Operação é realizada para cumprir 14 mandados de prisão, sendo 9 temporárias e 5 preventivas. Esquema que fraudava fornecimento de pães para presídios do estado desviou pelo menos R$ 73 milhões dos cofres públicos.
Por Arthur Guimarães, Bruno Albernaz, Paulo Renato Soares e Pedro Figueiredo, TV Globo e G1 Rio
O delegado Marcelo Martins, atual diretor-geral de Polícia
Especializada, e o ex-secretário de Administração Penitenciária da
gestão Sérgio Cabral, coronel César Rubens Monteiro de Carvalho, foram presos em mais um desdobramento da Operação Lava Jato no Rio na manhã desta terça-feira (13).
Batizada de "Pão Nosso", a operação é realizada para cumprir 14
mandados de prisão, sendo 9 temporárias e 5 preventivas. Segundo as
investigações, os suspeitos teriam desviado, pelo menos, R$ 73 milhões
dos cofres públicos com um esquema de superfaturamento e fraude no
fornecimento de pão para os presos das cadeias estaduais.
Além de Martins e do ex-secretário, outras cinco pessoas tinham sido
presas até a última atualização da reportagem: Sérgio Roberto, Gabriela
Paula, Evandro Lima, Delisa de Sá e Carlos Mateus Martins.
É o quinto secretário do governo Cabral preso em operação da Polícia
Federal. Em novembro de 2016, a Calicute prendeu, além do ex-governador,
o ex-secretário de governo Wilson Carlos e o ex-secretário de obras Hudson Braga. Na operação Fatura Exposta, em abril de 2017, foi preso o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes. Em novembro, o ex-chefe da Casa Civil de Cabral Régis Fichtner foi preso na operação C'est Fini.
As irregularidades envolvem o funcionamento de padarias dentro do
complexo de Bangu. A fase da operação desencadeada nesta terça-feira foi
feita a partir de reportagens exibidas pelo jornalismo da TV Globo.
A fraude foi descoberta em maio do ano passado, quando uma auditoria do
Tribunal de Contas do Estado (TCE) apontou que os contribuintes pagavam duas vezes pelo pão fornecido aos presos:
na compra dos ingredientes e pelos pães prontos. Um contrato era para o
fornecimento do pão, e outro, de valor ainda maior, para comprar os
ingredientes.
De acordo com a investigação, uma organização sem fins lucrativos
chamada Iniciativa Primus instalou máquinas para a fabricação de pães
dentro do presídio, usou a mão de obra dos presos, energia elétrica,
água, ingredientes fornecidos pelo estado – ainda cobrava pelo pãozinho.
O envolvimento do delegado Marcelo Martins no esquema teria acontecido
em um período em que ele ainda não ocupava o cargo de diretor das
delegacias especializadas. O delegado é suspeito de receber mesada no
esquema.
Na época, Martins era sócio da empresa Finder Executive Consulting
Assessoria, suspeita de atos de lavagem de dinheiro em prol da
organização criminosa chefiada por Sérgio Cabral.
Ainda segundo o MP, o pai do delegado também recebia vantagens do
grupo, pois era sócio de uma casa de câmbio apontada como responsável
por lavar dinheiro do esquema criminoso. Essa é a primeira vez que um
policial civil é preso na Lava Jato.
Crescimento de patrimônio
Um fator que chamou a atenção dos investigadores foi o crescimento do
patrimônio de César Rubens Monteiro de Carvalho, que aumentou em 10
vezes no período em que era secretário da Seap. Em consulta ao Cadastro
de Embarcações da Marinha do Brasil, o Ministério Público Federal
constatou que ele é proprietário de sete embarcações.
Também há mandado contra o empresário Felipe Paiva, sócio oculto da
Iniciativa Primus. Ele também foi dono da empresa anterior que fazia o
mesmo trabalho com a Seap, a Induspan. Ele ficou de 2001 a 2015
fornecendo pão para o governo. Segundo os investigadores, ele está
atualmente em Portugal.
Movimento de R$ 73 milhões
Além da PF, atuam na ação agentes do Ministério Público Federal (MPF) e
também o Ministério Público Estadual (MP-RJ) que investigam,
respectivamente, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção,
além de peculato (se apropriar do dinheiro público) e fraude de
licitação.
De acordo com o MPF, a fraude no fornecimento de pão para os presídios movimentou R$ 73 milhões dos cofres públicos.
O projeto inicial previa a profissionalização dos presos, onde a Seap
contratava uma organização sem fins lucrativos para gerir um projeto de
padaria. O objetivo do programa era incentivar os presos que quisessem
trabalhar na padaria.
A cada três dias de trabalho, eles poderiam ter a redução de um dia na
pena. Mas o trabalho de auditoria detectou que o controle era falho. A
suspeita é de que o benefício foi concedido até a detentos que não
trabalharam.
O TCE ainda constatou a ausência da folha de presença. Assim, não há
como comprovar que o serviço foi realmente prestado pelos presos.
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