Em países onde vigora o Estado de Direito, o direito à manifestação é respeitado, mas a baderna e a desordem, não
Bem que Guilherme Boulos, o notório líder do Movimento dos
Trabalhadores Sem-Teto (MTST), avisou que iriam “virar rotina” os
bloqueios de avenidas e estradas como forma de protesto por parte dos
“movimentos sociais” que perderam seus privilégios depois do impeachment
da petista Dilma Rousseff.
É espantoso que sobre esses grupelhos, que agem evidentemente
como marginais, ainda não tenha recaído o peso da lei. Em países onde
vigora o Estado de Direito, o direito à manifestação é respeitado, mas a
baderna e a desordem, não. A falta de pulso para lidar com delinquentes
que decidem infernizar a vida dos cidadãos comuns quando lhes dá na
veneta, sem que por isso sejam devida e legalmente reprimidos, alimenta a
sensação de que tudo podem.
Portanto, o que aconteceu ontem em São Paulo e em diversas
cidades do País, onde manifestantes impediram milhares de pessoas de
chegar aonde pretendiam e atender a seus compromissos diários, vai mesmo
“virar rotina” – pelo menos até que o poder público resolva cumprir seu
papel de guardião da segurança e dos direitos de todos, sem concessões.
O mote do tumulto de ontem foi a chamada PEC do Teto, a Proposta
de Emenda Constitucional que visa a colocar um fim na gastança
desenfreada que quebrou o País durante o mandarinato lulopetista. O
motivo, claro, é o de menos. Para a tigrada, o que importa é criar
problemas para o governo de Michel Temer, na presunção de que, se as
medidas tomadas pelo presidente fracassarem e se for criado um clima de
confronto social, o eleitor voltará para os braços do PT e seus
associados.
Feitas as contas, é apenas isso o que restou aos petistas e
companhia: promover a mazorca. De uma hora para outra, o outrora robusto
capital eleitoral do PT derreteu, em meio às evidências de envolvimento
de seus principais dirigentes em cabeludos escândalos de corrupção e
depois que o País afundou numa brutal crise econômica causada pelas
irresponsabilidades de Dilma Rousseff, criatura inventada pela soberba
do chefão Lula da Silva. O eleitor, enfim, cansou-se do engodo petista,
negando-lhe os votos de que o partido se julgava dono e que pareciam lhe
garantir o poder eterno.
É claro que, por não terem nenhuma vocação democrática, os
petistas, em lugar de admitir seus erros, preferiram criar toda sorte de
teorias para justificar sua queda. A principal delas é a de que existe
um complô – ou um “pacto diabólico”, conforme definiu Lula – das
“elites” para erradicar o PT e acabar com os direitos dos trabalhadores.
Para denunciar essa tal conspiração, os petistas resolveram colocar a
tropa na rua, prejudicando principalmente os trabalhadores que eles
dizem defender.
O movimento de ontem, chamado de Dia Nacional de Greves e
Paralisações, foi liderado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT),
pela Frente Povo Sem Medo, pela Frente Brasil Popular e outros tantos
grupelhos inconformados com a democracia. Sem representarem nada além de
seus chefetes e privados do acesso às tetas estatais em que mamaram
durante os anos de bonança lulopetista, eles investem na confusão.
Apresentam-se como defensores dos trabalhadores e atribuem ao governo
Temer a pretensão de fazer o ajuste fiscal à custa dos mais pobres, o
que tornaria legítimo o movimento paredista.
No entanto, como os eleitores deixaram claro nas urnas, essa
patranha não cola mais. Mesmo os antigos simpatizantes do PT perceberam
que a atual aflição dos trabalhadores resultou da funesta experiência
desse partido no poder federal, replicada em maior ou menor grau em
quase todos os Estados. Foi o gasto público irresponsável que condenou o
País à recessão, ao desemprego e, pior, à falta de perspectiva. O
mínimo a fazer, como esperam todos aqueles que têm de trabalhar para
viver, é interromper essa sangria e recuperar as contas públicas, de
cujo equilíbrio dependem a manutenção dos serviços essenciais para os
mais pobres e a retomada da geração de empregos. E, não menos
importante, é também obrigação dos governos, em todos os níveis, não
permitir que os derrotados nas urnas se tornem senhores das ruas. DO ESTADÃO
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