Ciro Gomes nem precisa de adversários em campanhas
eleitorais: ele sabe como ninguém perder sozinho. Na primeira disputa
presidencial em que se meteu, a candidatura começou a derreter quando
chamou de “burro” um eleitor com quem falava por telefone durante um
programa radiofônico. O segundo naufrágio do gabola que primeiro fala e
só depois pensa (se é que pensa) tornou-se inevitável com a definição do
papel que a atriz Patrícia Pillar, com quem estava casado na época,
desempenharia na campanha do marido: dormir com o candidato, resumiu.
O vídeo acima confirma que, quando se trata de gente, graves
defeitos de fabricação não têm conserto. “Hoje esse… esse Moro resolveu
prendê um… um bloguero?”, desandou no meio da entrevista o pistoleiro
que faz mira só depois do disparo. “Ele que mande me prendê, que eu
recebo a turma dele na bala”. Endereçado ao juiz que simboliza a
Operação Lava Jato, o tiro ricocheteou na língua portuguesa antes de
atingir, de novo, a testa do eterno candidato sem chances à Presidência
da República.
Se fosse mais gentil com o idioma, Ciro receberia à bala,
nunca “na bala”, os agentes da Polícia Federal que formam o que chama
de turma do Moro. Se respeitasse a inteligência alheia, não diria que
Sérgio Moro “resolveu prendê um bloguero”; apenas determinou que um
blogueiro objeto de investigações prestasse depoimento. Se passasse
menos tempo na cidade onde foi criado, governada pela família que se
confunde com um bando de coronéis, teria descoberto que o país mudou. O
Brasil não é uma imensa Sobral. E jamais será.
Já não existem figurões condenados à perpétua impunidade. A
lei passou a valer para todos, aí incluídas todas as ramificações da
tribo dos cirosgomes. O ex-governador do Ceará não acordou com batidas
na porta às seis da manhã por uma razão singela: não existem (ainda)
motivos para isso. Caso esteja enredado em alguma das patifarias
atravessadas no caminho da operação, a usina ambulante de bravatas não
tardará a receber a visita dos policiais.
Se restar algum juízo ao clã, Ciro será aconselhado pela
família a receber os visitantes empunhando não um tresoitão, mas uma
bandeja com o bule e xícaras de café.DO A.NUNES
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