Natuza Nery, Gabriel Mascarenhas, Andréia Sadi eMárcio Falcão e Aguirre Talento - Folha.com
Os senadores Fernando Collor de Mello (PTB-AL), Ciro Nogueira (PP-PI) e
Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), além do deputado federal Eduardo da
Fonte (PP-PE) e do ex-ministro Mário Negromonte (PP-BA), foram alvos de
nova fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira (14).
A BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras, também foi alvo da operação.
A Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão nas residências
de Collor em Brasília e em Alagoas. Os policiais também foram à TV
Gazeta,afiliada da TV Globo no Estado nordestino, que pertence à família
de Collor; ele é um dos principais acionistas.
O ex-presidente foi citado na delação premiada do doleiro Alberto
Youssef como um dos beneficiários do esquema de corrupção na Petrobras.
Ele também foi citado pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa, em seu
depoimento à Justiça.
Outro citado por Pessoa foi Ciro Nogueira, que é presidente nacional do PP.
O empreiteiro afirma ter pago R$ 20 milhões a Collor entre 2010 e 2012
em troca da influência do senador em negócios com a BR Distribuidora e
R$ 2 milhões a Nogueira. O senador do PP também foi citado pelo
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em delação premiada.
Segundo a Folha apurou, os policiais foram à distribuidora da Petrobras
atrás de documentos que possam ligar a companhia de distribuição a casos
de corrupção delatados pelo doleiro Youssef e outros presos da Lava
Jato.
A PF também esteve em um escritório ligado a da Fonte em Recife, e
Negromonte, hoje conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da
Bahia, foi alvo de buscas na Bahia.
Ao todo, a polícia cumpre nesta terça 53 mandados de busca e apreensão
expedidos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal Teori Zawascki,
Celso de Mello e Ricardo Lewandowski, referentes a seis processos
instaurados a partir de provas obtidas na Operação Lava Jato. Não há
prisões previstas.
BUSCAS DA OPERAÇÃO LAVA JATO
PF cumpre 53 mandatos pelo país. Veja os Estados
APREENSÃO DE BENS
As buscas ocorrem na residência de investigados, em seus endereços
funcionais, sedes de empresas, em escritórios de advocacia e órgãos
públicos.
Em nota divulgada nesta terça, o procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, afirmou que a operação tem como objetivo garantir a apreensão de
bens adquiridos com supostas práticas criminosas.
"As medidas são necessárias ao esclarecimento dos fatos investigados no
âmbito do STF, sendo que algumas se destinaram a garantir a apreensão de
bens adquiridos com possível prática criminosa e outras a resguardar
provas relevantes que poderiam ser destruídas caso não fossem
apreendidas", afirmou o procurador-geral.
Segundo ele, as medidas ora executadas refletem uma atuação firme e
responsável do Ministério Público Federal em busca dos esclarecimentos
dos fatos.
Segundo a Folha apurou, as ações atingem políticos com mandato; alguns deles atuam no Congresso Nacional.
Essa operação –considerada uma "filhote" da Lava Lato– chama-se Politeia
e refere-se aos inquéritos que correm no STF e envolvem suspeitos com
foro privilegiado. Por isso não estão na Justiça Federal no Paraná, em
Curitiba, onde fica o QG das investigações sobre os desvios na
Petrobras.
Politeia é o nome dado pelo filósofo ateniense Platão (428/27
a.C.-348/47 a.C.) à ideia de uma cidade em que as virtudes éticas
deveriam imperar sobre a corrupção, como citado em seu clássico "A
República".
Cerca de 250 policiais federais participam da ação.
Alan Marques - 26.jan.2011/Folhapress
O ex-ministro Mario Negromonte (PP), atual conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia
OUTRO LADO
Advogado de Ciro Nogueira, Antonio Carlos de Almeida Castro diz que a
busca era desnecessária. "O Senador se colocou à disposição, ofereceu
seus sigilos, prestou depoimento. Infelizmente no Brasil de hoje os atos
invasivos passam a ser a regra", disse.
A assessoria de Negromonte confirmou o cumprimento de mandado de busca e
apreensão em sua residência, em Salvador, mas não comentou.
