e já teve sua vida amplamente
investigada pela Polícia Federal". Procurada por O GLOBO, a defesa do
empresário Paulo Magalhães ainda não se manifestou.
27/04/2018
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