Algumas
revoltas se tornaram famosas no Brasil. Há, por exemplo, a Guerra dos
Mascates, que opôs, em 1710 e 1711, senhores de engenho de Olinda e
comerciantes portugueses de Recife, chamados, pelos adversários, de
“mascates”. Houve a “Revolta dos Alfaiates”, ou Conjuração Baiana, de
1798, um movimento de caráter emancipatório e republicano, influenciado
pela Revolução Francesa. O país assistiu, em 1835, até a uma revolta que
misturava a luta contra a escravidão com questão religiosa: a Revolta
dos Malês, em Salvador, liderada por escravos muçulmanos. Cito apenas
três movimentos entre muitos ocorridos no Brasil colonial ou já
independente. Em 2015, nem mascates, nem alfaiates, nem malês!
Assistimos, nestes dias, à inédita “Revolução dos Coxinhas”.
Não há por
que fugir do rótulo. Ao contrário: que seja este um traço a unir os
manifestantes. “Eu sou co-xi-nha/ com mui-to or-gu-lho/ com mui-to
a-mo-or.”
O coxinha trabalha? Viva o coxinha!
O coxinha estuda? Viva o coxinha!
O coxinha gera os impostos que viram caridade pública? Viva o coxinha!
O coxinha não gosta que lhe batam a carteira? Viva o coxinha!
O coxinha quer pagar menos imposto? Viva o coxinha!
O coxinha é contra a violência? Viva o coxinha!
O coxinha é contra a depredação de patrimônio público? Viva o coxinha!
O coxinha é contra o ataque à propriedade privada? Viva o coxinha!
O coxinha estuda? Viva o coxinha!
O coxinha gera os impostos que viram caridade pública? Viva o coxinha!
O coxinha não gosta que lhe batam a carteira? Viva o coxinha!
O coxinha quer pagar menos imposto? Viva o coxinha!
O coxinha é contra a violência? Viva o coxinha!
O coxinha é contra a depredação de patrimônio público? Viva o coxinha!
O coxinha é contra o ataque à propriedade privada? Viva o coxinha!
Os
coxinhas, ao longo da história, fizeram a riqueza das nações. Geraram os
excedentes que permitiram à humanidade ir além do reino da necessidade.
Já os utopistas deram à luz todas as ideias que matam muitos milhões —
de direita ou de esquerda. E antes ainda que essa terminologia pudesse
ser empregada.
Atenção,
meus caros! A Revolução dos Coxinhas — uma revolução sem armas — é hoje
majoritária porque expressa a vontade da esmagadora maioria dos
brasileiros. Mas ela também é contramajoritária porque é alvo da fúria
dos aparelhos ideológicos e de pensamento dominados pelas esquerdas.
Onde é que
os manifestantes, os “coxinhas”, mais apanham hoje em dia? Na academia,
especialmente nas universidades públicas, que concentram a suposta
elite intelectual do país. Também é grande o rancor contra os
manifestantes em setores importantes da imprensa. Hoje, até jornalistas
se dedicam a uma espécie de “caça às bruxas da direita”, que estariam
estimulando os protestos.
E, no
entanto, pergunto: que grande ofensa à democracia está nas ruas?
Grupelhos sem nenhuma importância, que defendem um governo militar, são
vaiados pelos coxinhas em cena aberta. O que as esquerdas não suportam é
que muitos milhares, milhões talvez, possam ocupar o espaço público e
pedir democracia e moralidade vestindo as cores nacionais, sem portar as
tradicionais bandeiras vermelhas das esquerdas, que democráticas nunca
foram porque a esquerda, a esquerda de verdade, nunca quis democracia — a
menos que alguém me exiba um texto teórico em que um esquerdista
autêntico defenda o regime democrático.
É a direta
que está na rua? Aqui já se disse: são as pessoas direitas, inclusive
as de direita — e com todo o direito de sê-lo, a menos que alguém me
cite um fundamento da Constituição e das leis que evidenciem que as ruas
são um monopólio das esquerdas.
Os que
trabalham cansaram de ser governados por aqueles que só pensam em
distribuir o fruto do esforço alheio. Uma distribuição que não busca
fazer justiça social, mas alimentar um aparelho partidário que tenta se
impor na base do grito e da trapaça — inclusive a eleitoral.
Os
coxinhas vão hoje às ruas contra a pregação de intelectuais, contra a
pregação dos aparelhos universitários, contra a pregação esquerdista de
boa parte da imprensa — que o petismo ainda tem o topete de chamar de
“golpista” para justificar o financiamento da pistolagem dos blogs
sujos, confessado por um documento da Secom.
Esses tais
coxinhas, em suma, formam hoje a maioria do povo brasileiro, mas são
tratados como seres desprezíveis, crias do reacionarismo, ignorantes
rematados que estariam preocupados apenas em proteger seus privilégios —
como se a defesa do mérito e do esforço significasse uma agressão aos
direitos humanos.
O dia 12
de abril vem por aí. Outro domingo! É que os coxinhas trabalham e
estudam nos demais dias da semana. Não recebem pensão de partido. Não
estão no comando de nenhuma ONG ligada à legenda. Não ocupam cargo
público por indicação política. Não compõem a diretoria de aparelhos
sindicais. Não vivem do leite de pata que alimenta os ditos movimentos
sociais.
Dilma pode
dar um murro na mesa e ordenar que os petistas façam seus milicianos
enfiar a viola no saco, deixando a democracia correr livre, leve e
solta, sem hostilidades desnecessárias. Ou pode deixar que os
companheiros, mais uma vez, tenham a ideia asnal de promover seu
“antiato” antes do ato. Nesse caso, quem sabe estimulem a reunião não de
dois milhões de coxinhas, mas de quatro milhões…
O petista
André Singer vê na rua a “nova direita” e diz tratar-se de uma “reação”
ao lulismo. Entendo: ele não consegue pensar fora da camisa de força da
dialética, a dama de honra de todo esquerdista errado. Singer ainda não
aprendeu que, para que assim fosse, os que agora se manifestam
precisariam ter construído uma “contrautopia” para se opor à do petismo.
Ocorre que pessoas saudavelmente conservadoras — e os coxinhas são
saudavelmente conservadores — não têm utopia nenhuma que não seja um
governo eficiente, honesto e que não encha o seu saco.
O diabo é
que o governo do PT não é eficiente, não é honesto e enche o saco! No
mundo lulocêntrico de Singer, Lula cria até a sua própria contradição.
Que coisa triste!
Não sei
quantas pessoas haverá nas ruas no dia 12. Não fiz previsões antes e não
farei agora. Uma coisa eu sei: os coxinhas vieram para ficar. Contra a
vontade da academia. Contra a vontade da imprensa esquerdizada. Contra a
vontade dos que achavam que o assalto ao estado brasileiro coincidia
com o fim da história e que nada mais de novo iria acontecer.
Vai acontecer. Já está acontecendo! Pra cima com a viga, coxinhas!
Texto publicado originalmente às 4h43
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