segunda-feira, 30 de abril de 2018

PF seguiu rastro da propina da Odebrecht até marqueteiro de Gleisi


postado em 30/04/2018 22:06


São Paulo e Brasília, 30 - A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, detalhou, em denúncia apresentada nesta segunda-feira, 30, a rota identificada pela Polícia Federal entre o departamento de propinas da Odebrecht e empresa responsável pela campanha da senadora Gleisi Hoffmann em 2014. A presidente nacional do PT, o ex-presidente Lula, os ex-ministros Antonio Palocci e Paulo Bernardo, e o empresário Marcelo Odebrecht foram acusados de lavagem de dinheiro e corrupção.
A peça acusatória destaca que a ‘investigação feita pela autoridade policial coligiu muitos documentos, apreendidos por ordem judicial de busca e apreensão (como planilhas, e-mails), inclusive mediante quebra de sigilo telefônico, requeridas pelo Ministério Público Federal’.
A denúncia narra que R$ 5 milhões saíram do departamento de propinas da Odebrecht para a campanha de Gleisi, dos quais R$ 3 milhões foram registrados junto à Justiça Eleitoral. Dentro do valor declarado, Raquel diz que R$ 1,8 milhão são correspondentes a lavagem de dinheiro - despesas que efetivamente não foram realizadas.
A denúncia expõe que Gleisi fez, em datas próximas aos supostos repasses, 13 ligações para o delator da Odebrecht, Benedicto Júnior, o ‘BJ’. Seu chefe de gabinete, Leones Dall’Agnol, também fez outras quatro ligações e enviou mensagens de texto ao celular do executivo.
Paralelamente aos contatos, a procuradora-geral destaca que o departamento de propinas da Odebrecht providenciava os pagamentos via doleiros.
Dados do Drousys, sistema de contabilidade das vantagens indevidas da empreiteira, dão conta de datas dos repasses a endereços de marqueteiros de campanha de Gleisi.
“É que, ao lado da planilha47(fl. 429), consta anotação de entrega para pessoa de nome BRUNO, telefone 11 986080551, no endereço da rua Gomes de Carvalho, 921, 5° andar, São Paulo/SP, e ainda as iniciais ‘FM’, ‘C/FM’, ‘e-mail’, que relacionam a planilha a Fernando Migliaccio, executivo da Odebrecht responsável pela implementação do pagamento da ‘propina’.”
O endereço na Gomes de Carvalho é o da empresa Sotaque, que fez a campanha de Gleisi. Em depoimento no âmbito das investigações, o publicitário Oliveiros Domingos Marques Neto afirmou que chegou a ser pago com R$ 1,1 milhão pelos serviços de campanha, e que não chegou a ter em mãos os R$ 3 milhões declarados a ele por Gleisi no TSE.
Oliveiros disse que conseguiu receber ‘R$ 170 mil e a promessa de parcelamento do restante dos R$ 2 milhões’ e que ‘com a deflagração da Operação Lava Jato, não teve mais retorno e optou por não fazer outras cobranças’.
“No ponto, um registro impõe-se: a prestação de contas da campanha de GLEISI HOFFMANN em 2014 foi fraudada perante o Tribunal Superior Eleitoral para escamotear (ocultar e dissimular para fins de lavagem) o recebimento dos valores obtidos pelos atos de corrupção denunciados”, afirma Raquel.
Já o sócio de Oliveiros disse que chegou a se reunir com Fernando Migliaccio, da Odebrecht, na sede da empresa em São Paulo na presença do chefe de gabinete de Gleisi, Leones. “Bruno assumiu que Fernando e Leones estavam falando sobre verbas de campanha da senadora Gleisi Hoffmann (fls. 171 e 433). Não se recorda da monta discutida, mas pode dizer que se tratava de muito dinheiro”, diz trecho da denúncia.
A Polícia Federal ainda realizou diligências na empresa Hoya, do doleiro Álvaro Novis, usado pela Odebrecht para entregas de dinheiro. As investigações dão conta de que ele se subcontratava a transportadora Transnacional para realizar as entregas de dinheiro. Um funcionário da empresa, quando interrogado pela Lava Jato, reconheceu que fez entregas no endereço da empresa do marqueteiro de Gleisi.
Registros da Transnacional obtidos pela força-tarefa revelam que havia registros de entregas para a agência Sotaque naquele ano.

(Luiz Vassallo, Rafael Moraes Moura e Julia Lindner)

URGENTE: PGR DENUNCIA LULA, PALOCCI E GLEISI POR CORRUPÇÃO E LAVAGEM


Raquel Dodge acaba de denunciar ao STF o ex-presidente Lula, o ex-ministro Antonio Palocci e a senadora Gleisi Hoffmann, além de seu marido Paulo Bernardo, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Também foi denunciado Leones Dall Adnol, chefe de gabinete da petista.
A denúncia foi feita a partir de delação da Odebrecht sobre a alocação para o PT de US$ 40 milhões, em troca de decisões de interesse do grupo, como o aumento da linha de crédito à exportação para Angola.
A medida foi viabilizada pela assinatura, em junho de 2010, do Protocolo de Entendimento entre Brasil e Angola. Posteriormente, o termo foi referendado pelo Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão que tinha Paulo Bernardo entre os integrantes.
Na condição de exportadora de serviços, a Odebrecht recebeu do governo angolano parte dos valores conseguidos com financiamentos liberados pelo banco estatal brasileiro. O país africano teve o limite de crédito ampliado para R$ 1 bilhão, graças à interferência dos envolvidos.
Delações, como a de Emílio Odebrecht, foram corroboradas com planilhas, e-mails e quebras de sigilo telefônico dos investigados.

PGR: GLEISI USOU LARANJAS PARA DISSIMULAR PROPINA


Na denúncia apresentada agora há pouco ao STF, Raquel Dodge detalha como parte do dinheiro repassado pela Odebrecht foi parar no caixa 2 da campanha de Gleisi Hoffmann, a musa do acampamento de Curitiba.
Com base em provas obtidas no inquérito, a PGR mostra como Gleisi e o maridão PB ajustaram o recebimento da grana, por meio de Benedicto Júnior, da Odebrecht, e Leones Dall’Agnol, chefe de gabinete da petista.
“Dos cinco milhões, Gleisi Helena Hoffmann, Paulo Bernardo e Leones Dall’Agnol comprovadamente receberam, em parte por interpostas pessoas, pelo menos três milhões de reais em oito pagamentos de quinhentos mil reais cada, a título de vantagem indevida, entre outubro e novembro de 2014.”
Para disfarçar, Gleisi declarou à Justiça Eleitoral despesas inexistentes de R$ 1,8 milhão. Os pagamentos, segundo a PGR, foram feitos a empresas que serviram de laranjas para escoar os recursos e dissimular sua origem.

