Carlos Newton
Tribuna da Internet
Quando o ministro Teori Zavascki saiu de sua costumeira discrição para
avisar que “o pior ainda está por vir”, ele sabia exatamente o que
estava falando. E certamente o relator dos inquéritos da Lava Jato no
Supremo Tribunal Federal não se referia apenas ao senador Delcídio
Amaral, que recentemente passou a assinar “do Amaral” por questões
numerológicas, para ver se dava sorte, e o resultado foi desastroso. É
claro que Zavascki não estava se referindo a um ou outro peixes gordos
prestes a cair na rede, mas a um cardume deles.
O fato é que, de agora em diante, a Justiça passará a ser ainda mais
rigorosa, com a Segunda Turma do Supremo em pé de guerra pelas suspeitas
lançadas pelo líder do governo nas gravações obtidas pelo jovem
Bernardo Cerveró, que trabalha como ator, mas tem talento especial
também para a função de operador de áudio. Além disso, acostumado a
conviver com o pai, sabe enxergar com um olho no padre e o outro na
missa, se é que vocês me entendem, como dizia o genial jornalista Maneco
Muller.
Nestor Cerveró custou a conseguir a delação premiada. Foi uma
dificuldade. Nada do que relatava aos procuradores da força-tarefa da
Lava jato era considerado “novidade”. A negociação foi se prolongando
por meses a fio. Até que o filho Bernardo entrou na jogada da criação de
um “fato novo” capaz de motivar a delação. Como se viu esta semana, o
jovem ator teve um desempenho excepcional e merece, pelo menos, o Oscar
de Efeitos Especiais.
A partir do
sensacional envolvimento de Delcídio Amaral, a Lava Jato muda por
completo, porque fica completamente afastada a suposta possibilidade de
que nas instâncias superiores haja anulação de provas, como aconteceu
com o banqueiro Daniel Dantas na malograda operação Satiagraha, que
também investigava justamente desvio de verbas públicas, corrupção e
lavagem de dinheiro, vejam que nem sempre a História pode se repetir
como farsa. Nenhum tribunal vai dar moleza a esses criminosos do
colarinho branco. Habeas corpus, medida cautelar, mandado de segurança?
Nem pensar.
Outra consequência inevitável é que muitos executivos e empresários vão
seguir o exemplo de Nestor Cerveró e pedir o benefício da delação
premiada. O primeiro da fila é o ex-diretor de Serviços da Petrobras,
Renato Duque, grande colecionador de obras de arte. Há meses tenta fazer
delação premiada, mas os procuradores dizem que ele não tem provas
materiais. Pode ser que agora Duque enfim encontre como comprovar as
acusações.
A grande
dúvida é Marcelo Odebrecht, o arrogante delfim dos empreiteiros. Na CPI
da Petrobras ele descartou qualquer hipótese de fazer acordo,
vangloriando-se de ensinar as filhas a não delatarem os malfeitos das
outras e ironizando quem trai os cúmplices para se livrar da pena. Ele
está prestes a ser condenado. Dizem que a primeira sentença sai antes do
Natal.
Quando Marcelo foi preso, o patriarca Emilio Odebrecht deu declarações
ameaçadoras, recomendando que o governo deveria construir três celas,
uma para ele próprio, as outras para Lula e Dilma. Como se dizia
antigamente, promessa é dívida. De toda forma, com ou sem delação da
família Odebrecht, vai se confirmar o vaticínio de Zavascki. O pior
ainda está mesmo por vir. DO HORACIOCB
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