O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou nesta
terça-feira (14) ao Supremo Tribunal Federal (STF) 83 pedidos de
abertura de inquérito para investigar políticos citados nas delações de
77 executivos e ex-executivos da empreiteira Odebrecht e da petroquímica
Braskem (empresa do grupo Odebrecht).
Não foram divulgados os nomes dos alvos dos pedidos porque a
solicitação tem caráter sigiloso. O procurador-geral pediu a retirada do
segredo de Justiça de todo o material, sob o argumento de que é
necessário promover transparência e atender ao interesse público.
Sete funcionárias da Procuradoria Geral da República chegaram às 17h06
ao Supremo Tribunal Federal com as 11 caixas de documentos para serem
protocolados, segundo informou a GloboNews.
Os pedidos de abertura de inquérito foram enviados ao Supremo Tribunal
Federal porque entre os alvos há autoridades com foro privilegiado, isto
é, que só podem ser investigadas (e depois julgadas, se for o caso) com
autorização do STF. São os casos de deputados e senadores, por exemplo.
Governadores são investigados e julgados no Superior Tribunal de
Justiça (STJ).
Para os casos de políticos e demais pessoas que perderam o foro
privilegiado – integrantes do governo passado, por exemplo –, o
procurador-geral fez 211 pedidos de remessa de trechos das delações para
instâncias inferiores da Justiça (o chamado "declínio de competência").
No total, a Procuradoria Geral da República fez ao Supremo 320 pedidos, dos quais:
- 83 pedidos de abertura de inquérito
- 211 pedidos de remessa de trechos das delações que citam pessoas sem foro no STF para outras instâncias da Justiça
- 7 pedidos de arquivamento
- 19 outras providências
O relator da Operação Lava Jato no Supremo, ministro Edson Fachin, é
quem decidirá se os inquéritos serão autorizados e se o sigilo será
removido.
O material protocolado nesta terça pela PGR deverá chegar ao gabinete de Fachin
– após a tramitação interna no Supremo – no final desta semana ou
início da semana que vem. Somente depois disso é que o ministro terá
condições de começar a analisar os pedidos.
Os 77 delatores prestaram no final do ano passado aproximadamente 950
depoimentos nos quais relataram como se dava a relação da Odebrecht com o
mundo político. Nesses depoimentos, segundo a TV Globo apurou, são
mencionados os nomes de pelo menos 170 pessoas, entre as quais políticos
com foro e sem foro privilegiado.
Nova 'lista do Janot'
Os políticos que serão investigados – se o ministro Fachin autorizar a
abertura dos inquéritos – integrarão a apelidada "nova lista do Janot".
Há dois anos, o procurador-geral já havia pedido, de uma só vez,
autorização para apurar o suposto envolvimento de 47 parlamentares e
ex-parlamentares com o esquema de corrupção que atuava na Petrobras,
investigado pela Operação Lava Jato.
Naquela ocasião, coube ao então relator do caso no STF, ministro Teori
Zavascki, dar aval para as investigações da chamada primeira "lista do
Janot". Teori morreu em janeiro em um acidente aéreo no litoral do Rio
de Janeiro e foi substituído na função por Fachin.
Quando os primeiros pedidos de investigação em sigilo chegaram ao STF,
em março de 2015, o então relator da Lava Jato, Teori Zavascki, levou
três dias para liberar o conteúdo.
De acordo com a Procuradoria Geral da República, as delações foram
negociadas durante dez meses, período em que foram realizadas 48
reuniões entre as partes.
No total, informou a PGR, os depoimentos dos delatores mobilizou
durante uma semana 116 procuradores da República em 34 unidades do
Ministério Público Federal de todas as regiões do país.
As etapas do processo
Entenda abaixo cada etapa dos processos, da investigação ao julgamento:
- Na preparação dos pedidos de abertura de inquérito, os procuradores da República pesquisam se determinado episódio mencionado pelos delatores nos depoimentos já faz parte de outro inquérito que já esteja em andamento. Nesse caso, as novas provas entregues pelos executivos da Odebrecht devem ser juntadas a esses processos em andamento.
- Se já não houver investigação sobre o caso, o grupo de procuradores ainda busca declarações contidas em delações mais antigas que possam reforçar as suspeitas para pedir a abertura de um novo inquérito.
- Uma terceira possibilidade é o pedido de arquivamento de uma citação, se for considerado que não há indícios do cometimento de crime ou de sua autoria.
- Quando chega à Justiça, o pedido de investigação ainda é analisado pelo magistrado responsável, que só então autoriza o início das diligências – que envolvem coleta de provas, depoimentos de testemunhas e também do próprio investigado.
- Se ao final dessa fase, o Ministério Público considerar que há provas suficientes, apresenta uma denúncia, com acusações formais de crimes imputados.
- Novamente, caberá ao Judiciário decidir se aceita a denúncia, o que leva à abertura de uma ação penal e torna o investigado réu num processo criminal.
- É nessa fase que a defesa pode apresentar provas de inocência do acusado e tentar a absolvição.
- A etapa final é o julgamento, que declara se há ou não culpa e qual a pena a ser aplicada.DO G1
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