Revelações do ex-deputado ao MP compõem documento de 132 páginas. Depoimento aguarda homologação pelo Supremo Tribunal Federal
Por Robson Bonin, na VEJA.com:
Entre todos os corruptos presos na
Operação Lava-Jato, o ex-deputado Pedro Corrêa é de longe o que mais
aproveitou o tempo ocioso para fazer amigos atrás das grades. Político à
moda antiga, expoente de uma família rica e tradicional do Nordeste,
Corrêa é conhecido pelo jeito bonachão. Conseguiu o impressionante feito
de arrancar gargalhadas do sempre sisudo juiz Sergio Moro quando, em
uma audiência, se disse um especialista na arte de comprar votos. Falou
de maneira tão espontânea que ninguém resistiu. Confessar crimes é algo
que o ex-deputado vem fazendo desde que começou a negociar um acordo de
delação premiada com a Justiça, há quase um ano. Corrêa foi o primeiro
político a se apresentar ao Ministério Público para contar o que sabe em
troca de redução de pena. Durante esse tempo, ele prestou centenas de
depoimentos. Deu detalhes da primeira vez que embolsou propina por
contratos no extinto Inamps, na década de 70, até ser preso e condenado a
vinte anos e sete meses de cadeia por envolvimento no petrolão, em
2015. Corrêa admitiu ter recebido dinheiro desviado de quase vinte
órgãos do governo. De bancos a ministérios, de estatais a agências
reguladoras – um inventário de quase quarenta anos de corrupção.
VEJA teve acesso aos 72 anexos de sua
delação, que resultam num calhamaço de 132 páginas. Ali está resumido o
relato do médico pernambucano que usou a política para construir fama e
fortuna. Com sete mandatos de deputado federal, Corrêa detalha esquemas
de corrupção que remontam aos governos militares, à breve gestão de
Fernando Collor, passando por Fernando Henrique Cardoso, até chegar ao
nirvana – a era petista. Ele aponta como beneficiários de propina
senadores, deputados, governadores, ex-governadores, ministros e
ex-ministros dos mais variados partidos e até integrantes do Tribunal de
Contas da União.
Além de novos personagens, Corrêa revela
os métodos. Conta como era discutida a partilha de cargos no governo do
ex-presidente Lula e, com a mesma simplicidade com que confessa ter
comprado votos, narra episódios, conversas e combinações sobre
pagamentos de propina dentro do Palácio do Planalto. O ex-presidente
Lula, segundo ele, gerenciou pessoalmente o esquema de corrupção da
Petrobras – da indicação dos diretores corruptos da estatal à divisão do
dinheiro desviado entre os políticos e os partidos. Corrêa descreve
situações em que Lula tratou com os caciques do PP sobre a farra nos
contratos da Diretoria de Abastecimento da Petrobras, comandada por
Paulo Roberto Costa, o Paulinho.
Uma das passagens mais emblemáticas,
segundo o delator, se deu quando parlamentares do PP se rebelaram contra
o avanço do PMDB nos contratos da diretoria de Paulinho. Um grupo foi
ao Palácio do Planalto reclamar com Lula da “invasão”. Lula, de acordo
com Corrêa, passou uma descompostura nos deputados dizendo que eles
“estavam com as burras cheias de dinheiro” e que a diretoria era “muito
grande” e tinha de “atender os outros aliados, pois o orçamento” era
“muito grande” e a diretoria era “capaz de atender todo mundo”. Os
caciques pepistas se conformaram quando Lula garantiu que “a maior parte
das comissões seria do PP, dono da indicação do Paulinho”. Se Corrêa
estiver dizendo a verdade, é o testemunho mais contundente até aqui
sobre a participação direta de Lula no esquema da Petrobras.
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