Josias de Souza
O novo ministério de Michel Temer, a ser composto até meados de dezembro, refletirá o Projeto Centrão de país. Nele, exacerbam-se as barganhas, o fisiologismo e as diversas modalidades de atentado ao erário, às instituições e ao pudor a que a nação vem sendo submetida. Num instante em que a Polícia Federal vareja as facções do PMDB do Rio de Janeiro e do Mato Grosso do Sul, o presidente da República negocia a entrega de ministérios ao rebotalho do Congresso.
Temer desperdiçará mais uma oportunidade de fazer uma concessão à decência. Em vez de acomodar na Esplanada uma equipe acima de qualquer suspeita, entregará ministérios aos mesmos suspeitos de sempre. Um auxiliar do presidente tentou justificar: “Se o governo não fizer composições, não governa. Como aprovaremos a reforma da Previdência e as medidas do ajuste fiscal?” Com esse mesmo tipo de argumento produziram-se escândalos como o mensalão e o petrolão.
Presidente circunstancial, Temer não é o primeiro a transformar a administração pública em bazar. Mas seu balcão foi aberto depois do esfacelamento da polarização tucano-petista. O que dá aos conchavos atuais um quê de novidade. Suprema ironia: de tanto se colocarem como polos opostos da política brasileira, de tanto se unirem ao atraso para se enfrentar um ao outro, PSDB e PT acabaram dominados pelo arcaico. Agora, quem dá as cartas é o centrão. Uniu-se a Eduardo Cunha para expurgar o PT do Planalto. Reorganiza-se para desalojar o PSDB da Esplanada.
Com incrível sensibilidade para detectar oportunidades de negócio, o centrão vislumbrou nas denúncias da Procuradoria contra o inquilino do Planalto, a oportunidade de capturar o presidente, terceirizando o exercício da Presidência ao PMDB. Enquanto Temer finge que governa, o centrão faz suas transações. A pasta das Cidades, levada ao mercado da baixa política depois da saída do tucano Bruno Araújo, deve ser entregue ao PP, uma legenda que se destaca no universo dos trambiques.
O PP ocupa o topo do ranking dos enrolados na Lava Jato. Seus encrencados somam 16 deputados e 3 senadores. A despeito disso, Temer já abriu negociação com o presidente do partido, o senador piauiense Ciro Nogueira, ele próprio acusado de lavagem de dinheiro. A pasta das Cidades já foi controlada pelo PP, sob Dilma Rousseff. Produziram-se picaretagens variadas. Tudo desaconselha a repetição do crime. Mas no Projeto Centrão de país tudo não significa nada.
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