Em nota, o senador Fernando Bezerra (PSB-PE) disse que sempre esteve à
disposição para colaborar com as investigações e "fornecer todas as
informações que lhe forem demandadas; inclusive, de documentos que
poderiam ter sido solicitados diretamente ao senador, sem qualquer
constrangimento". O parlamentar diz ainda que "aguarda o momento de seu
depoimento e reitera sua confiança no pleno esclarecimento dos fatos."
A reportagem ainda não conseguiu contato com a defesa de Collor, que sempre negou as acusações, nem de Eduardo da Fonte.
*
O QUE PESA SOBRE OS SUSPEITOS
INVESTIGADO | SUSPEITA | O QUE DISSE COSTA | O QUE DISSE YOUSSEFF |
---|---|---|---|
Ciro Nogueira (PP-PI) | Após Ciro Nogueira assumir a liderança do partido, reuniu-se com ele e outros líderes do partido num hotel no Rio, em janeiro de 2012. Aguinaldo Ribeiro, Arthur Lira e Eduardo da Fonte participaram da reunião. Disseram que haviam perdido a confiança em Alberto Youssef e que outra pessoa passaria a ser responsável pela distribuição do dinheiro da propina. Não soube dizer quem. Passou a decidir a divisão do dinheiro após assumir o comando do partido | Recebia pagamentos mensais do esquema e era um dos líderes que decidiam como distribuir os recursos no PP | Assumiu a liderança do partido após a rebelião contra Mario Negromonte no PP. Participou de reunião com Paulo Roberto Costa em que o PP comunicou o afastamento de Youssef |
Fernando Collor de Melo (PTB-AL) | Recebeu pagamentos frequentes do esquema, incluindo propina cobrada num contrato da BR Distribuidora | – | Fez depósitos e entregou dinheiro a Collor a pedido de Pedro Paulo Leoni Ramos, em São Paulo e Alagoas. Houve entregas de R$ 200 mil a R$ 300 mil em espécie. Um funcionário de Youssef recolheu R$ 3 milhões em postos de combustível de uma rede da qual o BTG era sócio e que mudou para a bandeira da BR Distribuidora. O PP recebeu propina de US$ 2 milhões em Hong Kong por ter apoiado essa transação |
Eduardo da Fonte (PP-PE) | Recebia pagamentos mensais do esquema e articulou um pagamento de R$ 10 milhões ao PSDB para barrar uma CPI sobre a Petrobras em 2010 | Em 2010, reuniu-se com Eduardo da Fonte e o tucano Sérgio Guerra para acertar um repasse de R$ 10 milhões para o PSDB para impedir uma CPI sobre a Petrobras. Pediu o dinheiro para Ildefonso Colares, da Queiroz Galvão, que depois disse ter feito o pagamento. O valor foi abatido das comissões destinadas ao PP | Apontou Fonte como um dos deputados que recebiam de R$ 30 mil a R$ 150 mil por mês e que o deputado, com Ciro Nogueira, cooptaram Sérgio Guerra para barrar a CPI e ficaram com uma parte dos R$ 10 milhões. Fernando Baiano fez o pagamento com dinheiro da Queiroz Galvão |
Mário Negromonte (PP-BA) | Recebia pagamentos mensais do esquema e era um dos líderes que decidiam como distribuir os recursos no PP. Recebeu R$ 5 milhões na campanha de 2010 | Recebeu R$ 5 milhões do esquema em 2010. Recebia repasses de Youssef e passou a definir a divisão do dinheiro no partido após a morte de José Janene (PP-PR), quando assumiu a liderança do PP | Recebia percentual das comissões destinadas ao PP. Usou dinheiro do esquema para pagar aviões que usou como ministro das Cidades. Foi ao escritório da GFD buscar comissões pessoalmente. Após a morte de Janene, provocou divisão do partido ao reduzir repasses a deputados. Fez entregas de dinheiro para Negromonte em Salvador e Brasília. O deputado recebia entre R$ 250 e R$ 500 mil por mês |
Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) | Recebeu R$ 20 milhões do esquema para a campanha de Eduardo Campos em 2010 | Em 2010, quando era secretário de Desenvolvimento de Pernambuco, Bezerra pediu a Youssef R$ 20 milhões para a campanha de Eduardo Campos à reeleição. Soube por Youssef, que depois lhe confirmou a entrega dos recursos | Não falou sobre a contribuição que teria sido solicitada por Bezerra, mas disse que ele pode ter recebido propina para resolver problemas que ameaçavam prejudicar as obras da refinaria Abreu e Lima |
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