segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A maior delação da Lava Jato


O Grupo é o maior entre as integrantes do cartel acusado de corrupção na Petrobrás. Em 2014, possuía operação em 24 estados da federação e em mais de 70 países, tendo uma intrincada e complexa movimentação de recursos financeiros. Entre 2004 e 2014 movimentou R$ 35 bilhões em contratos diretos e em parcerias com a Petrobrás. Em contratos diretos de suas unidades (sem contar consórcios e sociedades que ela integra) são R$ 17 bilhões em contratos com a estatal. Ao Grupo Odebrecht é estimado o pagamento de R$ 1 bilhão em propinas, entre 2004 e 2014. O prejuízo provocado por sobrepreço nesses negócios pode chegar a R$ 7 bilhões, estima perícia contábil da Polícia Federal.

As colaborações com o Ministério Público Federal

Como funcionava o ‘Departamento da Propina’

O Setor de Operações Estruturadas, chamado de “departamento da propina” por investigadores, funcionou como órgão para pagamento de propinas e caixa-2 no grupo desde 2006 e foi dissolvido em julho de 2015, um mês após Marcelo Odebrecht e executivos do grupo serem presos pela Lava Jato. Foi instalado dentro da estrutura empresarial para controle, organização e operacionalização de pagamento ilícitos. Incluía em seus serviços não só a contabilidade e o controle financeiros desses dispêndios, mas também da “dissimulação da origem ilícita” dos pagamentos.

Organograma do Setor:


Pagamentos
Diretores de contratos, gerentes e líderes empresariais encaminhavam semanalmente demandas para o setor, através de planilhas do sistema MyWebDay e troca de e-mails pelo sistema de intranet Drousys. Duas formas de pagamentos eram efetuadas: por meio de contas secretas mantidas no exterior (caso da propina paga aos dirigentes da Petrobrás) e por entregas de dinheiro em espécie no Brasil, através de operadores do mercado financeiro e doleiros fixos, chamados de prestadores de serviços.
A planilha da propina. Reprodução de telas do sistema MyWebDay onde, segundo procuradores, Marcelo Odebrecht (MOB) autoriza pagamento de R$ 1 milhão para a campanha de Dilma Rousseff (DP)
Ordenadores
Três executivos eram os responsáveis pelas ordens de pagamentos e pela contabilidade do Setor de Operação Estruturadas da Odebrecht:
Hilberto Marscarenhas Alves da Silva Filho
(Charlie)
Principal executivo do Setor de Operação Estruturadas, era o supervisor do chamado “departamento da propina” e tinha como subordinados os demais funcionários do setor. Atuava na coordenação e organização da atividade de sistemática dos pagamentos, tanto nas movimentações em território nacional como no exterior. Apareceu como controlador da conta da offshore Smith & Nash Engineering Company Inc, com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, oficial do grupo, mas não declarada.
Fernando Migliacci da Silva
(Waterloo)
Cuidava da parte operacional das entregas de propina em espécie no Brasil. Subordinado a Hilberto Silva. Controlava o repasse de valores de contas secretas no exterior para contas paralelas mantidas com doleiros fixos, que eram prestadores de serviços. Controlava as contas em nomes das offshores Innovation Engineering and Research, Constructora Del Sur e Klienfeld Services. Foi preso na Suíça tentando esvaziar as contas mantidas naquele país.
Luiz Eduardo da Rocha Soares
(Toshio)
Cuidava dos pagamentos no exterior, via contas offshores e ex-funcionários. Subordinado a Hilberto Silva. Irmão de Paulo Soares, que desenvolveu o Sistema Drousys, na empresa Draft Systems do Brasil, criada para atuar no mercado, mas que tinha a Odebrecht como principal cliente. A Draft funciona no mesmo endereço da JR Graco Serviços Cadastrais, dos réus Olívio Rodrigues e seu irmão Marcelo, que eram operadores financeiros de propinas


Secretárias
Quatro secretárias cuidavam do funcionamento do "departamento da propina". Elas atuavam subordinadas aos três executivos recebendo os pedidos de pagamentos, controlando o fluxo de caixa, os balanços, planilhas e ordenamentos a prestadores, como doleiros e agentes do mercado financeiro, para entregas de valores e transferências, dentro e fora do Brasil:
Maria Lúcia Tavares
(Tulia)
Era secretária-executiva em Salvador. Responsável pela operacionalização dos pagamentos e controle da contabilidade do departamento, subordinada a Hilberto Silva, Fernando Silva e Luiz Soares
Ângela Ferreira Palmeira
(Tsarina)
Era secretária-executiva em Salvador. Responsável pela operacionalização dos pagamentos e controle da contabilidade do departamento, subordinada a Hilberto Silva, Fernando Silva e Luiz Soares
Alyne Nascimento Borazo
Era secretária em São Paulo. Assessorava Hilberto Silva, Fernando Silva e Luiz Soares


Audenira Jesus Bezerra
Era secretária em Salvador. Assessorava Hilberto Silva, Fernando Silva e Luiz Soares

O pagamento de propinas do Grupo Odebrecht seguia a mesma normatização e o sistema de gestão implementado no conglomerado empresarial. O Diretor de Contrato fazia um pedido para seu Diretor Superintendente. Este comunicava a seu Líder Empresarial, que comunicava o Diretor-Presidente. Com o OK, o diretor de contrato enviava o pedido para as secretárias executivas do Setor de Propinas, identificando origem do pedido, fonte do recurso, autorizador e beneficiário:

Doações eleitorais registradas em 2014

A Lava Jato reuniu os registros de doações do Grupo Odebrecht do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e cruzou com os dados encontrados nos balanços contábeis das empresas e elaborou uma tabela repasses a candidaturas em 2014. Constatou-se que o partido político que foi beneficiado com maior volume de recursos foi o PT, seguido do PMDB e do PSDB.

Obras na mira dos procuradores

A Odebrecht é alvo de investigações em 27 obras no Brasil: Santos Drumont, presídios, metrô Barra-Gávea-Linha, linha 4 Oeste, Maracanã, reabilitação praia de Sepetiba, túnel da Grota, habitações no Complexo do Alemão, Arco Metropolitano e Usina Hidrelétrica de Simplécio - RJ; Empresa Saneamento Mairinque, linhas 2 e 4 do metrô, esgotamento Sanitário Mauá, Corredor Metropolitano de Campinas – SP ; Barragem Taquarembo, Trensurb e Porto Rio Grande - RS; Complexo Suape e Arena Pernambuco - PE; Arena Fonte Nova - BA; Tabuleiros Litorâneos - PI; ETE Natal - RN; Conpar - PR; Sistema Adutor Castanhã – CE; Hidrelétrica Santo Antônio – RO; e Esgotamento Sanitário - ES.
Fora do Brasil, a Odebrecht é investigada em obras nas vias de Luanda e no Aeroporto Catumbbla, em Angola.
DO ESTADÃO

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