Em
discurso no Palácio do Planalto, presidente em exercício afirma ser
'urgente um governo de salvação nacional', diz que promoverá
reequilíbrio das contas públicas e garante a continuidade de programas
sociais:
'Nenhuma das reformas alterará os direitos adquiridos pelos
cidadãos'
Em posse de ministros, Temer garante programas sociais e prega diálogo
Presidente interino manifesta apoio à Lava-Jato em seu primeiro pronunciamento
Por Letícia Fernandes
O Globo
BRASÍLIA — Em seu primeiro pronunciamento já na condição de presidente
interino, Michel Temer (PMDB-SP) pregou o diálogo e a união do povo
brasileiro e de todos os poderes para garantir a governabilidade. O
peemedebista citou a presidente afastada Dilma Rousseff, afirmando que
tem por ela "absoluto respeito institucional", mas criticou palavras
"propagadoras de mal estar entre os brasileiros". Temer garantiu, "em
letras garrafais", que vai manter os programas sociais executados pelos
governos petistas, cuja maior vitrine é o Bolsa Família, e sinalizou
ainda que dará seguimento às investigações da Operação Lava-Jato. Ele deu posse aos 23 ministros nesta quinta-feira.
—
Faço questão de declarar meu absoluto respeito institucional à senhora
presidente Dilma Rousseff. Não discuto aqui as razões pelas quais foi
afastada, apenas sublinhar a importância do respeito às instituições e
observância à liturgia no trato das questões institucionais. Temos que
recuperar uma certa cerimônia institucional, em que as palavras não
sejam propagadoras do mal estar entre os brasileiros, que sejam
propagadoras da paz, solidariedade, equilíbrio. Tudo que disse faz parte
de um ideário não em busca da unanimidade, mas como início de diálogo, a
busca de entendimento.
LEIA: A íntegra do discurso de Michel Temer
PROGRAMAS SOCIAIS
O
presidente interino garantiu que vai manter os programas sociais
executados pelos governos petistas, como o Bolsa Família, o Pronatec, o
Fies e o ProUni. Temer voltou a falar em um governo de "salvação
nacional" para tirar o país da crise e disse que o reequilíbrio das
contas públicas é a saída para voltar a crescer e gerar empregos. Temer
afirmou que é preciso prestigiar programas que deram certo em outras
gestões, em vez de manter o hábito de "destruir o que foi feito".
—
Reafirmo, e o faço em letras garrafais: vamos manter os programas
sociais, o Bolsa Família, Pronatec, Fies, Prouni, Minha Casa Minha Vida,
entre outras, são projetos que deram certo e terão sua gestão
aprimorada. Precisamos acabar com o hábito que existe no Brasil em que,
assumindo outrem no governo, você tem que destruir o que foi feito. Ao
contrário, você tem que prestigiar aquilo que deu certo, aprimorá-los e
fazer outros programas úteis para o país — disse Temer, reafirmando que
nenhuma reforma vai alterar direitos já adquiridos pelos brasileiros:
— Quero fazer uma observação: nenhuma dessas reformas alterará os direitos adquiridos pelos cidadãos.
O presidente em exercício, Michel Temer, discursa durante a posse dos novos ministros.
Daniel Marenco / Agencia O Globo / 12-5-2016
DESEMPREGO
O presidente interino, que assumiu na manhã desta quinta-feira, após oficializado o afastamento de Dilma Rousseff,
afirmou que o principal e primeiro desafio de sua gestão será reduzir o
desemprego. Ele citou como esforços primordiais também a redução da
inflação, o incentivo à indústria, aos trabalhadores e micro, pequenos e
médios empresários. Temer disse que é importante sinalizar aos
investidores internacionais com uma "resposta rápida".
—
Com base no diálogo, adotaremos políticas adequadas para incentivar a
indústria, comércio, serviços, trabalhadores e agricultura, tanto a
familiar quanto o agronegócio. Especialmente apoiando os micro, pequenos
e médios empresários, além de modernizar o país, realizando maior
objetivo do governo: reduzir o desemprego.
