José Dirceu desponta na Lava Jato como uma delação que preferiu não acontecer. Condenado novamente
pelo juiz Sérgio Moro nesta quarta-feira, o grão-petista já acumula no
petrolão sentenças que somam 32 anos e 1 mês de cadeia. Por muito menos,
outros encrencados no escândalo suaram o dedo em acordos de delação.
Trocaram o risco da permanência longeva numa penitenciária pelo
benefício de arrastar uma tornozeleira eletrônica no caminho que separa a
sauna da pérgula da piscina de uma casa em Angra dos Reis ou na Barra
da Tijuca.
Pela lógica da delação, Dirceu teria que dedurar para
cima. Sua colaboração não seria aceita se não mencionasse um nome: Lula.
Responsável pela costura dos acordos interpartidários que azeitaram a
chegada de Lula ao Planalto, Dirceu é co-autor do projeto de poder que
guindou o PT à condição de máquina coletora de pixulecos. Se Dirceu
tivesse contado o que sabe, Lula já não estaria fazendo pose de
alternativa presidencial para 2018.
O silêncio do ex-guerrilheiro é
cultuado pelo petismo. Mas pessoas que visitaram Dirceu dizem que ele
se queixa de abandono. Um amigo petista do preso afirmou ao repórter
que, a despeito da mágoa que nutre pelo partido e por seus líderes,
Dirceu jamais consideraria a hipótese de se converter em delator.
Trancado em seus rancores, o ex-chefão da Casa Civil repara que o
petismo derrete e Lula coleciona ações penais sem que ele tenha movido
os lábios.
A única traição que Dirceu cometeu foi contra o seu
próprio mito. Até o mensalão, conseguiu manter as aparências. Punho
esguerdo erguido, foi preso e recolhido à Papuda imaginando-se
beneficiário da atenuante de não ter agido em proveito próprio ou
alcançado fins que não justificassem os meios. No petrolão, restou
demostrado que evoluiu definitivamente do socialismo de resultados para a
apropriação pessoal. Hoje, não resta dúvida de que Dirceu deixou a
ideologia para cair na vida. Transformou sua casa em Vinhedo (SP) num
pedaço de Éden. Mas sem a delação e com 70 anos de idade, completados
atrás das grades, terá de rezar para que a propriedade não vá a leilão.
De
resto, Dirceu será compelido a conviver com um verbete na enciclopédia
em que seus ideais estudantis se misturarão a trechos das sentenças de
Sergio Moro. Trechos como esse, extraído da condenação desta
quarta-feira:
“O mais perturbador em relação a José Dirceu de
Oliveira e Silva consiste no fato de que praticou o crime inclusive
enquanto estava sendo processado e julgado pelo Plenário do Supremo
Tribunal Federal na Ação Penal 470 [mensalão], havendo registro de
recebimento de propina, no presente caso, até pelo menos 23/07/2012. Nem
o processo e o julgamento pela mais Alta Corte do País representou
fator inibidor da reiteração criminosa, embora em outro esquema ilícito.
Agiu, portanto, com culpabilidade extremada…”DO J.DESOUZA
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