Josias de Souza
Michel Temer se equipou para transformar o escândalo da JBS numa corrida de 100 metros rasos. O plano previa sepultar na Câmara, na velocidade de um raio, a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente. Entretanto, o procurador Rodrigo Janot converteu a encrenca numa espécie de maratona com obstáculos. Com o mandato em chamos e a popularidade em queda livre, Temer terá de derrotar no plenário da Câmara não uma, mas três denúncias.
Na primeira denúncia, protocolada na noite desta segunda-feira no Supremo Tribunal Federal, Janot acusa Temer e seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, o homem da mala, de corrupção passiva. Na segunda, o procurador-geral deve enquadrar Temer e o ex-ministro Geddel Vieira Lima no crime de obstrução de Justiça. Na terceira peça, o presidente deve responder por formação de organização criminosa.
Ao prolongar o suplício de Temer, a Procuradoria força os deputados a fazerem um cálculo do tipo custo-benefício. A chance de sobrevivência de Temer diminui na proporção direta do avanço do calnedário rumo ao ano eleitoral de 2018. Os deputados perguntarão aos seus botões: devo salvar um presidente que a maioria dos brasileiros quer ver pelas costas ou vou cuidar da minha própria sobrevivência? No impeachment de Dilma, os supostos aliados preferiram descer a lâmina.
Para barrar uma denúncia, o Planalto precisa seduzir pelo menos 172 deputados. Com isso, impede que o outro lado atinja a marca de 342 votos, mínimo necessário para que uma denúncia siga o seu curso.
Hoje, auxiliares de Temer sustentam que o governo dispõe de uma infantaria de pelo menos 240 deputados dispostos a livrar o pescoço do presidente da guilhotina —são apenas 68 votos além da margem de segurança. Para enfrentar uma denúncia, é razoável. Para duas, é pouco. Para três, é pouquíssimo.
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