Enquanto não for deposta, esta senhora é chefe de governo e de estado e tem de se comportar com mais compostura
Coitada da
ainda presidente Dilma Rousseff! Antes, ela não juntava lé com cré. Com o
passar do tempo, passou a não juntar cré com lé. Não é só o PT que
decidiu sabotar o país. Também ela se dedica a esse nobre mister. Vou
insistir nesta tecla: esta senhora está cometendo novos crimes de
responsabilidade. Ao insistir que o processo de impeachment é golpe,
atenta contra seis dos sete Incisos do Artigo 85 da Constituição.
Na segunda,
ela concedeu uma quase-entrevista a jornalistas brasileiros; nesta
terça, foi a vez de a imprensa estrangeira ser contemplada com seu fino
pensamento. Entre outras delicadezas, disse isto:
“O Brasil
tem um veio que é adormecido, um veio golpista adormecido. Se
acompanharmos a trajetória dos presidentes do meu país, a partir de
Getúlio Vargas, vamos ver que o impeachment sistematicamente se tornou
instrumento contra os presidentes eleitos”.
É um
disparate típico da ignorância. De qual Getúlio está a falar? O da
primeira fase, por exemplo, deu dois golpes: o de 1930 — que a esquerda
passou a chamar “revolução” — e o de 1937. Como o ditador é herói dos
companheiros, ela certamente se refere ao segundo, que acabou dando um
tiro no próprio peito por vontade — ninguém a tanto o obrigou — e como
desdobramento da própria incapacidade de conviver com a democracia. Mas,
de novo, foi socorrido pelos historiadores de esquerda, e só seus
adversários passaram para a história como golpistas.
Ainda hoje, a
mistificação triunfante pretende enxergar duas linhas de continuidade
no país, que estariam em constante choque: a do suposto golpismo
udenista e a do suposto progressismo que seria caudatário justamente do
getulismo — embora Getúlio tenha sido o mais feroz ditador da República.
Um dia será preciso libertar também a historiografia do cerco da
empulhação.
Veio
adormecido do golpismo? O PT denunciou Itamar Franco e FHC por crime de
responsabilidade. Isso é apenas um fato. E não o fez porque convicto de
que tivessem mesmo violado a Constituição. Era só parte da luta
política. Era só coisa de golpista. É o mesmo espírito que levou o
partido a se negar a reconhecer a Constituição de 1988; a se opor à Lei
de Responsabilidade Fiscal; a combater as privatizações; a pôr a tropa
na rua contra a reforma da Previdência — isso tudo quando estava na
oposição e procurava inviabilizar o governo alheio.
Na situação,
o PT foi protagonista do mensalão, do dossiê dos aloprados de 2006, do
dossiê dos aloprados de 2010 e do petrolão. O primeiro e o quarto
escândalos — que são praticamente um só em tempos diferentes —
representam um assalto à institucionalidade propriamente. É o modo como o
PT entende a gerência do estado brasileiro. Os outros dois são práticas
asquerosas que buscam fraudar a vontade das urnas.
E é Dilma
que anuncia ao mundo o chamado “veio golpista”? A propósito: e as vezes
em que as esquerdas recorreram às armas no Brasil, inclusive as
organizações terroristas às quais Dilma serviu? Estávamos ou não diante
do tal “veio”? Ou será que almas golpistas são apenas aquelas que se
opõem a Dilma?
Sejamos mais
específicos: a má Dilma do passado ainda está na Dilma do presente. A
ditadura tornava pardos todos os gatos. Agora, cada gato é visto por
aquilo que é. E Dilma, dado o seu discurso, continua a odiar a
democracia.
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