A mostra Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira em Porto Alegre foi cancelada no último dia 10 de setembro. Frequentadores chegaram a acusá-la de blasfêmia, pedofilia e zoofilia. Dias depois, imagens registradas no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo, durante a performance La bête, parte do 35ª Panorama da Arte Brasileira, também renderam acusações de pedofilia e manifestações pró e contra em frente ao museu.
Políticos com
pretensões eleitorais não deixaram passar a oportunidade. O prefeito de
São Paulo, João Doria (PSDB), postou um vídeo dizendo que para "tudo
existe limites"; o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) acusou de "canalhas"
os responsáveis pela performance e pela exposição; o senador Ronaldo
Caiado (DEM-GO) chamou de "crime" a exposição de menores à nudez; o
pré-candidato Ciro Gomes também entrou no debate: em vídeo, defendeu a
exposição de Porto Alegre; já o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo
Crivella (PRB), apressou-se em afirmar que na cidade dele a tal
exposição não chegaria. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB), apenas compartilhou um post oficial do governo do Estado
informando que o MAM é uma instituição privada. Os pré-candidatos Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) e Marina Silva (Rede) não se manifestaram
publicamente sobre o assunto.
O fato é que a
polêmica de ordem moral agitou o cenário eleitoral. Em muitos casos,
postagens relativas ao tema tornaram-se as mais comentadas e
compartilhadas nas páginas dos respectivos políticos. Além disso,
projetou um debate eleitoral que, além das filigranas da economia e da
necessidade ou não de reformas, vai esbarrar em direito de aborto,
descriminalização das drogas, políticas de gênero (como o chamado
casamento gay) e o que mais couber no pacote da moralidade. "Será a
eleição da moral e dos bons costumes", disse o cientista político Marco
Antônio Teixeira (FGV).
Segundo Teixeira,
fenômenos como Bolsonaro e a força da bancada religiosa (não só
evangélica) empurram o debate para esse front. "Tem muita gente surfando
na onda dessa pauta regressiva, na religião, com viés eleitoral",
disse.
Já o especialista em marketing político
Carlos Manhanelli vê uma utilidade prática no ressurgimento desse tipo
de pauta. "Em uma eleição polarizada, os temas morais ganham
protagonismo porque eles delimitam os campos com mais clareza. Você sabe
quem é esquerda ou é direita."
Para o teólogo
Gerson Leite de Moraes (Mackenzie), o embate moral é de ordem terrena.
"O eleitor está vivendo esse desencantamento com a política. Tem
frustrações acumuladas por situações com a Lava Jato e outras
investigações. Muitos pensam: 'já que a economia está sequestrada eu vou
me identificar com um político que fala o que eu penso'". Moraes afirma
que "falar o que penso" está muito conectado com pontos de vista
conservadores.
"As redes sociais fizeram com
que esse conservador perdesse a vergonha de ser conservador e
encontrasse pessoas que pensam como ele."
A
filósofa Carol Teixeira (PUC-RS) não tem dúvida de que a moralidade será
o carro chefe das próximas eleições. "Mesmo que de forma covarde, como
muitas vezes esses assuntos são abordados, certamente são temas
atrativos para os eleitores, muitas vezes é aí que se define um voto."
O
psicanalista Jorge Broider argumenta que "uma eleição toma o eleitor
como um todo". "Uma campanha política tenta atingir o consciente e o
inconsciente do eleitor. Em um período de incertezas, quem falar mais
com um conjunto de valores e com a moral vai se beneficiar." A ver.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. DO C.BRASILIENSE
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