O núcleo político do esquema

Ao especificar a participação de cada um dos cinco denunciados, a PGR enfatizou que o caso reproduz o modelo de outros apurados na Lava Jato, com a existência de quatro núcleos específicos.
O núcleo político formado por Lula, Gleisi Hoffmann, Paulo Bernardo e Antônio Palocci; o econômico, comandado por Marcelo Odebrecht; o administrativo, por Leones Dall’Agnol; e o financeiro, movimentado por doleiros responsáveis pela coleta e distribuição do dinheiro.
Os integrantes do núcleo político já foram, conforme mencionado na atual peça de acusação, denunciados por organização criminosa por envolvimento no esquema articulação pela Construtora Odebrecht.

VALE A PENA VER DE NOVO: Os segredos que Palocci vai revelar

segunda-feira, 30 de abril de 2018

TERREMOTO O que Palocci tem para contar deve provocar nova turbulência no País e no PT
(Crédito: ANDRE DUSEK/AE)
Germano Oliveira e Eduardo Militão
IstoÉ
O ex-ministro Antonio Palocci é um pote até aqui de mágoa. Na última semana, movido por esse sentimento que o consome desde setembro de 2016, quando foi preso em Curitiba, o homem forte dos governos Lula e Dilma deu o passo definitivo rumo à delação premiada: contratou o advogado Adriano Bretas, conhecido no mercado por ter atuado na defesa de outros alvos da Lava Jato que decidiram, como Palocci, romper o silêncio. Lhano no trato, embora dono de temperamento mercurial quando seus interesses são contrariados, o ex-ministro resolveu abrir o baú de confidências e detalhar aos procuradores todo arsenal de informações acumulado por ele durante as últimas duas décadas, em que guardou os segredos mais recônditos do poder e nutriu uma simbiótica relação com banqueiros e empresários. “Fiz favor para muita gente. Não vou para a forca sozinho”, desabafou Palocci a interlocutores.
ISTOÉ conversou nos últimos dias com pelo menos três fontes que participaram das tratativas iniciais para a colaboração premiada e ouviram de Palocci o que ele está disposto a desnudar, caso o acordo seja sacramentado. Das conversas, foi possível extrair o roteiro de uma futura delação, qual seja:
> Palocci confirmará que, sim, é mesmo o “Italiano” das planilhas da Odebrecht e detalhará o destino de mais de R$ 300 milhões recebidos da empreiteira em forma de propina, dos quais R$ 128 milhões são atribuídos a ele.
> Contará como, quando e em quais circunstâncias movimentou os R$ 40 milhões de uma conta-propina destinada a atender as demandas de Lula. Atestará que, do total, R$ 13 milhões foram sacados em dinheiro vivo para o ex-presidente petista. Quem sacou o dinheiro e entregou para Lula foi um ex-assessor seu, o sociólogo Branislav Kontic. Palocci se compromete a detalhar como eram definidos os encontros de Kontic com Lula. Havia, por exemplo, uma senha, que apenas os três sabiam.
> Dirá que parte da propina que irrigou essa conta foi resultado de um acerto celebrado entre ele e Lula durante a criação da Sete Brasil, no ano de 2010. O ex-presidente teria ficado com 50% da propina. Um total de R$ 51 milhões.
> Está empenhado em revelar como foi o processo de obtenção dos R$ 50 milhões para a campanha de Dilma, num negócio fechado entre o PT e a Odebrecht, com a ajuda de Lula e do ex-ministro Guido Mantega. E mostrará como Dilma participou das negociatas e teve ciência do financiamento ilegal.
> Afirmará que a consultoria Projeto foi usada também para recebimento de propinas. Indicará favorecidos. Comprometeu-se ainda a entregar o número de contas no exterior que foram movimentadas por esse esquema.
> Pretende mostrar como empresas e instituições financeiras conseguiram uma série de benefícios dos governos petistas, como isenção ou redução de impostos, facilidades junto ao BNDES, renegociação de dívidas tributárias, etc.
Palocci sabe que uma chave está em suas mãos. Com ela, pode abrir as fechaduras da cela onde está detido, no frio bairro de Santa Cândida, na carceragem da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Para ajudar a desvendar o megaesquema de corrupção na Petrobras, a memória do ex-ministro da Fazenda de Lula e ex-chefe da Casa Civil de Dilma será colocada à prova. Ele tem informações que podem explicar como, a partir do início do governo do ex-presidente Lula, organizações criminosas foram montadas para sustentar politicamente o PT, o PMDB e o PP e mantê-los no poder. Tudo à base de propina, dizem os investigadores da Operação Lava Jato, que serviram também para enriquecimento pessoal.
Há interesse dos procuradores em saber em minúcias, se possível com documentos, dados sobre a gênese do que se convencionou chamar de Petrolão. Um investigador de Curitiba disse que Palocci terá de reunir dados novos e com “fundamentação” se quiser convencer a PF e a Procuradoria a endossar o acordo. Ele entende que o ex-ministro precisa apresentar provas ou, ao menos, indícios “consistentes” e tratar deles num depoimento “de peito aberto”. A julgar pelo cardápio apresentado até agora pelo ex-ministro, isso não será óbice. Segundo interlocutores que conversaram com Palocci nas últimas semanas, o ex-ministro não enxerga problema algum em assumir a clássica postura de delator. Sente-se amargurado. Abandonado por companheiros de outrora. Por isso está “bastante tranquilo” para assumir as consequências dos eventuais efeitos colaterais da colaboração premiada.
DELAÇÃO O novo advogado de Palocci, Adriano Bretas, iniciou conversas com o MPF para fechar o acordo de colaboração premiada (Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil)

No início das negociações para a delação, o ex-ministro se propôs a fornecer informações detalhadas sobre os R$ 128 milhões da Odebrecht que teriam passado por ele. Embora tenha chamado a atenção, procuradores acharam pouco. Sustentaram que o que já foi reunido a esse respeito seria o suficiente para a elucidação dos fatos. E que as revelações não seriam tão bombásticas assim. Diante do impasse, foi deflagrada uma nova rodada de negociação, que culminou com a renúncia de José Roberto Batochio de sua equipe jurídica. Depois de procurar ao menos três escritórios de advocacia pouco antes da Páscoa, Palocci acertou com uma dupla de criminalistas já ambientada ao mundo daqueles que resolvem colaborar com a Justiça em troca de reduções das penas. Além de Bretas, foi contratado também o advogado Tracy Reinaldet dos Santos.

