domingo, 17 de dezembro de 2017

Aécio merece análise psicanalítica, não política


“Eu não torço pela prisão do Lula”, disse Aécio Neves em entrevista. “Mas ele tem de responder para a Justiça, que não pode ser seletiva.” Sobre 2018, declarou: “Temos de resgatar na eleição a capacidade de discutir o país. Temos de sair da delegacia de polícia e voltar a falar ao coração das pessoas. Precisamos restabelecer um clima minimamente respeitoso.” Falando em seletividade judiciária, prisão e delegacia um político como Aécio dá uma impressão menos política do que freudiana.
Aécio fez sua descida ao mundo político-paranoide em três anos. Ao sair das urnas de 2014 com um patrimônio de 51 milhões de votos, parecia docemente condenado a administrar o país a partir da sucessão presidencial de 2018. Hoje, é um administrador patológico da própria insensatez. Com nove processos criminais a espreitar-lhe a biografia, Aécio fala sobre forca como se fosse um simples simples instrumento de corda.
Há uma semana, na convenção nacional em que o PSDB escolheu Geraldo Alckmin como seu presidente, Aécio foi tratado como um tio velho e excêntrico que é convidado para as reuniões da família porque, afinal, é da família. Ninguém sabia ao certo como tratá-lo. Instruídos a não debochar de suas esquisitices, os mais jovens o vaiaram. Sem coragem para expurgá-lo do convívio partidário, os veteranos o desencorajaram de falar ao microfone, para não escandalizar os presentes.
Na entrevista, livre para dizer o que bem entedesse, Aécio disse sobre o grampo que registrou sua conversa vadia com Joesley Batista coisas assim: “Reconheço que errei nesse episódio, principalmente na forma de me comunicar. Ainda que em uma conversa privada, com um linguajar pelo qual me penitencio pessoalmente. Mas os fatos vão demonstrando de forma clara que eu fui vítima de uma grande armadilha.”
Um senador da República pede R$ 2 milhões a um empresário que planta bananeira dentro dos cofres do BNDES, envia o primo para apanhar o dinheiro em mochilas e acha que seu erro foi ter pronunciado meia dúzia de palavrões durante a conversa! O caso é mais grave do que se imagina. Em crise de identidade, o personagem já não sabe como deve se comportar uma pessoa pública. Pior: acha que não é um senador da República. Imagina que a República é que é do senador.
Um político que deixa um rastro pegajoso por onde passa e continua falando como se fosse inocente vítima de “uma ação planejada com a participação de membros da Procuradoria-Geral da República”, deixa a impressão de que procura uma defesa desesperadamente —mais ou menos como um cachorro que escondeu o osso e esqueceu o onde cavou o buraco. Aécio Neves tornou-se matéria prima para análise psicanalítica, não política.
Josias de Souza

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