Há um antes e um depois de Lula na corrupção nacional, capaz até de assustar Emílio Odebrecht
Há quem veja nas delações da Odebrecht e nas centenas de inquéritos
delas decorrentes, tanto no Supremo Tribunal Federal (STF) como na
primeira instância, a confirmação de que toda a política nacional está
corrompida. A disseminação da corrupção seria de tal ordem que já não
teria muita serventia a identificação dos culpados. Com leves variações
de tons, todos os políticos seriam igualmente culpados. Ou, como desejam
alguns, todos seriam igualmente inocentes.
Como corolário desse duvidoso modo de ver as coisas – como se a
deformação da política tivesse pouca relação com a atuação desonesta de
pessoas concretas –, há quem entenda que as descobertas mais recentes da
Lava Jato desfazem a impressão, tão forte nas primeiras etapas da
operação, de que Lula e sua tigrada tiveram uma participação especial na
corrupção no País. Eles seriam tão somente um elo a mais na corrente
histórica de malfeitos. A responsabilidade por tanta roubalheira
caberia, assim querem fazer crer, ao sistema político.
Longe de relativizar a responsabilidade do PT na crise ética da
política, as revelações sobre os ilícitos da Odebrecht, delatados por
seus diretores e executivos, confirmam e reforçam o papel deletério de
Lula na política nacional. Seu papel foi decisivo e central para o
abastardamento da vida política brasileira. Foi ele o autor intelectual e
material do vil assassinato do interesse público nos dias que vivemos.
A corrupção levada a cabo nos anos do PT no governo federal não é
mera continuidade de um sistema corrupto. Há um antes e um depois de
Lula na corrupção nacional, capaz até de assustar Emílio Odebrecht. “O
pessoal dele (de Lula) estava com a goela muito aberta. Estavam passando
de jacaré para crocodilo”, disse o presidente do conselho de
administração da empreiteira, em relato por escrito à Procuradoria-Geral
da República.
É evidente que já existia corrupção antes de Lula da Silva chegar
à Presidência da República. A novidade trazida pelo ex-sindicalista foi
a transformação de todos os assuntos estatais em negócio privado. Sem
exagero na expressão, Lula da Silva pôs o Estado à venda. A Odebrecht e
outras empresas envolvidas no escândalo apenas compraram – sem nenhuma
boa-fé – o que havia sido colocado na praça.
Ao perceber que todos os assuntos relativos ao governo federal
poderiam gerar-lhe benefícios, pessoais ou ao Partido dos Trabalhadores,
Lula da Silva procedeu como de costume e desandou a negociar. Com alta
popularidade e situação econômica confortável – o País desfrutava então
das reformas implementadas no governo anterior e das circunstâncias
favoráveis da economia internacional –, Lula não pôs freios aos mais
escusos tipos de acordo que sua tigrada fazia em seu nome, em nome do
governo e em nome do partido, como restou provado no mensalão e no
petrolão.
Lula da Silva serviu-se do tradicional discurso de esquerda, de
ampliação da intervenção do Estado na economia, para gerar novas
oportunidades de negócio à turma petista. São exemplos desse modo de
proceder as políticas de conteúdo nacional e da participação obrigatória
da Petrobrás nos blocos de exploração do pré-sal. Aquilo que era
apresentado como defesa do interesse nacional nada mais era, como
ficaria evidente depois, que uma intencional e bem articulada ampliação
do Estado como balcão de negócios privados.
Lula não inventou a corrupção, mas criou uma forma bastante
insólita de fazer negócios escusos. Transformou a bandalheira em
política de Estado. Com isso, corruptos, velhos e novos, tiveram ganhos
nos anos petistas que pareciam não ter limites. Não foi por acaso nem
por patriotismo, por exemplo, que o governo petista estimulou as
empreiteiras a expandir sua atuação para novas áreas, como a exploração
de petróleo. Assim, incluía-se mais uma oportunidade ao portfólio de
negociatas da tigrada de Lula.
Todos os inquéritos abertos a partir das delações da Odebrecht
merecem especial diligência. Seria equívoco não pequeno, no entanto,
achar que o envolvimento de tanta e diversificada gente nas falcatruas
de alguma forma diminui a responsabilidade de Lula da Silva pelo que aí
está. A magnitude dos ilícitos descobertos pela Lava Jato, da Odebrecht e
de tantas outras empresas e pessoas, só foi possível graças à
determinação de Lula da Silva de pôr o Estado à venda. Não lhe neguemos
esse mérito. DO ESTADÃO
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