Após a primeira etapa de conversas com o novo time de defensores, ficou definido que Palocci vai começar a abrir sua caixa de Pandora pelo escândalo da Sete Brasil, uma empresa criada em 2010 para construir as sondas (navios de exploração de petróleo) para a Petrobras. Além do capital da estatal, a Sete tinha dinheiro de bancos, como o BTG e de três fundos de estatais (Petros, Previ e Funcef). As seis primeiras sondas da empresa foram construídas pelo estaleiro Enseada Paraguaçu (com capital da Odebrecht, OAS e UTC). Cada sonda ao custo de US$ 800 milhões. As seis, portanto, estavam orçadas em US$ 4,8 bilhões (ou R$ 15,3 bilhões), embora a Sete Brasil estimasse um investimento de US$ 25 bilhões para construir 29 sondas até 2020. Na delação, Palocci pretende contar que o PT exigiu que a Sete Brasil e as empreiteiras do estaleiro Enseada Paraguaçu pagassem propinas de 1% do contrato de US$ 4,8 bilhões, ou seja, US$ 48 milhões (R$ 153 milhões). Desse total, dois terços, ou R$ 102 milhões, ficariam para o partido e um terço (R$ 51 milhões) para diretores da Petrobras. Sem medo de ser feliz, Palocci vai entregar que Lula exigiu metade das propinas. Não para o partido, nem para a companheirada, mas para ele, Lula.
“Sapo barbudo”
O depoimento de Rogério Araujo, ex-executivo da Odebrecht que acabou de celebrar um acordo com a Procuradoria-Geral da República, fornece o caminho das pedras sobre a tentativa do PT de embolsar ilegalmente R$ 153 milhões desviados da Sete Brasil. Araujo disse que o PT exigiu que 1% do contrato das sondas da Sete Brasil, assinado em 2012, fosse fixado como propina. O valor havia sido pedido pelo “sapo barbudo”, numa referência a Lula. “O Pedro Barusco (ex-gerente da Petrobras e dirigente da Sete Brasil), voltou para mim e falou: ‘Olha, esse 1%… vocês vão ser procurados por um interlocutor do PT, o sapo barbudo deu instrução. Ele me disse que 1% vai ser todo pago para o PT, porque não querem empresas estrangeiras pagando esses dois terços para o PT. Eles têm confiança na Odebrecht”, relatou Araújo na sua delação. A conversa de Araújo com Barusco aconteceu em 2012, depois da assinatura do contrato com o consórcio formado pela Odebrecht, OAS e UTC, além da japonesa Kawasaki. “A conversa foi no Rio. Normalmente eu almoçava com o Pedro Barusco. Só eu e ele”, asseverou Araújo, explicando que as seis sondas da Sete Brasil para a Petrobras custariam US$ 4,8 bilhões. Barusco disse, então, a Araújo que estava acertado que 1% das seis sondas era na proporção de um terço para a “casa” (dirigentes da Petrobras) e dois terços para o PT (R$ 102 milhões). Quem receberia essa propina seria o então tesoureiro João Vaccari, preso em Curitiba. É aí que Palocci entra em cena. O superior de Rogério Araújo, o executivo Marcio Farias disse que o ex-ministro Palocci havia lhe pedido uma reconsideração na propina da Sete Brasil. Ou seja, que os 100% de 1% fossem destinados para o PT, pois Lula entrou no negócio e estava pleiteando a metade do valor.
Como a operação precisava do aval do topo da hierarquia do esquema, Marcelo Odebrecht foi acionado. Ele, então, mandou chamar Palocci e disse que as comissões da Sete Brasil destinadas ao PT já estavam incluídas na conta corrente do partido no Setor de Operações Estruturadas, o “departamento de propina” da empresa, entre as quais a “Italiano” (Palocci), o “Pós-Itália” (Mantega) e o “Amigo” (Lula). Essa conta, que Palocci atestará que é mesmo dele, chegou a somar R$ 200 milhões em 2012. Se sua delação for aceita pelos procuradores, Palocci irá confirmar não só o encontro com Marcelo como os valores da propina repassada para Lula, dinheiro este derivado da Sete Brasil e que já estava contemplado na planilha da empreiteira – perfazendo um total de R$ 51 milhões.
ESTALEIRO DE ILEGALIDADES
Os contratos das sondas da Sete Brasil renderam US$ 48 milhões em propinas

(Crédito:Eraldo Peres/AP Photo)
Como na exuberante movimentação bancária do ex-ministro entre 2010 e 2015, boa parte dos recursos depositados era oriunda de sua empresa, a Projeto, as consultorias de Palocci merecerão um capítulo à parte em sua delação. Os serviços contratados iam além dos conselhos. Muitas vezes, os serviços de consultoria nem eram prestados. Traduziam-se em lobby. Em português claro: tráfico de influência em favor de grandes empresas junto aos governos petistas. Na condição de interlocutor preferencial da banca e da meca do PIB nacional, Palocci teria negociado ajuda a várias empresas e bancos. Por isso, segundo seus interlocutores, ele promete contar os bastidores das concessões de benesses a grupos econômicos.
Quem tem mais a perder, no entanto, é PT. E o próprio Lula. Não por acaso, o partido entrou em parafuso quando Palocci sinalizou que estava disposto a partir para a delação. Nos últimos dias, dirigentes do partido e emissários do ex-presidente foram escalados para ir a Curitiba, onde o ex-ministro está preso. Todos ainda acalentam o sonho de que Palocci volte atrás. A despeito de as ofertas serem muitas, e tentadoras, o ex-ministro já avisou: não pretende recuar. Prevendo um novo infortúnio, petistas que conviveram com Palocci no Congresso já têm até em mente uma daquelas narrativas espertas destinadas a desvincular Lula de todo e qualquer crime que tenha cometido com o testemunho e a cumplicidade metódica de Palocci. Eles mencionam um caráter supostamente “individualista” do ex-ministro, desde que debutou para a política em Ribeirão Preto. Claro, só os convertidos, e inocentes úteis, vão cair em mais essa catilinária.
28/04/17DO R.DEMOCRATICA

DUQUE DELATA

O golpe da Segunda Turma do STF para tirar Lula da cadeia vai fracassar.
Depois de Antonio Palocci, que fechou acordo com a PF, agora é a vez de Renato Duque.
Segundo O Globo, uma parte de seu acordo com a Lava Jato já foi até homologado por Sergio Moro:
“Preso desde novembro de 2014, o engenheiro Renato Duque deve ser o próximo investigado pela Lava Jato a assinar um acordo de delação premiada em Curitiba.
O ex-diretor acaba de se tornar colaborador formal da força-tarefa em um acordo internacional e está em negociações avançadas com os procuradores para passar a delatar também nos casos da Lava Jato.”

