Configurada a expressiva maioria de senadores favoráveis ao processo de impeachment, o governo Dilma Rousseff (PT) começa,
a partir desta quinta-feira (12), a fazer parte do passado. Com a
presidente, afasta-se do proscênio um sistema político, ideológico e
administrativo que, nos últimos anos, se afundou no próprio fracasso.
Cercado de questionamentos técnicos, e sem incidir sobre a
honorabilidade pessoal de Rousseff, o embasamento do impeachment contou
menos do que a situação econômica e política do país.
A presente derrocada não atinge apenas a figura da presidente; abate-se
sobre todo o conglomerado petista. Suas raízes vêm de longe. Após um
período de bonança, o partido reagiu com velhos vícios à conjuntura
desfavorável iniciada com a crise de 2008.
Num paradoxo, ao mesmo tempo em que recorria a mofados preconceitos
doutrinários, o petismo abandonava de vez sua resistência ética,
mergulhando sem escrúpulos na lama pragmática.
A passagem de Dilma pelo Palácio do Planalto caracterizou-se por um
complexo insustentável de erros. Aliou-se ao fisiologismo, mas sem obter
com isso base parlamentar. Apostou no populismo, embora sem se
comunicar com o eleitorado. Adotou ares de competência, incorrendo em
falhas técnicas descomunais, e seguiu estratégias erráticas com férrea
teimosia.
Foi, ao que tudo indica, pessoalmente honesta e refratária ao toma lá dá cá, mas navegou sem remorsos num oceano de corrupção.
Não se trata, em todo caso, de um simples julgamento de sua conduta. O
modelo que Dilma representou com singular inabilidade provou-se
contraditório:
regressivo e cínico, enquanto se fazia de progressista e imaculado;
imobilista e acomodatício, enquanto se fazia de reformador e fiel a
princípios.
O retrato não corresponde apenas a Dilma Rousseff. É também o de Lula, é
o do PT, é o de tantos que, desde o mensalão, adiaram seu encontro com a
verdade.
Se deixaram um preocupante quadro de terra arrasada para Michel Temer
(PMDB), a conjuntura favorece, ironicamente, um clima de expectativas
que, em outras circunstâncias, o peemedebista teria dificuldades em
inspirar.
É logo nestes primeiros meses que se abre a oportunidade para tomar
medidas de amplo fôlego e indiscutível necessidade, tanto na área
econômica quanto no campo da reforma política.
Por outro lado, Temer chegará ao cargo sem respaldo popular. Dispõe de
expressiva maioria no Congresso, mas esta se marca por notórias
tendências ao fisiologismo; vários de seus aliados, além disso,
expõem-se às suspeitas e aos escândalos da Operação Lava Jato.
O afastamento de Dilma Rousseff não suspende o risco de novas crises. Só
o tempo responderá às incertezas que se colocam —e esse tempo nunca
pareceu tão curto. DO J.TOMAZ
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