Ministério da Cultura cobra documentos que comprovem gastos de peça teatral que recebeu 300 000 reais via Lei Rouanet
Veja.com
O governo federal decidiu cobrar novas explicações do ator José de Abreu
sobre o uso de dinheiro público na produção de uma peça teatral.
Condenada em novembro passado a devolver aos cofres da União 300 000
reais que financiaram, via Lei Rouanet, a realização da peça “Fala, Zé”,
Camila Paola Mosquella, ex-mulher do ator, voltou a entrar no radar da
prestação de contas do Ministério da Cultura. Abreu chegou a ser
convocado para dar explicações sobre o projeto à Comissão Parlamentar de
Inquérito instalada na Câmara dos Deputados para investigar a aplicação
de recursos concedidos a artistas pela lei de incentivo.
Mosquella e Abreu eram casados quando ela recebeu o dinheiro para a
turnê do espetáculo, um monólogo que seria apresentado em vinte cidades
brasileiras. A verba veio da Petrobras, que pode abater dos seus
impostos o valor patrocinado. A ex-mulher do ator recorreu da decisão
que cobrou a devolução dos recursos e teve as contas aprovadas após
enviar declarações de casas de espetáculos e prefeituras que confirmaram
a realização das apresentações nos municípios, o que não havia
acontecido antes.
Agora, porém, o MinC reabriu o caso após constatar novas incoerências em
documentos apresentados pelo casal. Os problemas foram identificados
pela CPI da Lei Rouanet. Segundo o processo administrativo que corre no
governo, faltam explicações sobre despesas que chegam a 44 mil reais.
Nesse bolo entram suspeitas sobre nove notas fiscais que somam 35 mil e a
ausência de comprovantes de gastos com passagens aéreas e hospedagem no
valor de 9 mil.
As notas chamaram a atenção da CPI por terem sido todas preenchidas com a
mesma caligrafia, apesar serem emitidas por três empresas diferentes.
Outro problema é a numeração de notas emitidas pela Bravix Produções
Artísticas e Cinematográficas Ltda (veja na imagem), responsável pelos
serviços de assessoria de imprensa e projeto gráfico do espetáculo:
segundo os documentos apresentados, a nota de número 001382 tem a data
de novembro de 2009. Já a nota 001385, que em tese deveria ser posterior
à primeira, é datada de outubro do mesmo ano.
Notas fiscais apresentadas na prestação de contas levantam suspeitas (Ministério da Cultura//Reprodução)
“Como você emite um mês depois uma nota que vem antes da primeira? Além
disso, os canhotos não foram retirados e tampouco datados ou assinados.
Levei o caso ao MinC e agora vou protocolar a denúncia junto ao
Ministério Público Federal para que sejam tomadas as medidas cabíveis”,
diz o deputado federal Sóstenes Cavalcante, vice-presidente da CPI.
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