Duque auxilia Lava Jato no Panamá

O Antagonista apurou que Renato Duque também auxilia a Lava Jato no Panamá, em parceria com a força-tarefa de Curitiba.
A Lava Jato no Panamá também pega em cheio o PT e José Dirceu.

Prazo para recurso de Dirceu se esgota na quinta-feira

O Antagonista apurou que a defesa de José Dirceu ainda não abriu a intimação eletrônica com o resultado do julgamento que rejeitou seus embargos infringentes. O prazo vence hoje às 23h59.
Se os advogados não a abrirem, o sistema da Justiça o intimará automaticamente. Como amanhã é feriado, o petista terá até quinta-feira para entrar com os embargos de declaração.
A execução da pena ocorrerá depois desse julgamento.

"No Gideões, Bolsonaro diz que seu trabalho é 'missão de Deus'"


segunda-feira, 30 de abril de 2018

Pré-candidato atacou ideologia de gênero e foi aplaudido pelos presentes

O pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL) participou neste domingo (29) dos Gideões Missionários, em Balneário Camboriú, Santa Catarina. No maior evento pentecostal da América Latina, ele fez um discurso contra a ideologia de gênero.
Apresentado pelo pastor Reuel Bernardino, presidente dos Gideões, o ex-capitão do exército mencionou que possui um grupo de pastores com quem procura "se orientar". Muito aplaudido, Bolsonaro disse compartilhar da "mesma fé" dos presentes, embora nunca tenha declarado ser evangélico, possui grande identificação com o segmento.
"Entendo eu que o Brasil precisa eleger no ano que vem alguém honesto, patriota e acima de tudo, tenha Deus no coração. O Estado é laico, 'mas a grande maioria da população é judaico-cristã. Orgulho-me em dizer que sou temente a Deus. Sou católico, mas casado com uma evangélica", discursou, mas confessou que frequenta com ela uma Igreja Batista no Rio de Janeiro.
Durante cerca de 15 minutos, abordou vários tópicos, algumas vezes interrompido pelos gritos de "mito" da multidão que lotava o ginásio. "Devemos sempre escolher na política quem é igual a nós", asseverou.
"A base da sociedade é a família", lembrou, acrescentando que "os governantes não deveriam intervir na questão familiar". Enfatizou ainda que "na escola não deveria se tratar de ideologia de gênero" e que não se pode colocar "na cabeça" de uma criança que, depois dos 13 anos de idade, ela vai poder "decidir se vai ser homem ou se vai ser mulher".
"Fico muitas vezes ausente em casa para buscar o local que entendo ser a missão de Deus", disse, ao referir-se ao seu trabalho como deputado federal. Ao referir-se a um possível mandato como presidente, disse que "a cruz é pesada, mas não vou carregá-la sozinho, pois vou carregar com todos vocês".
No final de sua participação no evento, recebeu uma oração dos presentes em favor de sua vida.
Fonte: https://noticias.gospelprime.com.br/

Grupo de juízes apresenta moção de apoio à Lava Jato -MAIS DE 2.000 MIL JUÍZES

Grupo de juízes apresenta moção de apoio à Lava Jato -MAIS DE 2.000 MIL JUÍZES

FREDERICO VASCONCELOS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Grupo Palavra de Juiz, formado por mais de 2.000 magistrados que discutem em rede temas sobre o Judiciário, distribuiu moção de apoio aos juízes federais que atuam no julgamento de crimes do colarinho branco, em especial nas ações da Operação Lava Jato.
Segundo o texto, a iniciativa é dirigida principalmente aos juízes Carolina Moura Lebbos, Marcelo da Costa Bretas e Sergio Fernando Moro, como manifestação de “profundo repúdio à série de acontecimentos envolvendo pressões indevidas sobre as atividades de membros do Poder Judiciário, atitudes que não disfarçam a incitação à desobediência civil”.
“Vislumbramos que este episódio, aliado a tantos outros, evidenciam à população uma franca tentativa de amordaçar o Poder Judiciário, perseguindo os seus membros com expedientes vis de ameaças, xingamentos e toda sorte de atos truculentos próprios de quem não sabe conviver em um Estado Democrático de Direito”.
O grupo afirma que os atos decisórios sob a responsabilidade dos três magistrados “foram submetidos ao devido processo legal e ao sistema recursal em sua plenitude”.
“Essa manifestação [a moção] não decorre de voluntarismo ou arroubo de mágoa partidária, mas de obediência ao que ordena o artigo 6º do Código de Ética da Magistratura, ao dispor que ‘é dever do magistrado denunciar qualquer interferência que vise a limitar sua independência'”.
Os manifestantes expressam “profunda preocupação com as ofensas, ameaças diretas aos órgãos do Poder Judiciário perpetradas por diversos políticos –em especial pelo deputado federal Wadih Damous– pois tendem a fragmentar a independência dos Poderes e reduzir o Estado Democrático e Direito”.
Segundo informam os coordenadores, participam do Grupo Palavra de Juiz magistrados estaduais de primeiro grau (ligeira maioria) e de segundo grau, juízes da Justiça Federal, Trabalhista e Militar de todos os Estados, além de alguns ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e do STM (Superior Tribunal Militar).
A moção será encaminhada aos juízes Moro, Bretas e Lebbos e distribuída entre os membros do grupo, do qual também fazem parte mais de 100 magistrados de Portugal e de países africanos de língua portuguesa.

