quinta-feira, 6 de abril de 2017

Antes de salvar o país, os aliados da administração Temer tentam se salvar

Josias de Souza

A reforma da Previdência leva Michel Temer a experimentar desagradáveis sensações. O substituto constitucional de Dilma Rousseff acomodara-se na poltrona número um intoxicado pelo pior tipo de ilusão que pode acometer um presidente: a ilusão de que preside. Começa a se dar conta de que não há solidão mais vil do que a companhia dos áulicos palacianos e de uma numerosa base congressual.
Acossado por Renan Calheiros, que até ontem era um soldado a serviço da governabilidade, Michel Temer disse que não pode “ficar brigando com quem não é presidente da República.” Engano. Sempre que um presidente não aproveita uma oportunidade para reafirmar sua autoridade, acaba se transformando em oportunidade que gente como Renan aproveita.
Logo que foi efetivado no cargo, Temer bateu bumbo para alardear a herança maldita de Dilma. Prometeu reformas que recolocariam o país nos trilhos. Animou-se ao aprovar a emenda do teto de gastos federais. Assustou-se com as traições na votação do projeto da terceirização de mão de obra.
Com a reforma da Previdência, Temer enfrenta um tipo de adversidade que lhe sonega os papeis que desempenhou até aqui. Já não pode culpar Dilma. E não adianta apenas dizer que tem a força no Congresso. Chegou a hora de entregar a mercadoria.
Ao assumir, Temer acenara com um governo de salvação nacional. Mas sua infantaria parlamentar infirma que, antes de salvar o Brasil, quer salvar a própria pele. Já que não conseguem estancar a sangria da Lava Jato, os aliados de Temer tramam o voto em lista e se esquivam de reformas que coloquem em risco a reeleição e o escudo do foro privilegiado. Num primeiro recuo, Temer jogou pelo ralo uma economia estimada R$ 115 bilhões. Talvez tenha que recuar mais um pouco.

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