GOVERNABILIDADE E LAVA-JATO
Temer disse que é preciso governar em conjunto, e pediu não só o apoio da classe política, mas a da sociedade brasileira:
—
Temos que governar em conjunto. Nós vamos precisar muito da
governabilidade, e ela exige, além do que chamo de governança, apoio da
classe política, precisa também de governabilidade, apoio do povo, que
precisa colaborar e aplaudir as medidas. A classe política, unida ao
povo, conduzirá ao crescimento do país — disse, reiterando a importância
dos instrumentos de controle e apuração de irregularidades, e disse que
a Lava-Jato se tornou uma "referência":
—
A moral pública será permanentemente buscada por instrumentos de
controle e apuração de desvios. Nesse contexto, a Lava-Jato tornou-se
referência e deve ter prosseguimento e proteção contra qualquer
tentativa de enfraquecê-la.
RECUPERAÇÃO DA ECONOMIA
Quase
sem voz, Michel Temer afirmou que, quanto antes consiga reequlibrar as
contas públicas, mais rápido o país retomará o crescimento e a economia.
—
Quanto mais cedo formos capazes de reequilibrar as contas públicas,
mais rápido retomaremos o crescimento. Primeira medida nessa linha está
aqui representada, já eliminamos vários ministérios da máquina pública, e
ao mesmo tempo não vamos parar por aí. Já estão encomendados estudos
para eliminar cargos comissionados, sabidamente na casa de milhares de
funções comissionadas — disse.
BANCO CENTRAL
Para
o peemedebista, é importante que haja harmonia entre os poderes, sem
interferência de um no outro. Essa é uma das maiores críticas do
Congresso Nacional ao Judiciário, que por vezes interferiu no
Legislativo para garantir o funcionamento do poder.
—
Temos pouco tempo, mas, se nos esforçarmos, é suficiente para fazer as
reformas que o Brasil precisa. Quero ressaltar a importância da harmonia
entre os poderes, a determinação da própria Constituição no sentido de
que cada órgão do poder tem suas tarefas, ninguém pode interferir em
nenhum outro poder porque a Constituição diz que os poderes são
independentes e harmônicos entre si.
O
peemedebista fez uma sinalização para "tranquilizar" o mercado e disse
que pretende dar garantias para fortalecer a atuação do Banco Central na
condição de "condutor" das políticas monetária e fiscal. Ele falou
também em eficiência dos gastos públicos, o que, segundo ele, não tem
sido uma das preocupações do governo Dilma.
—
Serão mantidas todas as garantias que a direção do Banco Central hoje
discuta para fortalecer sua atuação como condutora da política monetária
e fiscal — afirmou, dizendo que o país vive, hoje, uma "democracia da
eficiência".
O
presidente interino, Michel Temer, e o ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, durante a cerimônia de posse dos novos ministros
Daniel Marenco / Agencia O Globo / 12-5-2016
PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS
Temer
repetiu o que já tinha falado no discurso que foi divulgado antes da
votação do impeachment na Câmara: a importância das Parcerias
Público-Privadas, e defendeu um estado mínimo, que cuide apenas das
questões primordiais, como Saúde e Educação. O resto, disse, será
entregue à iniciativa privada:
—
Queremos incentivar de maneira significativa as Parcerias Público
Privadas, na medida em que esse instrumento poderá gerar emprego no
país. Sabemos que o estado não pode tudo fazer, depende da atuação dos
setores produtivos, empregadores de um lado e trabalhadores de outro.
São esses dois polos que irão criar nossa prosperidade. Ao estado, por
óbvio compete cuidar da segurança, saúde, educação, dos espaços e
setores fundamentais, que não podem sair da órbita pública. O restante
terá que ser compartilhado com iniciativa privada.
REFORMAS
Michel
Temer citou as reformas trabalhistas e da Previdência como pautas
"controvertidas" e disse que só dará prosseguimento a elas se for
cumprido o objetivo, que é o pagamento aos aposentados e a geração de
emprego. Ele admitiu que é uma "agenda difícil", mas reafirmou que ela
será norteada pelo diálogo e por uma "conjugação de esforços":
—
Há matérias controvertidas, como a reforma trabalhista e
previdenciária. A modificação que queremos tem como objetivo, e só se
este for cumprido elas serão levadas adiante, o pagamento das
aposentadorias e geração de emprego. Tem como garantia a busca da
sustentabilidade para assegurar o futuro. Essa agenda difícil,
complicada, será balizada de um lado pelo diálogo, e de outro pela
conjugação de esforços.