Renato Duque, operador do PT, negocia delação


Seguindo as pegadas do ex-ministro petista Antonio Palocci, o operador de propinas do PT na Petrobras, Renato Duque, está na bica de fechar com a Lava Jato um acordo de delação premiada. Num entendimento prévio, o ex-diretor da estatal petrolífera já firmou um acordo com procuradores brasileiros e italianos, para delatar crimes investigados em processos que correm na Itália.
Duque está preso desde 14 de novembro de 2014. No princípio, fazia pose de durão. Quando não negava, silenciava sobre os crimes. Em maio do ano passado, num depoimento a Sergio Moro, Duque revelou-se propenso a delatar. Nesta segunda-feira, o repórter Robson Bonin informou, em notícia veiculada no Globo, que a celebração do acordo está perto de acontecer.
Confirmando-se o acerto, a delação não deve ser banal. No depoimento prestado a Moro, seis meses atrás, Duque dissera que Lula não apenas sabia da roubalheira na Petrobras, como era beneficiário das propinas. Contou detalhes dos encontros secretos que manteve com Lula.
Duque revelou também que Lula, já com a Lava Jato a espreitar-lhe os calcanhares, orientou-o a apagar as digitais que imprimira em contas na Suíça. Contou que, na conversa, ficou entendido que Lula ecoava preocupações da então presidente Dilma Rousseff.
Num instante em que a Segunda Turma do Supremo retira de Moro pedaços das delações da Odebrecht, as confissões de Renato Duque podem ser úteis à força-tarefa de Curitiba. Com ela, deve ficar mais difícil para Lula ostentar o papel de personagem de uma ficção em que imóveis reformados lhe caíam sobre o colo —um sítio em Atibaia, por exemplo.
Josias de Souza

CHEGADA DO PRESIDENCIÁVEL JAIR BOLSONARO A SANTA CATARINA FAZ FERVER O AEROPORTO DE NAVEGANTES




segunda-feira, abril 30, 2018


O pré-candidato presidencial Jair Bolsonaro esteve em Balneário Camboriú, onde participou de evento dos Gideões Missionários das Última Hora, que estão concentrados na mais famosa praia do Sul do Brasil.

Bolsonaro desembarcou no Aeroporto de Navegantes após o meio-dia quando foi recebido por centenas de apoiadores que gritavam ruidosamente seu nome e e slogans de campanha.

Uma van que aguardava Bolsonaro para levá-lo a Camboriú tinha um providencial teto solar permitindo ao presidenciável aparecer e posar para uma sucessão de selfies ao som das palavras de ordem entoadas por seus apoiadores.
Jair Bolsonaro aproveitou também sua visita a Santa Catarina para reunir-se com pré-candidatos catarinenses do PSL e também com a Executiva do Partido.
Mas antes de seu embarque para Camboriú, Jair Bolsonaro foi carregado nos ombros de seus eleitores logo que desembarcou e avançou para o saguão do Aeroporto de Navegantes, que estava superlotado. Centenas de pessoas aguardavam o presidenciável e o carregaram nos ombros até fora do aeroporto para o seu embarque com destino a Camboriú.
Note-se que Navegantes é um município pequeno, com pouco mais de 70 mil habitantes, embora umbilicalmente ligado à cidade portuária de Itajaí que, diga-se de passagem, tem um petista como prefeito.
Eis aqui a live via Facebook realizada pelos apoiadores do presidenciável Jair Bolsonaro. Vejam:

domingo, 29 de abril de 2018

O calote dos mensaleiros

Luís Roberto Barroso decidiu verificar como andava o pagamento das multas aplicadas aos mensaleiros condenados pelo STF, registra Juliana Braga no Globo.
“Descobriu que tem gente sem pagar os débitos há mais de dois anos.
O ex-deputado Pedro Henry, por exemplo, pagou apenas a primeira das 24 parcelas. Quitou míseros 4,5% do débito. Estão em situações semelhantes Rogério Lanza e Romeu Ferreira Queiroz.
A dívida dos três somadas chega a quase R$ 9 milhões.”

TCU suspeita de contrato milionário do governo federal

Um contrato de R$ 300 milhões do governo federal está no radar do TCU por suspeita de desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal, informa O Globo.
“No dia 31 de julho de 2017, o então ministro das Cidades Bruno Araújo (PSDB) anunciou em Salvador o contrato para a segunda fase das obras do sistema de Bus Rapid Transit (BRT) da capital baiana e assinou um compromisso de repasse de R$ 300 milhões, parte via FGTS e parte via Orçamento Geral da União. O prefeito de Salvador e presidente do DEM, ACM Neto, também esteve no anúncio. A sigla é uma das principais da base aliada do governo Temer, e 23 deputados de sua bancada de 30 votaram para livrar o presidente da primeira denúncia na Câmara no dia 2 de agosto do ano passado.
Para os auditores do TCU, a liberação dos recursos desrespeitou a Lei de Responsabilidade Fiscal, pois a proposta foi assinada em meio a vários cortes na pasta e sem a conclusão de outros projetos em andamento.”

Urgente: STJ derruba decisão do TRF-1, mas mantém suspensa extradição de operador do PMDB

Em decisão publicada agora há pouco e obtida por O Antagonista, o ministro Sérgio Kukina, do STJ, derrubou a liminar concedida pelo TRF-1 contra a extradição de Raul Schmidt, operador do PMDB.
Kukina, porém, manteve a extradição suspensa até que a Primeira Turma do STJ decida sobre o caso, que está para ser pautado.
Como mostramos mais cedo, o ministro Humberto Martins havia indeferido liminarmente outro habeas corpus de Schmidt em fevereiro. A defesa recorreu e o relator solicitou manifestação do MPF.
“Os autos vieram conclusos e, no 26/04/2018, solicitei inclusão na pauta de julgamentos da Primeira Seção do STJ.”
Diante do exposto, Kukina esclarece que é preciso aguardar o citado julgamento e dá um pito no advogado Kakay.
“Chega a surpreender que a notícia da prévia impetração de habeas corpus perante o STJ não tenha sido levada ao conhecimento do Tribunal suscitante e do Juízo suscitado, o que, certamente, teria evitado o presente conflito de competência e, até mesmo, tumulto processual.”
Confira a íntegra.


Combate à corrupção será tema primordial nas eleições, diz cientista político da UnB; leia entrevista

Ricardo Caldas ministra disciplina de 'teoria da corrupção' desde 2005. Ao G1, ele falou sobre avanços, desafios e o panorama das eleições de outubro.

