Projetos articulados por senadores e deputados federais tomaram conta do notíciário nos últimos dias e viraram o grande foco dos protestos. O novo alvo também ajuda a encorpar o que era, há até poucos dias, a reivindicação principal proposta pelos movimentos: o apoio à Operação Lava Jato.
"O Congresso está tentando jogar na cabeça do povo um combo de coisas que destroem a renovação política: anistia, foro privilegiado, voto em lista e aumento de financiamento público [das eleições]", diz Rogério Chequer, empresário e líder do movimento Vem Pra Rua, que organiza o evento deste domingo.
Apesar de ambos movimentos mobilizarem as redes sociais para o protesto, Chequer não confirma uma parceria com o MBL e trata o ato como fruto de promoção exclusiva do Vem Pra Rua.
O MBL, coordenado por Kim Kataguiri, tem reivindicações além das que foram apresentadas pelo grupo de Chequer. Em entrevista ao UOL por e-mail, Kim diz que o grupo também protesta neste domingo a favor da aprovação do Estatuto do Desarmamento e de uma sugestão própria de emenda apresentada ao Congresso para a reforma previdenciária.
A manifestação, que em São Paulo vai ocorrer na avenida Paulista, está prevista para acontecer em 103 cidades no país, de acordo com o Vem Pra Rua. Em Brasília, o protesto vai se concentrar às 10h em frente ao Congresso Nacional. No Rio de Janeiro, os manifestantes estarão na praia de Copacabana, no mesmo horário. No Rio Grande do Sul, o ponto de encontro é o parque Moinhos de Vento, de Porto Alegre, a partir das 15h. O movimento chamou atos também em quatro cidades do exterior: Boston e Nova York, nos Estados Unidos, Lisboa, em Portugal, e Zurique, na Suíça.
O Vem Pra Rua e o MBL devem compartilhar a avenida Paulista neste domingo, junto de outros grupos menores. O protesto deve repetir o ritual dos demais, mantendo-se parado na avenida.
Lava Jato: "defesa constante"
As bandeiras levantadas pelo Vem Pra Rua não anulam a "defesa constante" da Operação Lava Jato, afirma Chequer. Diferentemente dos eventos anteriores, em que a ex-presidente petista Dilma Rousseff era o alvo, o empresário diz liderar um movimento crítico aos políticos que se articulam para "manter a impunidadem não importa de que partido seja. Seja do governo ou não. Se for do PT ou não."Para Chequer, o "combo" de ações propostas pelos congressistas indica que há um movimento pela impunidade dos possíveis envolvidos em investigações da Lava Jato. Ele vê como indício desse cenário a reunião de 15 de março entre o presidente Michel Temer, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Gilmar Mendes, e os presidentes do Senado e Câmara, Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ao final do encontro, Mendes defendeu a adoção do sistema de votação por lista fechada, quando o eleitor vota em um partido que apresenta uma lista pré-ordenada dos candidatos, não em um nome. Hoje, o eleitor vota diretamente no candidato.
Nas redes sociais do Vem Pra Rua, os participantes dessa reunião viraram chamariz para divulgar o evento deste domingo. Uma foto de Temer, Maia e Eunício vem acompanhada da mensagem: "Eles tramam o fim da democracia, com voto em lista fechada e mais R$ 3 bilhões para as eleições. Não vamos permitir. Se você não concorda, no dia 26 de março, vem pra rua!". A montagem teve 12 mil curtidas. Na página do evento deste domingo em rede social, há cerca de 29 mil manifestantes confirmados.
Kim Kataguiri, por sua vez, aponta que a manifestação é contra anistias a crimes relacionados a caixa dois consideradas por "figuras" como o presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, Edison Lobão (PMDB-MA), e o relator da comissão sobre reforma política na Câmara, Vicente Cândido (PT-SP).
Políticos não vão para as ruas
Na manifestação de São Paulo, o único político que deve subir no carro de som do MBL é o vereador da capital paulista Fernando Holiday (DEM), integrante do grupo. O Vem Pra Rua afirma que é um movimento suprapartidário e não dará voz a nenhum político nos protestos por todo o Brasil.Diferentemente do que está previsto para este domingo, a manifestação de março do ano passado contra a corrupção contou com a presença de vários políticos de expressão nacional. Alguns deles, citados nas delações da Odebrecht afirmam, reservadamente, que não pretendem comparecer às manifestações porque a pauta já não é mais a saída da presidente petista.Daniela Garcia
UOL, em São Paulo
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