PACTO FEDERATIVO
Temer
citou algumas das matérias que pretende ver aprovadas pelo Congresso
Nacional. Ele citou a revisão do pacto federativo como uma das
principais medidas, com o objetivo de dar autonomia verdadeira aos
estados e municípios sob a égide de uma federação real, ao contrário da
"federação artificial" que, segundo ele, há hoje.
—
Estados e municípios precisam ganhar autonomia verdadeira, sob a égide
de uma federação real, não sob a égide de uma federação artificial como
vemos atualmente. A força da União, temos que colocar isso na nossa
cabeça, deriva da força dos estados e municípios — disse, ao defender
que seu governo organize "as bases do futuro".
Para
aprovar esse tipo de medida, o presidente interino disse que aposta na
"compreensão" dos brasileiros para a necessidade da aprovação desta e de
reformas como a trabalhista e previdenciária.
—
Quando editarmos uma norma referente a essas reformas, será pela
compreensão da sociedade brasileira, e é para isso que nós queremos uma
base parlamentar sólida, que nos permita conversar com a classe política
e também com a sociedade. Executivo e Legislativo precisam trabalhar em
harmonia e de forma integrada, até porque no Congresso estão
representadas todas as correntes de opinião da sociedade brasileira, lá
estão todos os votos, portanto temos que governar em conjunto — defendeu
o peemedebista.
LEMA "ORDEM E PROGRESSO"
Temer
citou uma frase que leu em um outdoor de um posto de gasolina para
dizer que não falará mais em crise, e que vai focar em trabalhar para
melhorar as condições do país. Ele admitiu que tem pouco tempo, mas que
se esforçará para encampar as mudanças necessárias. O lema de seu
governo será "ordem e progresso", as mesmas palavras escritas na
bandeira do Brasil.
—
A partir de agora não podemos mais falar em crise, vamos trabalhar.
Nosso lema é ordem e progresso, a expressão da nossa bandeira não
poderia ser mais atual, como se hoje tivesse sido redigida — disse.
O presidente interino Michel Temer é recebido para a cerimônia de posse de ministros
André Coelho / Agência O Globo / 12-5-2016
PEDIDO DE CONFIANÇA
Ele
se dirigiu aos brasileiros, em sua primeira fala pública como
presidente interino, e falou em confiança para que, com a união entre
todos, o país possa superar desafios:
—
Minha primeira palavra ao povo brasileiro é a palavra confiança,
confiança nos valores que formam o caráter de nossa gente, na vitalidade
da nossa democracia, confiança na recuperação da economia nacional, nos
potenciais do nosso país, em suas instituições sociais e políticas e na
capacidade de que, unidos, poderemos enfrentar os desafios desse
momento que é de grande dificuldade.
Temer
também disse que quer fazer "ato religioso com o Brasil", de
"religação" dos brasileiros com "valores fundamentais". O presidente
pediu que Deus abençoe a ele, sua equipe e todos os brasileiros.
—
Fundado num critério de alta religiosidade, o que queremos agora fazer
com o Brasil é um ato religioso, ato de religação de toda a sociedade
brasileira com os valores fundamentais do nosso país. Por isso peço a
Deus que abençoe a todos nós, para estarmos sempre à altura dos grandes
desafios que temos pela frente. Muito obrigada e um bom Brasil para
todos nós — disse, encerrando seu discurso.
TENTATIVA DE INVASÃO
Enquanto
Michel Temer fazia seu primeiro pronunciamento, manifestantes do lado
de fora do Palácio do Planalto entraram em confronto com Polícia
Militar, que usou gás de pimenta para dispersar os militantes. Eles
protestaram contra a posse e tentaram invadir o palácio.
Um
pouco antes, os manifestantes ultrapassaram a cerca que protege o
Palácio do Planalto e deitaram na rampa. Em seguida, foram retirados do
local. Segundo a PM, eram cerca de 200 pessoas no local a favor e contra
o impeachment. Um grupo de mulheres pró-Dilma chegou a se acorrentar na
cerca que protege o Planalto, como protesto.
Em
São Paulo, protesto organizado por movimentos sociais fechou os dois
sentidos da Avenida Paulista. O grupo pró-Dilma, acompanhado por um
caminhão de som, saiu em marcha em direção ao prédio da Fiesp, local do
acampamento pró-impeachment, onde queimaram patos de papelão. O pato é
um símbolo, criado pela Federação das Indústrias de São Paulo, do
movimento pelo afastamento da presidente Dilma.12/05/2016DO R.DEMOCRATICA
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