Por Mateus Rodrigues, G1 DF
Professor da UnB e cientista político Ricardo Caldas, em entrevista à GloboNews (Foto: GloboNews/Reprodução)
Professor da UnB e cientista político Ricardo Caldas, em entrevista à GloboNews (Foto: GloboNews/Reprodução)
Quando Ricardo Caldas começou a dar aulas de teoria da corrupção na Universidade de Brasília (UnB), em 2005, o tema já não era exatamente uma novidade.
O mensalão, por exemplo, foi revelado em julho daquele ano pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). A Máfia dos Vampiros, o escândalo Sudam/Sudene e até os Anões do Orçamento ainda estavam vivos na memória.
Passados 12 anos, a corrupção se tornou o assunto preferido do país, com resultados positivos e negativos. Em um bate-papo com o G1, sem fazer juízo de valor ou revelar favoritos, Caldas fez um balanço do período anterior e projetou expectativas para as eleições de outubro.
"Não podemos subestimar o eleitor. Em 2016 [nas eleições municipais], os candidatos envolvidos com esquemas foram bastante punidos, e o eleitor testou nomes novos. Neste ano, deve ocorrer algo semelhante", diz o economista e cientista político.
Segundo ele, a legislação recente de combate ao mau uso da verba pública se consolidou com avanço, mas ainda é preciso fazer um ajuste fino. "O que precisa fazer é calcular quanto de dinheiro público há naquilo, e como isso pode retornar para a sociedade, dessa ou de outra forma."

Confira, abaixo, a entrevista com o professor Ricardo Caldas:

TEORIA DA CORRUPÇÃO

G1: O senhor dá aulas sobre teoria da corrupção na UnB há mais de uma década. Nesse tempo, é possível dizer o que mudou no pensamento do brasileiro sobre o tema?
Caldas: A diferença mais importante que eu vejo está na inclusão das novas legislações. A Lei de Transparência, a Lei Anti-Corrupção, a própria Lei de Acesso à Informação. Houve uma alteração de paradigma.
Quando eu comecei a dar o curso [em 2005], o debate da corrupção era uma coisa marginal, fora do eixo, do mainstream. Era um tema secundário. Com esses escândalos, houve um aumento de interesse.
Antes, as pessoas discutiam se era possível combater a corrupção. Hoje, discute-se o limite da Lava Jato. Entende? Hoje, temos um arcabouço para discutir isso. A gente discute a adoção dos métodos, a forma como eles foram incorporados.
G1: Nos últimos quatro anos, vários desses mecanismos vêm sendo contestados. O instituto da delação premiada, a aplicação da Ficha Limpa, o limite da Lava Jato, a anistia ao caixa dois, por exemplo. Faz parte da construção, ou são ataques aos mecanismos?
Caldas: Faz parte do discurso de quem está no poder e quer permanecer no poder. Dizer que não tinha alternativa, que todos faziam é o discurso da corrupção.
Por outro lado, acho que não podemos subestimar o eleitor. Em 2016 [nas eleições municipais], os candidatos envolvidos com esquemas foram bastante punidos, e o eleitor testou nomes novos. Neste ano, deve ocorrer algo semelhante.
É um movimento surdo, mudo, mas que se manifesta nas urnas. Os eleitores vão procurar candidatos que sejam ficha limpa, que não estejam na Lava Jato. O eleitor não tem como influenciar o Supremo, mas faz suas escolhas.
Se o candidato for acusado num debate de recebido recursos ilícitos, de estar na Lava Jato, ele vai sofrer uma penalização do eleitorado. As pesquisas mostram isso, que os líderes de intenção de voto, tirando o Lula, não estão em partidos tradicionais.
Cópia de delação premiada, assinada em Minas Gerais, em imagem de arquivo (Foto: Zana Ferreira/G1)
Cópia de delação premiada, assinada em Minas Gerais, em imagem de arquivo (Foto: Zana Ferreira/G1)
G1: Há quem diga que essa onipresença da corrupção em todos os debates é uma “cortina de fumaça”, ou seja, que impede o Brasil de discutir problemas estruturais. Educação, saúde, segurança. O senhor concorda?
Caldas: Discordo. Eu penso que, ao contrário, os candidatos vão ter que apresentar propostas claras. Uma delas vai ser justamente o combate à corrupção. É um item a mais, não é algo que substitui.
Antes, se falava só em saúde, educação e segurança. Agora, é saúde, educação, segurança e combate à corrupção.
O debate não é um fetiche, é uma necessidade. No Brasil, a corrupção saiu de qualquer padrão “aceitável” – no sentido de que não há corrupção zero. É como o zero absoluto da física, não existe, mas é um parâmetro importante. É importante saber se a corrupção está sob controle, ou fora de controle.

SETOR PRIVADO

G1: A gente falou o tempo todo sobre setor público, mas essas operações recentes promoveram, também, uma devassa na esfera privada. Há empreiteiras grandes em recuperação judicial, e/ou impedidas de contratar com governos. Como promover obras nesse cenário?
Caldas: Nenhum governo vai querer, por prazer ou sadismo, destruir suas próprias empresas. As que estão envolvidas na Lava Jato – Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez – competiam, inclusive, no cenário internacional. A pergunta é: qual a solução? O que está sendo feito?
O que tem sido proposto é o acordo de leniência, que é uma delação premiada para a pessoa jurídica. E aí, estamos discutindo o que a empresa está pagando, o que está recebendo, os termos desse acordo. Diz-se que um ou outro acordo foi positivo demais para a empresa, ruim demais pro contribuinte.
As pessoas estão dizendo: "pera aí. Tudo bem que seja competentes e importantes, mas isso justifica o dinheiro público injetado? Qual conta elas devem pagar agora?".
Do outro lado, o objetivo também não é falir, porque geraria um desemprego sem precedentes, em época de desemprego alto. É importante equacionar e mudar as formas de gestão. Em alguns casos, até mudar o controle acionário, como satisfação ao contribuinte.
G1: Em que sentido? O governo assumindo o controle das empresas, por exemplo?
Caldas: Exato. Assumir o controle, ou parte do controle como forma de indenização. A compra da americana Swift [pela Friboi, por R$ 1,4 bilhão], por exemplo. Eles botaram todo o risco, todo o ônus no dinheiro público. Tinham caixa pra comprar, mas usaram o BNDES para isso.
Então, nada mais justo que o setor público exercer as ações de preferência nessa compra – que, na prática, foi o governo que fez. O que precisa fazer é calcular quanto de dinheiro público há naquilo, e como isso pode retornar para a sociedade, dessa ou de outra forma.

CRISE POLÍTICA

G1: Nos últimos anos, a gente passou a ouvir muito a expressão “crise de representatividade”, em referência a uma descrença generalizada com a política. O senhor vê esse fenômeno?
Ricardo Caldas: Eu diria que a crise é mundial, não é só no Brasil. Existe uma discussão no mundo todo sobre a própria função dos partidos como forma de representação. No Reino Unido, surgiu o Partido Independente Britânico (UKIP), que queria uma nova política. Como o sistema eleitoral não favorecia, ele acabou entrando em declínio.
Na França, na Alemanha, foi o contrário, houve muito sucesso. Na França, resultou na vitória do [Emmanuel] Macron. Na Itália, o Cinco Estrelas (M5S) bateu recorde de votação isolada de um partido, agora não se sabe se vai conseguir governar porque o bloco oposto superou a votação. Mas em termos de partido, foi o maior.
O Alternativa para a Alemanha (AfD) queria rediscutir as bases do sistema político alemão, os pilares, conseguiu 15% dos votos. São resultados significativos.
G1: E no Brasil, quem representaria isso?
Caldas: Aqui, há o descrédito dos principais partidos políticos. O próprio PT, que estava no poder até pouco tempo atrás; o MDB, no poder agora; o PSDB, como oposição mais estruturada. Os três foram alvos de denúncias graves, algumas já julgadas, outras em processo.
Eles chegam enfraquecidos à eleição atual, possibilitando a repetição do cenário francês. Há partidos que vêm com baixa representação e, hoje, lideram as pesquisas eleitorais.
G1: A gente também ouve muito o discurso de que a corrupção é “institucional”. Que para chegar lá, é preciso se corromper. O senhor acredita nesse conceito?
Caldas: O sistema, como está dado hoje, funciona com base em corrupção. É o motor. A corrupção é sistêmica, ou o que você chama de “institucional”; é endêmica, porque se espalha por todos os níveis; é cultural, porque a gente trata como algo aceitável; e é histórica, porque vem desde o clientelismo, dos órgãos criados no século passado para o desenvolvimento, e por aí vai.
G1: Essa falha das instituições é sempre apontada como a causa, o centro da crise de representatividade. O problema é o modelo?
Caldas: Essas coisas não são as causas, mas acabam reforçando o funcionamento negativo do sistema. No meu ver, a principal causa é o sistema eleitoral proporcional, muito nocivo.
Não é o excesso de partidos, mas de partidos sem representatividade. Criamos esses partidos de aluguel, partidos-cartório. Isso é uma anomalia, não é essa a função dos partidos.
Eu defendo o voto distrital, que infelizmente, no Brasil, não pegou. A gente ia trocar o Frankenstein atual por um vampiro, um sistema chamado “distritão” que é uma corruptela do sistema verdadeiro.

ELEIÇÕES

G1: E como o senhor vê, no momento atual, tudo que está sendo projetado para as eleições deste ano? A essa altura, dá para tirar algo das pesquisas divulgadas? Ou deve mudar tudo?
Caldas: O problema do cenário brasileiro é que ele é muito instável, mesmo. No caso atual, é difícil saber quem permanece ou não [na disputa], tanto no cenário nacional como no DF. Mas eu não vejo uma grande mudança de atores.
Existe, por exemplo, a dúvida em relação ao Lula. Eu entendo que, com a confirmação [da sentença] no TRF-4, ele já se tornou inelegível. Mas, como nosso sistema eleitoral é fluido, pantanoso, seria possível esticar a campanha ao máximo. É um desgaste muito grande ter um candidato preso.
Acho que os principais já estão postos: Jair Bolsonaro, Marina Silva e Joaquim Barbosa. Pode aparecer algum desses que estão mal nas pesquisas, como o Alckmin, apesar das denúncias recentes.
Fora isso, tem os “outsiders”, os pequenos partidos de esquerda lançando candidatura, mas ainda sem muita base eleitoral. E tem o Ciro Gomes, que vem com um partido estruturado, que não foi tão atingido pelas denúncias da Lava Jato, mas não é exatamente uma novidade.
Acho que pode haver mudança entre esses, mas não vejo o surgimento de novos nomes. A menos que seja para substituir esses aí nas chapas.
G1: Além dessas oscilações nas pesquisas, os candidatos que lideram as intenções de voto ostentam, ao mesmo tempo, grandes índices de rejeição. Essa polarização é um problema?
Caldas: Nós sempre tivemos uma dificuldade de separar direita e esquerda. A novidade da candidatura do Bolsonaro é ter alguém que se diz de centro-direita. Não podemos cometer o erro que se cometeu em 2016, quando deram a Hillary Clinton como vitoriosa nos Estados Unidos, sem entender como o eleitor médio pensa.
Sem entrar no mérito pessoal de cada candidato, nosso sistema em dois turnos estimula esse cenário radical. No primeiro turno, você precisa ficar conhecido, marcar posição. Os candidatos mais novos precisam fazer esse discurso radical, é o que acontece no primeiro turno.
No segundo turno, é o oposto: vai-se em direção ao centro. O candidato que marcou posição, que radicalizou, tenta buscar o voto do centro. Foi o que aconteceu com o Lula em 2002, que virou o “Lula paz e amor”, o conciliador.
G1: E qual o papel dos chamados ‘outsiders’ nisso?
Caldas: Há um erro, também, no que vem sendo entendido como outsider. Ele não é, necessariamente, uma pessoa que nunca existiu no cenário, mas alguém que não estava na linha de frente. Que nunca foi um figurão na negociação com o Congresso.
O próprio Bolsonaro, por exemplo, está no quarto mandato como deputado. É um outsider, ou não? A Marina Silva nunca foi presidente, nunca foi do núcleo duro, mas teve poder quando foi ministra. O Ciro, idem. O Flávio Rocha, que é citado como outsider, já se candidatou antes. As pessoas podem “estar” outsiders, por terem perdido esse protagonismo político.
Veja mais notícias sobre a região no G1 DF.

Ruralista troca Alckmin por Bolsonaro e diz que tempo de tucano passou

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O agronegócio está fechado com a pré-candidatura de Jair Bolsonaro porque o isolamento do deputado do PSL-RJ permite que ele assuma posições defendidas pelo setor, como o reforço da segurança no campo contra roubos e invasões.
A avaliação é de Frederico D'Ávila, 40, diretor da Sociedade Rural Brasileira que elabora o programa de governo de Bolsonaro da área.
D'Ávila é o mais graúdo aliado de Geraldo Alckmin, o presidenciável do PSDB, a migrar para a órbita de Bolsonaro até aqui. De 2011 a 2013, ele foi assessor especial do então governador paulista para agro, e até aqui era seu principal consultor junto ao setor.
Então filiado ao PP, D'Ávila era uma das vozes aliadas de Alckmin a alertar sobre a atração que o deputado vinha exercendo junto a produtores rurais. Sem ser ouvido, abraçou a causa de Bolsonaro, filiando-se ao PSL para disputar uma vaga na Câmara.
Ele é irmão do coordenador de comunicação da pré-campanha do tucano, o cientista político Luiz Felipe D'Ávila.
Produtor de grãos, diz manter o respeito por Alckmin, mas considera que seu momento para tentar ser presidente passou. "O Geraldo é um piloto de 747, só que estamos sobre a Síria. O Bolsonaro é um piloto de F-16", diz.
PERGUNTA - O que o levou a se aproximar de Bolsonaro, após tantos anos na órbita de Alckmin?
FREDERICO D'ÁVILA - Eu continuo tendo o Geraldo como um grande amigo, um grande professor na atividade pública. Na campanha [presidencial do tucano] de 2006, da qual eu participei bastante, a gente percebia muito o apoio na rua. Agora eu não vejo isso. Por quê?
Porque quando você quer juntar demais e desagradar de menos, você acaba sem margem, bem engessado. Isso é bem claro no meu setor. O Bolsonaro, até por não ter esse leque de alianças, pode se posicionar da maneira que bem entender. Ele abraçou as bandeiras do setor.
A imagem do Geraldo não sofre abalo nenhum em relação a caráter e retidão, mas não é o momento. Estamos com o país na UTI e querem tratar o paciente com homeopatia. Nós precisamos é de antibiótico. Não é para tomar a vida inteira, é por um período.
P - O sr. fala muito no agro. Mas acha que Bolsonaro atende às demandas fora dele?
FD - Atende. Esse presidencialismo de coalização não funciona. Você tem de dar ministério, cargo, secretaria em troca de apoio. Bolsonaro gosta do modelo americano, de 15 pastas.
Virou uma cultura no Brasil tornar o militar um cidadão de segunda classe. Não conheço oficial-general que tenha sido mal formado. O Bolsonaro já disse que quer colocar militares nos ministérios por competência.
P - O sr. acha que, ganhando a eleição, Bolsonaro governa? Com o sistema existente?
FD - Ele respondeu a essa pergunta num evento no banco BTG: "Se você quiser um governo que dá ministério em troca de voto, já peço para não votar em mim". A plateia veio abaixo.
Agora, se você me perguntar como faz... Eu sou agricultor, aprendi a cultivar a terra de uma maneira. Chega uma pessoa falando que vai cultivar de outra forma, você fica olhando. Tem de haver outro meio, desse jeito não tem como continuar.
P - O sr. não vê no Alckmin a pessoa para essa ruptura.
FD - Eu acho que tanto o Geraldo quanto o Bolsonaro seriam bons para o Brasil, só que um tem mais condições neste momento. O Geraldo é um piloto de [Boeing] 747 da [companhia aérea alemã] Lufthansa: não vai chacoalhar, vai jantar, atravessar o Atlântico bem tranquilo. Só que não estamos voando em céu de brigadeiro, estamos voando sobre a Síria. O Bolsonaro é um piloto de [caça] F-16. O Brasil precisa de um piloto de F-16.
O país foi arrebentado, precisa de uma depuração da máquina pública. Falo pelo meu setor inclusive. Veja a Operação Carne Fraca [que apura irregularidades em frigoríficos], tinha agente corrupto.
O sujeito faz concurso e sabe o quanto vai ganhar, não é para fazer rolo. Isso diz respeito ao Bolsonaro: se alguém chega para ele para falar de estrutura de campanha, de dinheiro, ele já pula fora.
P - Por outro lado, a campanha dele está embrionária em termos de estrutura.
FD - É, mas também não é para ninguém fazer campanha agora.
P - Mas ele está em campanha há dois anos.
FD - Mas isso que você está vendo é muito da parte dos entusiastas dele. E ele tem de estar no Parlamento terça, quarta e quinta.
P - Ele é um político profissional, não tem boa produtividade no Congresso. Saindo desse "momento Bolsomito" em aeroportos, ele passa pelo escrutínio de uma campanha?
FD - Acho que sim. Os 28 anos de Parlamento dele lhe dão total estofo. Ele não se diz um não político. É um parlamentar de segmento que virou figura nacional.
P - E as polêmicas todas nas quais ele se envolveu?
FD - Você não está acreditando na evolução do ser humano...
P - Não.
FD - [Risos] Veja aquelas declarações polêmicas. Se você pegar um Fernando Gabeira, um José Serra na década de 70, eles não corroboram aquela linha nos dias de hoje. Chamar o Bolsonaro de misógino e racista? Isso não é verdade. Ele trabalha com mulheres e negros.
P - Mas ele é processado por isso no Supremo [disse que não estupraria a deputada petista Maria do Rosário porque ela "não merecia" em uma discussão].
FD - Mas você vê aquela cena, é ela que estava defendendo um criminoso. Ele é um cara risonho, brincalhão, afetuoso. E o pavio dele está muito mais longo do que antigamente. O que irrita ele é que só falam dessas coisas antigas.
P - E o agro? Qual é o projeto que o sr. faz para ele?
FD - Se você for olhar a pauta dos candidatos, exceto aqueles que são contra o modelo produtivo, as demandas são as mesmas. De diagnóstico estamos cheios, temos de fazer. Precisamos de logística. Precisamos de segurança no campo, tanto contra roubo de insumos quanto jurídica, contra invasão e demarcações arbitrárias.
Por fim, estabilidade e previsibilidade na concessão de crédito. Falam que a gente quer dinheiro subsidiado. É que há uma distorção original, que é a taxa de juros do país não ser competitiva. Precisamos de uma equalização para poder competir.
P - Vocês se falam sempre, o sr. já apresentou esses pontos?
FD - Não falamos diariamente não. Sobre os pontos, já, e ele aprovou, por isso é apoiado. Ele disse que quem vai dar a diretriz da agricultura será o setor. O ministro não será indicado pelo partido tal. A primeira vez que temos um ministro que realmente vive da terra é agora, com o Blairo Maggi.
P - O sr. quer ser ministro?
FD - Se eu toparia? Se ele me convidar... As pessoas precisam entender que se a agricultura patina, a cadeia da economia cai toda.
P - Voltando à política, haverá candidato do PSL em São Paulo?
FD - Então, o pessoal pede para ele. Mas eu vou falar do que eu entendo, meu setor. Tenho dois irmãos, todos votam diferente, nunca briguei. Não briguei com o Geraldo por política.
P - Falando nisso, como ficou o almoço de domingo com seu irmão [integrante da campanha de Alckmin]?
FD - É a ironia do destino, o que a gente pode fazer? Ele está no juízo dele, eu estou no meu.